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SOCORRO FINANCEIRO
Valor refere-se a créditos de difícil recebimento; com injeção de R$ 12,5 bi em 2001, total chega a R$ 23,9 bi
Ajuda a bancos federais custará mais R$ 11 bi
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O socorro dado pelo governo
aos bancos federais há quatro
anos custará aos cofres públicos
R$ 11,4 bilhões a mais do que o valor anunciado em junho de 2001,
quando foi criado o Proef (Programa de Fortalecimento das Instituições Financeiras Federais).
Por esse programa, o Tesouro
Nacional assumiu parte das dívidas dos quatro bancos controlados pelo governo federal -Banco
do Brasil, Caixa Econômica Federal, Basa (Banco da Amazônia) e
BNB (Banco do Nordeste). Além
disso, Caixa, Basa e BNB receberam injeção de recursos no valor
de R$ 12,5 bilhões.
Na época, isso representou aumento equivalente a 1% do PIB
(Produto Interno Bruto) na dívida pública. Somados, porém, o dinheiro injetado diretamente nos
bancos federais e as perdas causadas pelos créditos transferidos pela Caixa ao governo fazem com
que o valor do socorro chegue a
R$ 23,9 bilhões.
A Caixa era a mais problemática
das quatro instituições, pois seu
patrimônio estava abaixo do mínimo exigido pelas normas do
Banco Central.
Para sanar o problema, a estatal
recebeu aporte de recursos de R$
9,3 bilhões e transferiu ao governo
R$ 26,3 bilhões em contratos de financiamento habitacional de difícil recebimento. Para administrar
esses créditos, foi criada uma estatal, denominada Emgea (Empresa Gestora de Ativos).
"Desequilíbrios financeiros"
Depois de quatro anos, a Emgea
terminou o processo de avaliação
desses créditos e concluiu que, do
valor a ela repassado, R$ 11,4 bilhões não devem ser recuperados.
"Pela primeira vez, nossas demonstrações financeiras foram
aprovadas sem ressalvas pelos auditores independentes. Os números [do balanço de 2004] refletem
melhor a realidade", afirma o presidente da empresa, Gilton Pacheco de Lacerda.
Os créditos que a Emgea tenta
cobrar são, em boa parte, financiamentos concedidos pelo Sistema Financeiro da Habitação. São
contratos que apresentam, na linguagem técnica, "desequilíbrios
financeiros".
Esse desequilíbrio ocorre porque as prestações pagas pelos mutuários não são suficientes para
abater todo o saldo devedor do
empréstimo.
Ações de mutuários
Existia uma grande dificuldade
em saber qual a possibilidade de
cobrança desses créditos, pois a
Caixa não possuía um sistema
confiável de análise desses contratos -essa avaliação só foi feita
posteriormente, pela Emgea.
"Nossa inadimplência é de
43%", diz Lacerda. Nos bancos, o
atraso nos pagamentos varia, em
média, entre 7% e 8% dos empréstimos, de acordo com levantamento do Banco Central.
Outro obstáculo são as ações
movidas por mutuários que contestam os valores desses contratos
-dos 900 mil contratos em poder da Emgea, 107 mil estão na
Justiça. Do total de devedores,
25% estão em São Paulo.
Por conta do atraso nos pagamentos, a Emgea acumulou sucessivos prejuízos desde que foi
criada. O maior deles foi em 2003,
quando as perdas foram de R$
2,407 bilhões.
Essas perdas se referem aos
ajustes que tiveram de ser feitos,
ao longo dos anos, para preparar
as contas da empresa para a inadimplência observada nos créditos da Caixa.
Contabilmente, é o que se chama de "provisão": guarda-se uma
certa quantia de dinheiro no caixa
da empresa para compensar o
atraso nos pagamentos que se observa na sua carteira de empréstimos.
Lacerda afirma que ainda há esperança de que se consiga, ao longo dos anos, reduzir esse rombo
de R$ 11,4 bilhões que foi contabilizado até agora. Mas, para isso,
será preciso que o índice de sucesso da Emgea na cobrança dos créditos da Caixa fique acima do registrado até agora.
"O valor final do prejuízo só vai
ser conhecido depois que fizermos os acordos em todos os contratos", diz Lacerda.
Alguns contratos de financiamento que vieram da Caixa só
vencem em 2031, e negociações
estão sendo feitas para tentar regularizar esses pagamentos.
Após o saneamento, os bancos
federais voltaram a operar no
azul. A Caixa, que fechou 2001
com prejuízo de R$ 4,867 bilhões,
obteve lucro de R$ 1,419 bilhão no
ano passado.
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