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CARNE
Ministério quer rebanho nacional com identificação de origem até 2008; produtores reclamam de obrigatoriedade do sistema
Certificação divide governo e pecuaristas
JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM LONDRINA
Iniciado em 2002, o Sisbov (Sistema Brasileiro de Identificação
de Origem de Bovinos e Bubalinos) provocou uma divisão na cadeia produtiva da carne.
De um lado, a favor do sistema,
estão governo federal, certificadoras e indústria exportadora de
carne.
Do outro lado, estão pecuaristas
e entidades ligadas à agropecuária, que condenam a obrigatoriedade do sistema e alegam dificuldades técnicas e financeiras de
execução.
O Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento)
fixou janeiro de 2008 como limite
para que todo o rebanho nacional, estimado em 190 milhões de
cabeças de bovinos e búfalos, esteja integrado ao Sisbov.
Até agora, 26 milhões de cabeças já passaram pela certificação
-uma espécie de "carteira de
identidade" de cada animal criado no país.
"É absurda a certificação individual em um país em que até seres
humanos não têm suas carteiras
de identidade", afirma João Almeida Sampaio Filho, presidente
da SRB (Sociedade Rural Brasileira). Sampaio Filho integra a comissão criada pelo Ministério da
Agricultura, na semana passada,
para discutir o Sisbov.
Adesão
Na primeira reunião da comissão, a principal queixa dos representantes do Fórum Nacional da
Pecuária de Corte foi contra a
obrigatoriedade do sistema.
Além de voluntário, os pecuaristas querem o Sisbov por propriedades -e não por animais,
como é hoje.
"Não se pode aceitar a obrigatoriedade em um país com diferenças regionais tão gritantes. A adesão voluntária ao sistema é a melhor saída, com o mercado fazendo os ajustes necessários", defende Antenor Nogueira, representante da CNA (Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária)
na comissão.
A comissão foi uma sugestão de
deputados federais ruralistas.
Mas, de acordo com Natércia de
Araújo, coordenadora substituta
do Sisbov na Secretaria de Defesa
Agropecuária do ministério, não
terá poder de decisão.
"A comissão é uma busca paralela de melhoria para o sistema,
mas temos pontos que são irreversíveis, como a obrigatoriedade
da certificação e o cumprimento
dos prazos estabelecidos", afirmou Araújo.
A técnica do ministério reconhece que existem problemas para a execução do sistema, como
falta de mão-de-obra qualificada
nas propriedades para anotações
e acompanhamento dos animais.
Segundo ela, no entanto, órgãos
do governo federal irão auxiliar os
pecuaristas para a solução desses
problemas.
Argumento
O maior argumento do governo, das certificadoras e da Abiec
(Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carnes) é que
foi após a criação do Sisbov que o
país se consolidou como principal
exportador mundial de carne bovina.
Há três anos, o Brasil ocupava o
terceiro lugar no mercado internacional de carne bovina. Hoje o
país lidera o ranking, com exportações de US$ 4 bilhões no ano
passado e uma meta de atingir
US$ 5 bilhões neste ano.
"Cada vez mais será necessário
o atestado de origem e a rastreabilidade de qualquer produto, seja
de origem animal, seja vegetal. É
nesse contexto que o Sisbov existe", afirma Antônio Camardelli,
da Abiec.
Leite
Além do custo por animal, em
torno de R$ 5 por cabeça, a certificação enfrenta resistência também da pecuária de leite.
Produtores afirmam que o leite,
produto final da atividade, é misturado com leite de outras propriedades e não precisa de certificado de origem.
"Outra incoerência é que a certificação fica por conta de terceiros,
quando nossas associações de
criadores possuem o registro genealógico dos animais, que é muito mais que certificação de origem", afirma Ronald Rabbers,
presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Bovinos da
Raça Holandesa.
"O animal de leite tem maior
longevidade, com uma média de
vida de 15 anos. Logo, é mais do
que necessário que ele seja rastreado, por razões sanitárias e de
saúde pública", rebate Natércia de
Araújo, da Secretaria de Defesa
Agropecuária.
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