São Paulo, quinta-feira, 20 de junho de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FMI nega contágio e crise regional

Maurício Piffer/Folha Imagem
Pregão da Bolsa de Mercadorias & Futuros, depois do anúncio da manutenção dos juros pelo BC


MARCIO AITH
DE WASHINGTON

O FMI (Fundo Monetário Internacional) reconhece a existência de uma "volatilidade crescente" na América Latina. No entanto, o Fundo faz questão de rejeitar o uso da palavra "contágio" ou da expressão "crise" para explicar a deterioração simultânea de várias economias da região. Ontem, a taxa de risco de países como México, Brasil, Equador, Argentina registrou alta forte.
A tentativa de apresentar uma avaliação tranquila do quadro das finanças da região foi do porta-voz do Fundo, Thomas Dawson. Em uma entrevista na tarde de ontem, Dawson negou que o FMI esteja considerando ampliar o pacote de ajuda ao Brasil com o objetivo de proteger o país de seus problemas internos ou de uma crise regional.
Dawson disse que os recursos que o Brasil já sacou do Fundo estão fornecendo ao país um "arsenal e criando um escudo para lidar com condições difíceis de mercado".
Na terça-feira, o FMI autorizou a liberação de cerca de US$ 5 bilhões ao aprovar a terceira revisão de seu acordo com o Brasil. Somados a US$ 5 bilhões que já haviam sido liberados, mas que ainda não haviam sido sacados pelo governo brasileiro, o BC (Banco Central) está levantando agora US$ 10 bilhões de um total de US$ 15 bilhões concedido ao país em setembro do ano passado.

Resta um
Dawson negou que a sobra de recursos para o Brasil no FMI - cerca de US$ 1 bilhão, já que houve outros saques em 2001 - seja insuficiente para o país lidar com a situação.
"O Brasil tem uma economia vibrante, com dezenas de bilhões de dólares de reservas. É errado dizer que resta apenas US$ 1 bilhão no programa com o Fundo e que isso é indicação de alguma coisa... Eles têm muito mais que US$ 10 bilhões. Eles têm toda a outra parte de suas reservas."
O porta-voz afirmou que as medidas tomadas pela equipe econômica brasileira na semana passada estão surtindo efeito, apesar de o dólar e de o risco-país terem mantido sua tendência depois do anúncio da redução do piso de reservas e das intervenções do BC (Banco Central). Segundo Dawson, o resultado dos mercados em um único dia não pode servir de parâmetro para o sentimento dos investidores.
Ao comentar a coincidência de turbulências em quase todos os países da América Latina, o porta-voz reconheceu a existência de uma "volatilidade crescente", mas negou que a região esteja sofrendo um contágio da crise argentina.
"Vemos a situação do Brasil ligada a outros fatores, incluindo políticos. Está claro que existe uma volatilidade crescente nos mercados, mas a palavra "contágio" não deveria ser usada gratuitamente", disse Dawson. "Se entendermos a palavra contágio no contexto em que ele era usada, como na crise de 1998, não se observa agora uma contaminação indiscriminada entre os países, ou uma correlação entre os "spreads" de cada um. Os "spreads" estão se movendo de acordo com os desenvolvimentos de mercado em países individuais."
Dawson ainda vê nos mercados um grau considerável de descolamento, tendo mencionado os casos do Chile e do México, onde os indicadores seriam diferentes. "A economia de cada um dos outros países é dominada por cada situação particular, e não pelos efeitos regionais... Não existe uma crise."



Texto Anterior: Envio de dinheiro para o exterior sobe 19%
Próximo Texto: Comentário: Crise também ameaça credibilidade do governo Bush
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.