São Paulo, Quinta-feira, 20 de Maio de 1999
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CONSUMO
Associação do setor prevê fechamento, até o final do ano, de 20% dos 100 mil estabelecimentos na Grande SP
Crise fecha bares e restaurantes em SP

FÁTIMA FERNANDES
da Reportagem Local

O corte da cervejinha no bar da esquina depois do expediente e do almoço fora de casa, especialmente nos finais de semana, está provocando o fechamento de bares e restaurantes em São Paulo.
Dos mais tradicionais aos mais novos da cidade, são raros os estabelecimentos que comercializam petiscos, refeições e bebidas que escapam hoje de dificuldades.
A Associação de Bares e Restaurantes Diferenciados (Abredi) estima que existem hoje na Grande São Paulo cerca de 100 mil desses estabelecimentos, e 20% devem fechar as portas até o final do ano.
Nos cálculos do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de São Paulo, são cerca de 90 mil estabelecimentos na Grande São Paulo e, desde o início do Plano Real, esse número vem caindo 2,5% ao ano. "O poder aquisitivo caiu e o desemprego é grande", diz Nelson de Abreu Pinto, presidente.
A situação não é diferente no resto do país. Pelo levantamento da Abredi, existem cerca de 756 mil bares e restaurantes no Brasil. O faturamento médio do setor, estimado em US$ 7,5 bilhões por mês, caiu 40% nos últimos cinco anos e já está 20% inferior ao patamar considerado histórico.
Um ano depois do Plano Real, segundo a Abredi, os bares e restaurantes viveram o auge. Cada estabelecimento tinha em média seis empregados -hoje são quatro-, totalizando 6 milhões de funcionários no país. Hoje são cerca de 3 milhões, estima a associação.
"A queda do poder aquisitivo da classe média e do nível de emprego leva o consumidor a cortar os gastos em restaurantes e bares. A crise se intensificou neste ano", diz Percival Maricato, vice-presidente da Abredi e dono do Danton, Bar Avenida e Cervejaria Continental.
O Danton, restaurante francês, com 14 anos, já teve 14 empregados. Hoje tem nove. A margem de lucro, que variava de 15% a 20%, não passa de 10%. "Se aparecer uma boa proposta, vendo o restaurante", diz Maricato.
Um dos primeiros botequins de luxo do Jardins, o Supremo, também enfrenta dificuldades. Durante seis anos, de 85 a 91, Roberto Matarazzo Suplicy, um dos sócios do bar, não tinha do que reclamar. A casa estava sempre cheia. Margem de lucro: 25%.
"Hoje está por volta de 10% a 15%. A frequência diminuiu, os custos subiram e a concorrência aumentou. Os restaurantes que vendem comida por quilo proliferaram", diz Matarazzo Suplicy, que também é sócio do Filomena.
No Filomena, restaurante francês, a estratégia foi reduzir o quadro de funcionários de 45 para 28 e excluir pratos do cardápio, como os que são à base de salmão. "Tínhamos um escritório fora do restaurante. Agora, funciona onde era o vestiário feminino."
Geraldo Magela, dono do Consulado Mineiro, tem saudades de um ano atrás, quando a casa vivia cheia.
O faturamento do restaurante era da ordem de R$ 150 mil por mês. Atualmente, gira em torno de R$ 80 mil. "Há dois anos não mexemos em preços."
Magela também é dono do Expirito Capixaba, restaurante que deu prejuízo de R$ 25 mil em janeiro e fevereiro. "Vamos esperar até a virada do ano. Se não melhorar o movimento, vamos fechar o restaurante", afirma.

Prefeitura
Além da queda no movimento, segundo os donos de bares e restaurantes, não é possível repassar os aumentos de custos, decorrentes da alta do dólar. E mais: os investimentos para se adequar às exigências sanitárias e de construção, dizem, não param, pois a fiscalização da Prefeitura é contínua.
Luiz Antonio Colombo Jonke, diretor do Departamento de Inspeção Municipal de Alimentos, diz que o departamento está nos últimos dois a três anos só atendendo às denúncias. "Hoje, o consumidor é mais exigente. Recebemos de 30 a 40 queixas de consumidores diariamente e procuramos atendê-las em 72 horas."
Quando o Departamento de Inspeção detecta falta de higiene num bar ou restaurante, diz, é feita a interdição do estabelecimento e a autuação. O restaurante só pode ser aberto depois de resolver o problema. As multas, dependendo do caso, são de R$ 95, R$ 234 e R$ 468.
Os donos de restaurantes dizem que há exageros na fiscalização. Eles alegam que alguns fiscais "cismam" com determinados estabelecimentos, que precisam constantemente investir em reformas ou equipamentos. "Hoje, a prioridade é atender às denúncias dos consumidores. Quando o estabelecimento oferece risco, ele é interditado e autuado", diz Jonke.


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