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CONSUMO
Associação do setor prevê fechamento, até o final do ano, de 20% dos 100 mil estabelecimentos na Grande SP
Crise fecha bares e restaurantes em SP
FÁTIMA FERNANDES
da Reportagem Local
O corte da cervejinha no bar da
esquina depois do expediente e do
almoço fora de casa, especialmente nos finais de semana, está provocando o fechamento de bares e
restaurantes em São Paulo.
Dos mais tradicionais aos mais
novos da cidade, são raros os estabelecimentos que comercializam
petiscos, refeições e bebidas que
escapam hoje de dificuldades.
A Associação de Bares e Restaurantes Diferenciados (Abredi) estima que existem hoje na Grande
São Paulo cerca de 100 mil desses
estabelecimentos, e 20% devem fechar as portas até o final do ano.
Nos cálculos do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de São Paulo, são cerca de 90
mil estabelecimentos na Grande
São Paulo e, desde o início do Plano Real, esse número vem caindo
2,5% ao ano. "O poder aquisitivo
caiu e o desemprego é grande", diz
Nelson de Abreu Pinto, presidente.
A situação não é diferente no resto do país. Pelo levantamento da
Abredi, existem cerca de 756 mil
bares e restaurantes no Brasil. O
faturamento médio do setor, estimado em US$ 7,5 bilhões por mês,
caiu 40% nos últimos cinco anos e
já está 20% inferior ao patamar
considerado histórico.
Um ano depois do Plano Real, segundo a Abredi, os bares e restaurantes viveram o auge. Cada estabelecimento tinha em média seis
empregados -hoje são quatro-,
totalizando 6 milhões de funcionários no país. Hoje são cerca de 3
milhões, estima a associação.
"A queda do poder aquisitivo da
classe média e do nível de emprego
leva o consumidor a cortar os gastos em restaurantes e bares. A crise
se intensificou neste ano", diz Percival Maricato, vice-presidente da
Abredi e dono do Danton, Bar
Avenida e Cervejaria Continental.
O Danton, restaurante francês,
com 14 anos, já teve 14 empregados. Hoje tem nove. A margem de
lucro, que variava de 15% a 20%,
não passa de 10%. "Se aparecer
uma boa proposta, vendo o restaurante", diz Maricato.
Um dos primeiros botequins de
luxo do Jardins, o Supremo, também enfrenta dificuldades. Durante seis anos, de 85 a 91, Roberto
Matarazzo Suplicy, um dos sócios
do bar, não tinha do que reclamar.
A casa estava sempre cheia. Margem de lucro: 25%.
"Hoje está por volta de 10% a
15%. A frequência diminuiu, os
custos subiram e a concorrência
aumentou. Os restaurantes que
vendem comida por quilo proliferaram", diz Matarazzo Suplicy,
que também é sócio do Filomena.
No Filomena, restaurante francês, a estratégia foi reduzir o quadro de funcionários de 45 para 28 e
excluir pratos do cardápio, como
os que são à base de salmão. "Tínhamos um escritório fora do restaurante. Agora, funciona onde era
o vestiário feminino."
Geraldo Magela, dono do Consulado Mineiro, tem saudades de um
ano atrás, quando a casa vivia
cheia.
O faturamento do restaurante
era da ordem de R$ 150 mil por
mês. Atualmente, gira em torno de
R$ 80 mil. "Há dois anos não mexemos em preços."
Magela também é dono do Expirito Capixaba, restaurante que deu
prejuízo de R$ 25 mil em janeiro e
fevereiro. "Vamos esperar até a virada do ano. Se não melhorar o
movimento, vamos fechar o restaurante", afirma.
Prefeitura
Além da queda no movimento,
segundo os donos de bares e restaurantes, não é possível repassar
os aumentos de custos, decorrentes da alta do dólar. E mais: os investimentos para se adequar às
exigências sanitárias e de construção, dizem, não param, pois a fiscalização da Prefeitura é contínua.
Luiz Antonio Colombo Jonke,
diretor do Departamento de Inspeção Municipal de Alimentos, diz
que o departamento está nos últimos dois a três anos só atendendo
às denúncias. "Hoje, o consumidor
é mais exigente. Recebemos de 30 a
40 queixas de consumidores diariamente e procuramos atendê-las
em 72 horas."
Quando o Departamento de Inspeção detecta falta de higiene num
bar ou restaurante, diz, é feita a interdição do estabelecimento e a
autuação. O restaurante só pode
ser aberto depois de resolver o problema. As multas, dependendo do
caso, são de R$ 95, R$ 234 e R$ 468.
Os donos de restaurantes dizem
que há exageros na fiscalização.
Eles alegam que alguns fiscais "cismam" com determinados estabelecimentos, que precisam constantemente investir em reformas ou
equipamentos. "Hoje, a prioridade
é atender às denúncias dos consumidores. Quando o estabelecimento oferece risco, ele é interditado e autuado", diz Jonke.
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