São Paulo, quarta-feira, 20 de junho de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MERCADO TENSO

Perdas para Tesouro no ano já equivalem a quase metade do prejuízo sofrido com a maxidesvalorização de 99

Dólar e juro altos dão prejuízo de R$ 48 bi

ALEX RIBEIRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O prejuízo causado pela alta do dólar e aperto nos juros já gira em torno de R$ 48 bilhões neste ano, cifra que equivale a quase metade das perdas sofridas pelos cofres públicos na maxidesvalorização do real de 12 de janeiro até 26 de fevereiro de 1999, período mais grave da mudança do câmbio.
A estimativa é feita com parâmetros conservadores, fornecidos por técnicos da Secretaria do Tesouro Nacional. Pelos seus cálculos, cada alta de 1% na taxa de câmbio provoca um aumento de R$ 1,7 bilhão na dívida pública.
A exemplo do que ocorreu na máxi de 1999, boa parte dos prejuízos do Tesouro Nacional está se traduzindo em lucros para os bancos. No primeiro trimestre, o conjunto dos bancos lucrou R$ 3,093 bilhões, segundo balancetes divulgados pelo Banco Central -uma alta de 11,5% em relação ao mesmo período do ano anterior. Os dados de abril e maio ainda não foram divulgados.
A maior fonte de prejuízos para o Tesouro são os títulos cambiais -papéis emitidos pelo governo que pagam ao investidor a variação da cotação do dólar mais juros definidos em leilão. Essa é também uma fonte de lucros para bancos.
Em abril, havia no mercado R$ 108,165 bilhões em NBCEs (Notas do Banco Central - Série Especial), o principal papel cambial emitido pelo governo. Grosso modo, quando a cotação do dólar sobe 1%, o governo fica devendo R$ 1 bilhão a mais para os detentores desses papéis.
Como o dólar já subiu 26% neste ano, a perda para os cofres públicos chega a R$ 26 bilhões, caso a taxa de câmbio não recue. A maior parte dessa receita vai para os bancos estrangeiros, que em abril passado tinham 21,1% das NBCEs em poder do público. Esses papéis cambiais deram aos bancos estrangeiros uma receita estimada em R$ 5,5 bilhões.
Bancos comerciais nacionais têm 18,4% dos papéis cambiais. A crise do dólar está gerando para eles uma receita de cerca de R$ 4,8 bilhões nestes seis primeiros meses do ano.

Prejuízo nos juros
Além dos papéis cambiais, a alta do dólar também é sentida na dívida externa do governo. O débito é pago em dólares, mas toda a contabilidade é feita em reais, pois o governo recolhe impostos em moeda nacional para honrar seus compromissos dentro e fora do país.
A alta de 26% na cotação do dólar provoca uma expansão de R$ 44,2 bilhões na dívida externa e em papéis cambiais. No pico da desvalorização do real, em fevereiro de 1999, o prejuízo chegou a R$ 106 bilhões.
O governo também está perdendo com as altas nas taxas de juros -promovidas, principalmente, para conter a pressão inflacionária causada pela disparada da cotação da moeda norte americana.


Texto Anterior: Trecho
Próximo Texto: BC deve intervir menos no dólar, acredita Malan
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.