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INTEGRAÇÃO
Reunião de cúpula do bloco, que começa amanhã, terá as presenças dos presidentes da Venezuela e de Moçambique
Apesar de crise, Mercosul atrai interessados
DA REDAÇÃO
Mesmo mergulhado na mais
grave crise de seus dez anos de vida, o Mercosul ainda consegue ser
um pólo de atração, como o atesta
a cúpula do bloco a se realizar em
Assunção a partir de amanhã.
A ela comparecerão, além dos
presidentes dos quatro países integrantes do Mercosul e dos presidentes dos dois países associados
ao bloco (Bolívia e Chile), visitantes externos interessados em uma
aproximação.
São o presidente moçambicano,
Joaquim Chissano, e o da Venezuela, Hugo Chávez.
Chávez, aliás, formalizou em
maio o pedido para ingressar como associado (um passo aquém
de membro-pleno).
José Antonio Moreno Rafanelli,
chanceler paraguaio e, como tal,
anfitrião da cúpula, diz que o pedido venezuelano "será um dos
temas centrais" da reunião de Assunção.
Relevância política
As presenças de Chissano e de
Chávez dão bem uma idéia da dimensão política do Mercosul,
mais sólida do que a comercial,
pelo menos no momento.
É justamente o Brasil o país que
se empenha no fortalecimento
político do bloco, o que acaba por
criar uma contradição com seus
parceiros, como analisa Francisco
Panizza, especialista em América
Latina da London School of Economics:
"Atualmente, o Mercosul tem
mais importância política do que
econômica para o Brasil, com vista às negociações da Alca, mas para seus sócios é exatamente o contrário. Eles têm necessidade de
voltar a entrar no mercado brasileiro para reavivar suas economias em crise".
Reforça Mahrukh Doctor, pesquisador em economia política
internacional do Centro de Estudos Brasileiro da Universidade
britânica de Oxford:
"O nó da questão é que o Brasil
vê o Mercosul como um veículo
estratégico e político para aumentar sua influência e prestígio internacionais, ao passo que seus três
parceiros o vêem de maneira mais
limitada, como um projeto econômico para sustentar o desenvolvimento".
Não é o único nó, como aponta
Juan Manuel Ramírez Cendrero,
especialista da Universidade
Complutense de Madri. "O Mercosul representa uma tentativa de
superar o tradicional antagonismo entre Brasil e Argentina, o que
é ao mesmo tempo uma de suas
virtudes e uma de suas debilidades, porque a dinâmica de integração passou a depender em excesso da posição e da situação de
cada sócio".
Como a situação de cada sócio,
em especial da Argentina, é hoje
precária, desaparece a "matéria-prima" da integração, a estabilidade macroeconômica, como a
define Moisés Naím, ex-ministro
venezuelano, especialista em
América Latina do Instituto Carnegie para a Paz Internacional
(EUA) e editor da revista "Foreign
Policy".
"Se se acredita que a Argentina
está em uma crise econômica que
será prolongada, é baixa a possibilidade de que seja tida como um
sócio valioso", diz Naím.
Reforça Victor Bulmer-Thomas
(Royal Institute of International
Affairs, de Londres): "A chave é a
recuperação da economia argentina. A recente troca de dívida
criou uma das condições necessárias para o crescimento, mas medidas adicionais são necessárias".
Discussão sobre a TEC
Uma das "medidas adicionais"
será outro dos temas centrais da
cúpula de Assunção: o ministro
Domingo Cavallo quer reduzir a
TEC (Tarifa Externa Comum),
usada para compras de bens de
países de fora do Mercosul de
uma série de produtos, entre eles
os de informática e os de telecomunicações.
O governo brasileiro não conseguiu nem mesmo consenso interno a respeito da redução nessa
área, o que fará com que, na cúpula, muito provavelmente apenas
se crie um grupo de trabalho destinado a estudar o assunto.
(CLÓVIS ROSSI)
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