São Paulo, quarta-feira, 20 de junho de 2001

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INTEGRAÇÃO

Reunião de cúpula do bloco, que começa amanhã, terá as presenças dos presidentes da Venezuela e de Moçambique

Apesar de crise, Mercosul atrai interessados

DA REDAÇÃO

Mesmo mergulhado na mais grave crise de seus dez anos de vida, o Mercosul ainda consegue ser um pólo de atração, como o atesta a cúpula do bloco a se realizar em Assunção a partir de amanhã.
A ela comparecerão, além dos presidentes dos quatro países integrantes do Mercosul e dos presidentes dos dois países associados ao bloco (Bolívia e Chile), visitantes externos interessados em uma aproximação.
São o presidente moçambicano, Joaquim Chissano, e o da Venezuela, Hugo Chávez.
Chávez, aliás, formalizou em maio o pedido para ingressar como associado (um passo aquém de membro-pleno).
José Antonio Moreno Rafanelli, chanceler paraguaio e, como tal, anfitrião da cúpula, diz que o pedido venezuelano "será um dos temas centrais" da reunião de Assunção.

Relevância política
As presenças de Chissano e de Chávez dão bem uma idéia da dimensão política do Mercosul, mais sólida do que a comercial, pelo menos no momento.
É justamente o Brasil o país que se empenha no fortalecimento político do bloco, o que acaba por criar uma contradição com seus parceiros, como analisa Francisco Panizza, especialista em América Latina da London School of Economics:
"Atualmente, o Mercosul tem mais importância política do que econômica para o Brasil, com vista às negociações da Alca, mas para seus sócios é exatamente o contrário. Eles têm necessidade de voltar a entrar no mercado brasileiro para reavivar suas economias em crise".
Reforça Mahrukh Doctor, pesquisador em economia política internacional do Centro de Estudos Brasileiro da Universidade britânica de Oxford:
"O nó da questão é que o Brasil vê o Mercosul como um veículo estratégico e político para aumentar sua influência e prestígio internacionais, ao passo que seus três parceiros o vêem de maneira mais limitada, como um projeto econômico para sustentar o desenvolvimento".
Não é o único nó, como aponta Juan Manuel Ramírez Cendrero, especialista da Universidade Complutense de Madri. "O Mercosul representa uma tentativa de superar o tradicional antagonismo entre Brasil e Argentina, o que é ao mesmo tempo uma de suas virtudes e uma de suas debilidades, porque a dinâmica de integração passou a depender em excesso da posição e da situação de cada sócio".
Como a situação de cada sócio, em especial da Argentina, é hoje precária, desaparece a "matéria-prima" da integração, a estabilidade macroeconômica, como a define Moisés Naím, ex-ministro venezuelano, especialista em América Latina do Instituto Carnegie para a Paz Internacional (EUA) e editor da revista "Foreign Policy".
"Se se acredita que a Argentina está em uma crise econômica que será prolongada, é baixa a possibilidade de que seja tida como um sócio valioso", diz Naím.
Reforça Victor Bulmer-Thomas (Royal Institute of International Affairs, de Londres): "A chave é a recuperação da economia argentina. A recente troca de dívida criou uma das condições necessárias para o crescimento, mas medidas adicionais são necessárias".

Discussão sobre a TEC
Uma das "medidas adicionais" será outro dos temas centrais da cúpula de Assunção: o ministro Domingo Cavallo quer reduzir a TEC (Tarifa Externa Comum), usada para compras de bens de países de fora do Mercosul de uma série de produtos, entre eles os de informática e os de telecomunicações.
O governo brasileiro não conseguiu nem mesmo consenso interno a respeito da redução nessa área, o que fará com que, na cúpula, muito provavelmente apenas se crie um grupo de trabalho destinado a estudar o assunto.
(CLÓVIS ROSSI)


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