São Paulo, sexta-feira, 20 de junho de 2008

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Ex-executivos do Bear Stearns são presos

Ex-dirigentes de fundos são acusados de dar informações falsas sobre aplicações financeiras que quebraram na crise do "subprime"

Fundos dirigidos por executivos deram prejuízo de US$ 1,6 bi; operação do FBI acusa outros 400 por fraude ligada a hipotecas e prende 60


DO "NEW YORK TIMES"
DO "FINANCIAL TIMES"

Dois ex-dirigentes de fundos de hedge do banco Bear Stearns foram presos ontem nos EUA, acusados de iludir deliberadamente investidores quanto à condição financeira de aplicações que entraram em colapso no ano passado.
Em um indiciamento cujo teor foi revelado ontem, Ralph Cioffi e Matthew Tannin, que dirigiam dois fundos de hedge do Bear Stearns, teriam acalmado os preocupados investidores -informando que as aplicações representavam uma "oportunidade espantosa"- apenas três dias após trocarem e-mails desesperados em relação ao futuro do investimento.
Cioffi teria transferido cerca de US$ 2 milhões dos US$ 6 milhões de seu capital pessoal de um dos fundos para aplicações mais seguras, sem avisar os investidores, diz o indiciamento.
Os fundos de hedge dirigidos por eles sofreram pesadas perdas com apostas em títulos lastreados por hipotecas de alto risco ("subprime") e implodiram em junho de 2007, causando prejuízo de US$ 1,6 bilhão aos investidores. Os e-mails desesperados são de abril.
A crise do "subprime" começou em 2007 e derrubou Bolsas, resultados de instituições financeiras e executivos de bancos nos últimos meses.
Os dois se apresentaram às autoridades ontem e devem ser acusados formalmente.
Segundo seus advogados, os dois se declararam inocentes e devem contestar as acusações.
Um advogado de Cioffi disse que dezenas das maiores instituições do país perderam mais de US$ 300 bilhões com investimentos semelhantes devido à crise. "Os fundos comandados por Cioffi sofreram prejuízos da mesma maneira. Porque seus fundos foram os primeiros a entrar em colapso, ele talvez se tenha tornado um alvo fácil, mas isso não significa que tenha feito qualquer coisa de errado", disse seu advogado.
Susan Brunne, advogada de Tannin, disse que ele está sendo "bode expiatório" da crise generalizada. "Ele tem certeza de que será absolvido."
As acusações criminais -as primeiras contra executivos de Wall Street devido à crise- devem levantar questões sobre a comunicação de instituições financeiras e seus investidores.
O indiciamento federal diz que, "em lugar de revelarem o verdadeiro estado dos fundos (...), Cioffi e Tannin concordaram em apresentar informações erradas, na esperança -que se provou fútil- de que as perspectivas sombrias do banco viessem a mudar e suas rendas e reputações pudessem permanecer intactas".
O colapso dos fundos Bear Stearns High-Grade Structured Credit Fund e Enhanced Leverage Fund foi um grande revés na batalha do Bear Stearns pela sobrevivência. O banco terminou vendido ao JPMorgan Chase em março.
Todd Harrison, sócio do escritório de advocacia Patton Boggs e antigo promotor federal, disse que o caso "demonstra que o governo está acelerando seus esforços para revelar completamente o que aconteceu de errado durante o fiasco do setor do "subprime'".

Mais acusados
Também ontem, mais de 400 pessoas foram acusadas em uma operação contra fraudes no setor de empréstimos imobiliários realizada pelo Departamento de Justiça dos EUA.
A estimativa é que as vítimas tenham tido cerca de US$ 1 bilhão em prejuízos em 144 operações de hipoteca. A operação, batizada de "Hipoteca Mal-Intencionada", começou em março e prendeu pelo menos 60 pessoas, diz o FBI.


Tradução de PAULO MIGLIACCI

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