|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
INTEGRAÇÃO
Europa abriria mercado em troca de poder vender veículo de luxo
Argentina propõe cota de carros à UE
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A BRUXELAS
A Argentina quer oferecer à
União Européia cotas para a venda de carros de luxo no Mercosul,
em troca da possibilidade de o
bloco do Sul vender imediatamente seus veículos no rico mercado europeu, hoje protegido por
uma tarifa de 6,5%.
Se as montadoras argentinas e
brasileiras, que se reúnem hoje
em Bruxelas, conseguirem definir
uma posição comum, a proposta
fará parte do pacote que está sendo negociado desde ontem entre
o Mercosul e o conglomerado europeu de 25 países.
Na verdade, a proposta argentina não fala em carros de luxo, mas
"em cotas para montadoras que
não estão instaladas no Mercosul", diz Martín Redrado, vice-chanceler, principal negociador
argentino e que mantém papel
importante na negociação entre
os blocos, mesmo tendo a Argentina passado a presidência de turno do Mercosul para o Brasil.
Acontece que montadoras européias não instaladas no Brasil
ou na Argentina são poucas. A
única lembrada ontem foi a alemã
BMW, que fabrica de fato automóveis de luxo.
O fato de o setor automotivo estar entrando na negociação é usado pelo embaixador Régis Arslanian, chefe da delegação brasileira, como mais uma demonstração de que o Mercosul fez tudo o
que podia para melhorar sua oferta aos europeus, uma vez que o setor é dos mais protegidos no Brasil e na Argentina, com uma tarifa
de importação de 35%.
Por achar que fez tudo o que podia, o Mercosul cobrou ontem
dos europeus uma melhora na
oferta agrícola, sem o que o pacote em negociação ficaria desequilibrado. "Negociação que não seja
equilibrada não é saudável", diz o
embaixador.
Do lado europeu, Karl Falkenberg, o negociador-chefe, disse
que os dois blocos tinham "a melhor oportunidade" para fechar a
negociação dentro do prazo estabelecido (até outubro).
Arslanian concordou, mas
acrescentou: "Não faremos um
acordo a qualquer preço".
O preço que o Mercosul cobra é,
evidentemente, uma melhor oferta agrícola, embora, pelas contas
do setor privado, a proposta em
negociação acrescente US$ 2,5 bilhões à pauta brasileira de exportações. "As oportunidades criadas
são imensas", diz documento que
33 entidades da agricultura e
agronegócio encaminharam ao
chanceler Celso Amorim.
Ontem, primeiro dia de uma
negociação que, nesta fase, irá até
sexta-feira, os europeus "já deram
algumas indicações de possíveis
melhorias", conta Arslanian. Melhorias que se referem a todas as
reivindicações do Mercosul. Entre elas, cotas mais generosas e redução das tarifas de importação
para quantidades que excedam as
cotas a serem acertadas.
Redrado acrescenta que os europeus mencionaram também
produtos específicos em que haveria ofertas mais suculentas. Pescado, por exemplo, item de grande interesse para a Argentina, que
já exporta para a Europa US$ 600
milhões anuais, a metade de suas
vendas externas totais.
Carne, produto de alto interesse
para todo o Mercosul, também
entrou nas conversas, assim como itens aparentemente menos
charmosos (biscoitos), que, porém, compõem a rubrica PAPs
(Produtos Agrícolas Processados,
de maior valor agregado).
Para depois
De todo modo, o Mercosul não
conta para a negociação desta semana com a apresentação formal,
por escrito, das ofertas européias
melhoradas. "Deverão fazê-lo entre este CNB e a reunião de Brasília, na segunda semana de agosto", diz Redrado.
CNB é Comitê de Negociações
Birregionais, principal instância
técnica das discussões, que está
fazendo agora a última das reuniões programadas pelos ministros dos dois blocos no encontro
que tiveram em novembro.
Mas, como demonstração de
que os dois lados têm pressa em
chegar a um acordo, haverá novas
reuniões mais ou menos a cada 15
dias, quando o ritmo até agora era
de uma a cada 45 dias.
Os negociadores europeus admitiram ontem que o Mercosul
apresentou propostas claras e efetivas nas áreas de serviços e investimentos.
Mas falta outro item básico para
a Europa: compras governamentais, um mercado avaliado, no
Mercosul, em US$ 6 bilhões, só levando em conta a administração
direta (na Europa, o setor gasta
US$ 250 bilhões/ano).
O Mercosul até elaborou sua
proposta, mas decidiu só colocá-la no papel quando os europeus
melhorarem sua oferta agrícola.
O bom momento da negociação
já produziu intenções de investimento, antes mesmo que ela termine: a Del Monte norte-americana diz que, se os europeus aceitarem aumentar a cota de bananas exportada pelo Mercosul das
30 mil toneladas oferecidas para
120 mil, investirá US$ 120 milhões
no país, para produzir e exportar.
Texto Anterior: Riso ibero-americano Próximo Texto: Contagem regressiva: Juro só cai em outubro, apontam analistas Índice
|