São Paulo, quinta-feira, 20 de julho de 2006

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Juros devem cair mais até o fim do ano

Segundo pesquisa do Banco Central feita com instituições financeiras, a Selic deverá terminar 2006 perto de 14,25%

Juros reais brasileiros, que estão em 10,58% ao ano, ainda são os maiores do mundo, à frente de países como Malásia e Turquia

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA REPORTAGEM LOCAL

A taxa Selic deve sofrer mais dois cortes até dezembro, devendo encerrar 2006 em 14,25% ao ano. Essa é a projeção média dos analistas de mercado consultados pelo Banco Central na sexta-feira passada.
Ontem o Copom (Comitê de Política Monetária do BC) anunciou a redução da Selic de 15,25% para 14,75%.
Segundo essa pesquisa, os juros devem ser reduzidos em 0,25 ponto percentual na próxima reunião do Copom, no final de agosto. Outra queda da mesma magnitude é esperada até dezembro.
A expectativa do mercado é que o comportamento dos preços continue permitindo que o BC baixe os juros. "Ainda existe espaço [para novos cortes na taxa Selic], porque temos um cenário de inflação bastante benigno", diz a economista-chefe da Mellon Global Investments, Solange Srour.
Para ela, a inflação deste ano "não passa de 4,2%", mesmo que a alta do petróleo no mercado externo leve ao reajuste dos combustíveis no Brasil. A economista diz que a taxa Selic poderia cair para 14% até o final do ano, sem que fossem criadas pressões sobre os preços.
Os riscos à concretização dessas projeções, segundo Srour, estão concentrados no cenário externo. Os maiores perigos estariam nas dúvidas quanto ao rumo dos juros praticados nos Estados Unidos.
Ontem o presidente do Fed (o banco central dos EUA), Ben Bernanke, deu sinais de que o aperto monetário no país pode estar perto do fim. Mas o futuro do cenário americano para os juros ainda gera dúvidas.
Além disso, existe uma preocupação com o preço do petróleo, que tem batido sucessivos recordes nos últimos anos e pode subir ainda mais caso os conflitos entre Israel e Líbano comecem a afetar outros países do Oriente Médio.
Srour afirma, porém, que a própria desaceleração da economia mundial, conseqüência da alta dos juros nos principais países desenvolvidos, deve colaborar para conter a demanda por petróleo, ajudando a frear a alta das cotações do produto.
De forma geral, a economista acredita ser pouco provável que o cenário externo piore de forma significativa. Para a economista, a expectativa ainda é que, mesmo com esses riscos, os juros reais continuem caindo ao longo de 2007.

Juro real
Com a redução da Selic ontem, o juro real brasileiro -considerando a taxa básica e descontando a projeção do IPCA para os próximos 12 meses- recuou a 10,58%, o maior do mundo.
Jason Freitas Vieira, economista-chefe da Uptrend Consultoria Econômica, afirma que a decisão de ontem era amplamente esperada.
"Entendo que agora haverá uma parada técnica. Somente após as eleições é que os juros podem voltar a cair. Se vier um novo corte na taxa Selic, creio que só acontecerá na última reunião do Copom do ano [em 28 e 29 de novembro]".
Segundo análise feita pela consultoria Austin Rating, "apesar do importante marco registrado pela redução da taxa de juro nominal para um patamar histórico, ainda há muito o que se fazer no campo da taxa de juro real, que é uma das maiores do mundo".
Juros reais elevados "implicam maior direcionamento dos investimentos para o setor financeiro, em detrimento do setor produtivo", completa. A Austin Rating prevê que os juros reais encerrem o ano em torno de 10%.
José Arthur Assunção, vice-presidente da Acrefi (Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento), diz que a decisão do Copom já era esperada pelo mercado e por isso não deverá provocar qualquer mudança de rumo na expectativa dos agentes econômicos.
"A taxa Selic chegará certamente a 14% até o final deste ano. Mas se as projeções de inflação continuarem declinantes, não será nada demais cair abaixo desse patamar, chegando, quem sabe, a 13,5%. Nem mesmo as eleições presidenciais serão fator de risco para o país", afirma.
Para o ano que vem, a pesquisa semanal do BC aponta espaço para a taxa Selic recuar um pouco mais. No fim de 2007, segundo os bancos, a taxa básica deve estar em 13%.


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