São Paulo, terça-feira, 20 de julho de 2004

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CARNE

Ministério quer rebanho nacional com identificação de origem até 2008; produtores reclamam de obrigatoriedade do sistema

Certificação divide governo e pecuaristas

JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM LONDRINA

Iniciado em 2002, o Sisbov (Sistema Brasileiro de Identificação de Origem de Bovinos e Bubalinos) provocou uma divisão na cadeia produtiva da carne.
De um lado, a favor do sistema, estão governo federal, certificadoras e indústria exportadora de carne.
Do outro lado, estão pecuaristas e entidades ligadas à agropecuária, que condenam a obrigatoriedade do sistema e alegam dificuldades técnicas e financeiras de execução.
O Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) fixou janeiro de 2008 como limite para que todo o rebanho nacional, estimado em 190 milhões de cabeças de bovinos e búfalos, esteja integrado ao Sisbov.
Até agora, 26 milhões de cabeças já passaram pela certificação -uma espécie de "carteira de identidade" de cada animal criado no país.
"É absurda a certificação individual em um país em que até seres humanos não têm suas carteiras de identidade", afirma João Almeida Sampaio Filho, presidente da SRB (Sociedade Rural Brasileira). Sampaio Filho integra a comissão criada pelo Ministério da Agricultura, na semana passada, para discutir o Sisbov.

Adesão
Na primeira reunião da comissão, a principal queixa dos representantes do Fórum Nacional da Pecuária de Corte foi contra a obrigatoriedade do sistema.
Além de voluntário, os pecuaristas querem o Sisbov por propriedades -e não por animais, como é hoje.
"Não se pode aceitar a obrigatoriedade em um país com diferenças regionais tão gritantes. A adesão voluntária ao sistema é a melhor saída, com o mercado fazendo os ajustes necessários", defende Antenor Nogueira, representante da CNA (Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária) na comissão.
A comissão foi uma sugestão de deputados federais ruralistas. Mas, de acordo com Natércia de Araújo, coordenadora substituta do Sisbov na Secretaria de Defesa Agropecuária do ministério, não terá poder de decisão.
"A comissão é uma busca paralela de melhoria para o sistema, mas temos pontos que são irreversíveis, como a obrigatoriedade da certificação e o cumprimento dos prazos estabelecidos", afirmou Araújo.
A técnica do ministério reconhece que existem problemas para a execução do sistema, como falta de mão-de-obra qualificada nas propriedades para anotações e acompanhamento dos animais. Segundo ela, no entanto, órgãos do governo federal irão auxiliar os pecuaristas para a solução desses problemas.

Argumento
O maior argumento do governo, das certificadoras e da Abiec (Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carnes) é que foi após a criação do Sisbov que o país se consolidou como principal exportador mundial de carne bovina.
Há três anos, o Brasil ocupava o terceiro lugar no mercado internacional de carne bovina. Hoje o país lidera o ranking, com exportações de US$ 4 bilhões no ano passado e uma meta de atingir US$ 5 bilhões neste ano.
"Cada vez mais será necessário o atestado de origem e a rastreabilidade de qualquer produto, seja de origem animal, seja vegetal. É nesse contexto que o Sisbov existe", afirma Antônio Camardelli, da Abiec.

Leite
Além do custo por animal, em torno de R$ 5 por cabeça, a certificação enfrenta resistência também da pecuária de leite.
Produtores afirmam que o leite, produto final da atividade, é misturado com leite de outras propriedades e não precisa de certificado de origem.
"Outra incoerência é que a certificação fica por conta de terceiros, quando nossas associações de criadores possuem o registro genealógico dos animais, que é muito mais que certificação de origem", afirma Ronald Rabbers, presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Bovinos da Raça Holandesa.
"O animal de leite tem maior longevidade, com uma média de vida de 15 anos. Logo, é mais do que necessário que ele seja rastreado, por razões sanitárias e de saúde pública", rebate Natércia de Araújo, da Secretaria de Defesa Agropecuária.


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