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DINHEIRO NOVO
Bancos oficiais vão reduzir juros em algumas linhas; compulsório será afrouxado para estimular microcrédito
Governo finaliza pacote para expandir crédito
VALDO CRUZ
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Após a redução da taxa básica
de juros (Selic) pelo Banco Central, o governo vai anunciar até a
primeira semana de julho uma série de medidas para aumentar a
oferta de crédito e reduzir os juros
sobre empréstimos e financiamentos para os consumidores,
principalmente de baixa renda.
São quatro grupos de iniciativas. Entre elas, a ampliação da
atuação das cooperativas de crédito e a liberação de parte dos recursos do compulsório (dinheiro
que os bancos recolhem obrigatoriamente ao BC), desde que sejam
destinados especificamente para
microcrédito a taxas definidas pelo governo.
As outras duas medidas são o
aumento da oferta de crédito do
Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal e a redução das taxas
cobradas por BB e CEF em algumas linhas de financiamento.
O objetivo é estimular a concorrência com o sistema bancário
privado, o que contribuiria para
baratear de forma mais rápida as
taxas cobradas dos clientes. O impacto das medidas não deve ser
significativo sobre a economia como um todo, já que elas devem
atingir mais diretamente grupos
de renda mais baixos.
A que primeiro deve se tornar
pública, possivelmente no meio
da semana que vem, em pronunciamento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é a das cooperativas de crédito.
O CMN (Conselho Monetário
Nacional) vai retirar restrições ao
funcionamento das cooperativas
no país. A principal delas é eliminar a barreira da associação por
categoria profissional ou por grupo empresarial.
A cooperativa dos bancários de
São Paulo, por exemplo, poderá
ter entre seus associados mecânicos, bombeiros ou qualquer pessoa interessada em tomar empréstimos ou depositar dinheiro,
independentemente do vínculo
empregatício. Hoje, somente bancários da região metropolitana de
São Paulo podem se associar à
cooperativa da categoria.
Compulsório
No caso do compulsório, a idéia
de direcionar a liberação de recursos para microcrédito visa gerar
renda e estimular o consumo de
massa. Hoje, no caso de depósito
à vista (em conta corrente), de cada R$ 1.000 os bancos têm de recolher ao BC R$ 600.
No lugar de deixar esse dinheiro
parado, os bancos poderiam usar
parte dos recursos somente em
operações de microcrédito.
O BB e a CEF vão reduzir o
"spread" (diferença entre o custo
de captação de recursos dos bancos e as taxas cobradas dos clientes) embutido em algumas linhas
especiais de crédito.
Os dois bancos oficiais resistiam
à proposta, mas o presidente Lula
insistiu na sua adoção. A saída foi
adotar a redução apenas em alguns programas especiais.
Além disso, os dois bancos estudam também ampliar os recursos
destinados à população de baixa
renda. Devem criar novos produtos e aumentar o repasse de crédito por meio dos chamados correspondentes bancários, como supermercados e farmácias.
A idéia é que os dois bancos
atinjam a população de baixa renda que tradicionalmente não tem
acesso a crédito.
Selic
Na quarta-feira passada, o BC
reduziu a taxa básica da economia
de 26,5% ao ano para 26%. O efeito prático do corte, no entanto, é
muito pequeno. Ou seja, as taxas
para os consumidores pouco ou
nada serão alteradas.
Os juros cobrados dos clientes
são muito altos devido ao
"spread" (diferença entre o juro
pago pelos bancos ao captarem
dinheiro e o que eles cobram nos
empréstimos). O "spread" bancário no Brasil está entre os maiores
do mundo.
O objetivo do governo é forçar a
competição no sistema bancário
para que as instituições privadas
reduzam o "spread".
Os bancos alegam, entre outros
fatores, que isso se deve em grande parte ao forte recolhimento
compulsório determinado pelo
Banco Central.
Segundo dados do BC, o recolhimento compulsório soma
atualmente R$ 124 bilhões, o que
corresponde a mais da metade do
estoque de crédito do país concedido pelos bancos com recursos
livres -R$ 214,6 bilhões em abril.
Do total do dinheiro retido no BC,
cerca de R$ 32 bilhões ficam sem
remuneração nenhuma.
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