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"JEITINHO"
Economistas vêem queda na competitividade das empresas e do país
Corrupção dificulta negócios e diminui os investimentos
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Os escândalos envolvendo empresas e políticos em esquemas de
corrupção e evasão fiscal nas últimas semanas não devem impedir
o Brasil de crescer neste ano ou
mesmo nos próximos.
A corrupção nem sempre derruba o crescimento, mostra a literatura econômica. Por outro lado,
ela torna os investimentos mais
caros, reduz a produtividade e faz
com que empresas e governo desperdicem recursos que, no caso
dos países em desenvolvimento,
já são muito escassos.
São poucos os economistas e especialistas que se dedicam ao estudo dos efeitos econômicos da
corrupção. O primeiro obstáculo
é a dificuldade de medir, quantificar, ou mesmo detectar a existência de corruptos e corruptores nos
países.
Os índices disponíveis até agora, como o da Transparência Internacional, são baseados na percepção das pessoas, geralmente
de agentes envolvidos em negócios transnacionais.
"São levantamentos de percepção. O nome já diz. Indicam algo,
mas não são fato", diz Claudio
Abramo, da Transparência Brasil.
Apesar da dificuldade de mensurá-la, não é impossível prever
os efeitos de um alto nível de corrupção em uma economia, e os
economistas chegaram a algum
grau de consenso a respeito disso:
1) corrupção aumenta os chamados custos de transação. Na
existência dela, portanto, fica
mais difícil fazer negócios, os custos aumentam e, por tabela, os
preços também;
2) o investimento se torna menos produtivo, também porque
os custos para investir aumentam. Ou o investimento é menor,
ou é preciso um maior volume de
investimento para gerar resultados que, na ausência de corrupção, exigiriam menos recursos;
3) em algumas áreas, a corrupção reduz a eficiência das próprias
empresas. Se compensa mais subornar do que investir em novos
processos para ganhar uma concorrência pública, por exemplo, a
empresa ficará menos eficiente,
deixará de investir em inovação e
usará o dinheiro para "comprar"
a licitação;
4) não menos importante, níveis altos de corrupção distorcem
o mercado, criando vantagens artificiais para empresas ou setores,
o que, no geral, resulta em economia menos competitiva.
Marcos Gonçalves, pesquisador
da FGV (Fundação Getulio Vargas), lembra ainda que altos níveis
de corrupção também estão associados à instabilidade política. Ela
pode ser maior ou menor, mas
um dos possíveis efeitos é o aumento da incerteza em relação
aos rumos e regras da economia,
que se não impedem, pode atrasar ou deprimir os investimentos.
Crescimento desigual
É possível, claro, um país ter níveis altos de corrupção e crescer a
taxas impressionantes. Esse pode
ser o caso do Brasil, até a década
de 80, e o da China, hoje. Como?
Os economistas ainda não chegaram a um consenso.
Uma explicação possível é que,
enquanto o crescimento é vigoroso, os benefícios de investir são
muito superiores aos custos adicionais e distorções criados pela
corrupção. Os problemas aparecem e ficam mais evidentes, então, quando as taxas de crescimento tornam-se menores.
Nos indicadores internacionais,
o Brasil aparece entre o grupo de
países com níveis razoavelmente
altos de corrupção. Pesquisa da
própria Transparência Brasil, feita com empresas de São Paulo,
mostra que 78% responderam
que a corrupção é um obstáculo
muito importante para o desenvolvimento. Nada menos do que
70% disseram gastar até 3% do faturamento com pagamento de
propinas.
Emerson Kapaz, presidente do
Etco (Instituto Brasileiro de Ética
Concorrencial), aponta para a
grande informalidade da economia brasileira como um dos indícios que mostram o também alto
nível de corrupção. "Como essas
empresas [no setor formal] se
mantêm? O problema da informalidade vem junto com a corrupção", diz.
Estado inchado?
A decisão de se corromper, ou,
por exemplo, entre subornar um
fiscal ou pagar o imposto, pode
ser encarada como uma cálculo
econômico bem racional. Ele envolve o risco de ser denunciado e
responder pelo crime e o benefício de não pagar imposto. Dadas a
alta carga tributária brasileira, a
lentidão da Justiça e a sensação de
impunidade, diz Kapaz, não é
muito difícil imaginar para onde
pende a decisão.
Deste ponto de vista, na origem
do problema da corrupção estão o
tamanho do Estado, medido pelo
tamanho da carga tributária, e
suas próprias ineficiências. Visão
com a qual nem todos concordam. Abramo, por exemplo, diz
que, caso os níveis de corrupção
estivessem ligados à carga tributária, escândalos pulariam pelo
continente europeu, onde estão
os países com algumas das maiores cargas tributárias do mundo.
O que não significa que não
exista nenhuma ligação entre nível de impostos e sonegação. A
teoria econômica mostra que
existe um limite para aumento de
impostos a partir do qual a arrecadação começa a cair -é o chamado efeito Tanzi.
Mas daí a explicar a origem do
problema começando pela carga
tributária vai um salto, diz Abramo, para quem a origem do problema está na própria estrutura
do Estado e do sistema político
brasileiro. "O escândalo do "mensalão" tem zero a ver com a carga
tributária", afirma.
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