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Empresa de mudança quebra nos EUA e prejudica brasileiros
Companhia anuncia falência e não entrega quase 60 contêineres, a maior parte estocada no porto de Santos e sob risco de ir a leilão
Diretor da empresa diz que falência foi única solução; companhia que assumiu transporte afirma que precisa cobrar taxa extra
ANDREA MURTA
DE NOVA YORK
VERENA FORNETTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Depois de oito anos nos EUA,
Sergio Kaltenbacher, 65, voltou
para o Brasil no ano passado.
Mas continua esperando duas
caixas de objetos pessoais -incluindo fotos, eletrodomésticos e roupas- que enviou antes
de chegar a Campinas (SP). "Há
lembranças de nossa filha, genro e netos, que só Deus sabe
quando veremos de novo. Anos
de lutas se perderam", afirma.
Kaltenbacher é um dos brasileiros que perderam objetos
enviados ao Brasil quando empresas de mudanças quebraram nos EUA, atribuindo as dificuldades à crise.
No caso dele, a empresa é a
Adonai Express Moving. A firma está envolvida em um escândalo: anunciou a falência,
não oficializada na Justiça, e
deixou de entregar quase 60
contêineres com caixas de brasileiros, quase todos estocados
atualmente no porto de Santos
e sob risco de serem leiloados.
Os clientes se organizam para entrar na Justiça e contataram a Procuradoria Geral de
Massachusetts, um dos Estados com mais gente afetada.
"A última notícia que tive foi
em dezembro, de que as caixas
estariam no porto de Santos",
disse Kaltenbacher. "Depois, só
informações desencontradas."
Benjamin Burstein, 48, está
na mesma situação. Em janeiro, enviou 20 caixas com tudo o
que acumulou nos 21 anos em
que viveu nos EUA. "Tenho um
apartamento inteiro retido no
porto de Santos." Para reaver
os pertences, está disposto a
pagar mais do que os US$ 3.000
já entregues à Adonai.
Gastar mais é provavelmente
a única esperança de recuperar
os objetos. A empresa que assumiu a entrega das caixas da
Adonai, chamada International
Express Moving, cobra agora
cerca de US$ 100 por volume
para liberar o material, apesar
de o envio já ter sido pago uma
vez. Segundo a Adonai, quando
o acordo foi feito havia 57 contêineres com, em média, 170
caixas em cada (totalizando
9.690 caixas) em Santos. A IEM
diz que seis contêineres foram
descarregados desde então.
Segundo um dos diretores da
IEM, Moacir Sant'Anna, a nova
cobrança é necessária para pagar dívidas que a Adonai deixou
no porto e em distribuidoras
nacionais. "Não posso arcar
com o prejuízo. Não sabia o tamanho das dívidas quando negociei com a Adonai para assumir a clientela. Agora todos terão de ajudar, ou não terei alternativa a não ser leiloar as
caixas", disse à Folha.
Pagamento a mais
A Adonai, porém, diz não
concordar com o pagamento
extra. "Nada disso foi discutido
no acordo. Se era para cobrar
de novo, eu mesmo faria a distribuição", afirmou Paulo Pepe
Araújo, diretor da firma.
Ele diz também que Sant'Anna conhecia a situação da empresa quando fez o negócio.
"Seria muita infantilidade pensar que alguém faz um acordo
sem saber no que está entrando. Ele foi informado de tudo."
Esse é apenas um dos pontos
obscuros na negociação, além
da incerteza sobre o paradeiro
dos objetos e das suspeitas que
recaíram sobre as empresas
por parte dos clientes.
Araújo e Sant'Anna foram sócios no passado, no momento
da fundação da Adonai, mas negam que haja qualquer intenção de lesar os clientes com as
cobranças imprevistas.
O diretor da Adonai diz que,
com a crise, não houve outra alternativa senão entrar com a
falência. "Passei os últimos
quatro meses tentando todas as
possibilidades. E agora sou vítima de boataria sem fim."
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