São Paulo, domingo, 20 de julho de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ROGER AGNELLI

Sim, é possível


É bem-vinda a decisão do ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, de acelerar o licenciamento ambiental


O MUNDO hoje impõe enormes desafios à sociedade. Entre eles, está o de receber 1,2 bilhão de novos habitantes, que vão desembarcar nas grandes cidades nos próximos 20 anos. Os novos "cidadãos" vão surgir, principalmente, na Ásia, onde China e Índia lideram o processo de urbanização, fenômeno já visto em outras eras. Mas nada se compara à velocidade e à intensidade que presenciamos nos dias atuais. Abrigar essas pessoas implicará enormes investimentos. Há quem estime em US$ 5 trilhões, ao longo de dez anos, os gastos com infra-estrutura.
Teremos que estimular o uso racional de água e minérios, acelerar a produção de alimentos, a formação de pessoal, o desenvolvimento tecnológico, com destaque para a área de saúde. Precisaremos de mais produtividade e, é lógico, investir em pesquisa e tecnologias que preservem o ambiente e permitam a mudança de hábitos de consumo.
A solução pode estar em novos métodos de produção, conjugando preservação e/ou compensação ambiental. A sociedade nunca esteve tão consciente dos riscos do aquecimento global. O maior vilão do ambiente é a miséria, que se combate com crescimento ambientalmente correto. Se os que vivem em regiões a serem preservadas não têm opções, a depredação continuará a ser uma forma de sustento. Quanto à emissão de gases, o Brasil não vive um quadro tão crítico como outras nações. Estudo da Embrapa mostra que somos o 18º no ranking global de CO2.
Não permitir o desenvolvimento e não combater ilegalidades não nos levará a um quadro melhor. O crescimento traz a evolução da sociedade, levando à melhoria do padrão de vida. Precisamos de mais oportunidades de emprego e educação (mais uma vez ela como chave para construir o futuro). Sem isso, corremos o risco de ficar parados nas estradas, nos portos, sem energia para manter o crescimento, que tanto nos tem beneficiado nos últimos anos. No Brasil, como em outros países, várias pessoas têm acesso, pela primeira vez, a celulares, geladeiras, TVs, eletrodomésticos, casa própria e carro. As pessoas também estão se alimentando melhor.
Como aliar investimentos e preservação ambiental? Com educação, infra-estrutura eficiente, tratamento de esgoto, modernização da frota de veículos, plantas industriais mais modernas. Temos que apostar na reciclagem de água, incentivar o reflorestamento, legalizar terras, acabar com a grilagem, planejar assentamentos. Precisamos de fiscalização.
Temos que modernizar legislações ultrapassadas que, em vez de proteger, levam ao desmatamento e a migrações, que agridem o ambiente.
Portanto, é bem-vinda a decisão do ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, de acelerar o licenciamento ambiental. Ele está certo quando diz "que apressar o licenciamento não significa menos rigor técnico". O rigor necessário ao processo de licenciamento é o que se deseja para que o país cresça e aproveite o momento da economia mundial, por meio da renda interna e das exportações, da educação e de novas oportunidades de trabalho. Agindo assim, vamos efetivamente cuidar das nossas florestas, dos nossos parques, rios, ar e do nosso planeta.

ROGER AGNELLI, 49, economista e diretor-presidente da Vale, escreve neste espaço a cada quatro semanas.



Texto Anterior: Vinicius Torres Freire
Próximo Texto: Com dólar fraco, EUA "exportam" inflação, afirmam economistas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.