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ARTIGO
Cinco motivos de preocupação sobre o crescimento global
AMITY SHLAES
DO "FINANCIAL TIMES"
A crescente perspectiva de
uma desaceleração global será notícia nas próximas semanas.
Mas que tipo de notícia? Muitos
veículos da mídia financeira estão
tratando o declínio como uma
simples fábula de mercados, lucros corporativos e personalidades econômicas. Na sexta-feira,
por exemplo, quando a Nasdaq
terminou sua pior semana deste
ano, comentaristas da imprensa e
da televisão americana se concentraram em fazer autópsias das demissões na Nortel e em atacar o
presidente da General Electric,
Jack Welch, por ter fracassado em
melhorar o relacionamento com a
Comissão Européia.
Na superfície, esse enfoque para
os negócios parece fazer sentido.
Os preços das ações da internet
estavam altos demais. As previsões e os lucros das empresas realmente influenciam os movimentos do mercado. Mas subjacente a
essas previsões e relatórios de lucros há outra força ainda mais importante. São as políticas promulgadas pelos governos.
Cada vez que os governos mudam as políticas também redefinem a curva de crescimento global, mesmo que ligeiramente. "Os
mercados são um espelho da política, e não o inverso", diz Brian
Wesbury, economista da Griffin,
Kubik, Stephens and Thompson,
de Chicago.
E pode-se argumentar que o último mês teve algumas notícias
políticas muito prejudiciais. O argumento é sobre o livre mercado:
qualquer coisa que atrapalhe o
crescimento é considerada negativa. Nem todo mundo concorda
com isso. Mas, se o crescimento é
nosso objetivo máximo, podemos
indicar pelo menos cinco fatos de
políticas públicas que representam problemas, por mais que pareçam não se relacionar entre si.
Protestos
Para começar, os protestos de
rua contra a oposição do presidente George W. Bush ao Protocolo de Kyoto. Na visão americana, eles pareciam ratificar a desaprovação dos líderes europeus à
posição de Bush. De modo geral
está ficando cada vez mais claro
que ambos os lados devem se preparar para longas batalhas e, por
outro lado, que provavelmente
surgirá alguma forma de regulamentação coordenada sobre os
gases de efeito estufa que inclua os
Estados Unidos. Já que todo
mundo, das autoridades da União
Européia aos fabricantes de carros japoneses, acredita que essa
regulamentação global vai reduzir o ritmo de crescimento das
empresas e das economias, é uma
má notícia.
Fusão
A segunda nuvem no horizonte
é a decisão do comissário europeu
Mario Monti de bloquear a fusão
gigante entre a GE e a Honeywell.
Quando ficou claro que o casamento não teria a bênção de
Monti, a televisão americana se
concentrou no prejuízo para o
preço das ações da Honeywell e
em seu "efeito marola". Mas a
queda dos títulos ligados à GE na
semana passada não foi simplesmente um "resfriado dos mercados". Mesmo se admitirmos que a
ação de Monti nesse caso é algo
que promove a eficiência, o precedente que ele abriu perturbará os
que consideravam a Europa uma
nova fronteira para o crescimento. Monti está indicando que a
Europa unificada usará seu poder
de guarda de maneira agressiva
ainda mais agressiva que a das autoridades antitruste dos Estados
Unidos.
Em outras palavras, na nova
economia global haverá mais avaliações quando as empresas desejarem se racionalizar, e não menos. Essa é uma notícia especialmente ruim durante uma recessão, quando as empresas precisam de margem de manobra extra para navegar, e não de regulamentação extra.
Reino Unido
O terceiro golpe foi a recente
eleição no Reino Unido. A cobertura dessa notícia se concentrou
na avalanche trabalhista, o novo
impulso que ela deu ao futuro político de certos concorrentes de
William Hague, o líder conservador derrotado. Gurus em todo o
espectro político insistem em que
a eleição não foi um referendo sobre política econômica.
Mas esses observadores não levaram em conta dois fatos. O primeiro é que nenhum partido
apresentou um plano coerente
para melhorar a competitividade
relativa do Reino Unido. O primeiro-ministro, Tony Blair, e
Gordon Brown, seu ministro das
Finanças, correram para retificar
isso com um "programa de competitividade" que inclui um valioso plano para cortar os impostos
sobre ganhos de capital.
Mas a vitória da Europa pró-trabalhista aumenta a probabilidade
de que o Reino Unido, com seu
mercado relativamente livre, permita ser absorvido por um continente menos voltado para a liberdade. O fato de que a libra não saltou de alegria depois da boa notícia de Blair mostrou que os mercados continuam preocupados
com o fator Europa.
Japão
O quarto elemento na paisagem
sombria é a decepção de Junichiro Koizumi, o novo primeiro-ministro japonês. Koizumi era relativamente desconhecido na época
da eleição -daí a obsessiva atenção inicial pelo seu penteado. Mas
os observadores esperavam que
ele apoiasse uma terapia de choque monetária ou fiscal para a
economia paralisada do Japão.
Mas ficou claro que Koizumi simplesmente praticará a mesma velha austeridade.
A chave, ele chegou a dizer, "será o governo convencer o público
a suportar a dor". Ele ainda pode
surpreender o mundo e salvar o
Japão, mas seu comportamento
até agora sugere para os adeptos
do livre mercado que aumentou a
probabilidade de o Japão emperrar o crescimento global.
Senado dos EUA
A quinta nuvem no céu é a transição no Senado dos EUA. Ela
custou ao governo Bush um ano e
meio (o período até a próxima
eleição legislativa) em que ele poderia ter defendido energicamente medidas de crescimento. Com
um Senado democrata, a equipe
de Bush é obrigada a fazer concessões anticrescimento, como sua
recente decisão de proteger os
produtores de aço.
Nem todo mundo concordaria
com meus cinco pontos. Alguém
poderia até fazer meu argumento
pela esquerda, em que o objetivo,
em vez de crescimento, poderia
ser a igualdade social ou a legislação ambiental. Desse ponto vantajoso, as coisas acabam de ficar
mais cor-de-rosa.
A questão aqui, porém, é que
nenhum dos lados está absorve a
lição política. Até agora, a única
reação do Congresso ao declínio
econômico foram sessões de censura aos analistas de ações tecnológicas, como se atacar a indústria
pudesse fazer os preços das ações
da internet voltar a subir.
Se esses touros nos enganaram,
também nos enganamos. Na economia, como na vida, só se acha
sabedoria quando se procura.
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