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Usinas pequenas devem triplicar geração
Demanda crescente por energia gera corrida de investidores para a construção das pequenas centrais hidrelétricas
Aneel tem propostas para
a construção de PCHs que, somadas, têm 6.500 MW em potência instalada, igual às usinas do rio Madeira
AGNALDO BRITO
ENVIADO ESPECIAL A GUARÁ (SP)
O Brasil deve ao menos triplicar a capacidade instalada em
PCHs (Pequenas Centrais Hidrelétricas) nos próximos anos,
com a liberação dos 6.500 MW
em potência hidrelétrica tramitando na Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica). É
algo equivalente a um complexo hidrelétrico do rio Madeira,
em Rondônia, onde são construídos neste momento as usinas de Jirau e Santo Antônio.
Até o fim do ano, os investimentos em curso no país elevarão a capacidade instalada para
3.000 MW.
Com 12% da água doce do
mundo, é de supor que o Brasil
tenha número abundante de
rios com quedas d'água suficientes para aproveitamento
hidrelétrico. A quantidade de
projetos que estão sendo tirados da gaveta ou de estudos antigos em fase de revisão abre
uma opção de investimento em
infraestrutura no país.
Sozinhas, as pequenas centrais não darão conta da expansão anual de 3.000 MW a 4.000
MW necessários ao país em período de crescimento econômico, mas representam uma contribuição importante.
Do ponto de vista ambiental,
são menos nocivas. Do ponto
de vista do investimento, a demanda (tanto para os grandes
consumidores livres como para
o mercado cativo, formado por
pequenos consumidores que
são clientes das distribuidoras)
chama a atenção de muitos investidores interessados em
aplicações de longo prazo.
A despeito dos problemas de
atraso no trânsito dos projetos,
uma onda de propostas de
PCHs começou a ser anunciada
nos últimos anos. O BNDES
(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) já
financiou R$ 815 milhões em
PCHs neste ano, número que
deve crescer ainda, dado o volume de projetos em andamento
no banco. No ano passado, a
instituição liberou R$ 1,25 bilhão a obras do tipo.
Muita gente tem descoberto
que investir, em média, R$ 5
milhões em cada megawatt instalado numa usina promete
tornar-se um tiro certeiro para
remunerar capitais.
"Tem gente entrando nesse
negócio de olho numa rentabilidade de 15% ao ano. Claro que
existe uma série de condições
para que isso seja possível
-qualidade do projeto, tamanho do aproveitamento e tamanho do investimento-, mas um
bom projeto pode dar um retorno muito bom, além de ser
um negócio seguro", afirma Roberto Paes, sócio da Union Engenharia.
A empresa acaba de fechar
um acordo internacional com a
Elea Corporación, braço empresarial de uma fundação espanhola controlada por seis famílias. Com o negócio oficializado, o projeto da Braes (nome
da nova empresa que acaba de
ser criada) é montar em até dez
anos um parque de pequenas
centrais hidrelétricas com potencial total de 1.500 MW. O
aporte de capital para o plano é
de R$ 7,5 bilhões. Uma parte
dos recursos virá da Espanha.
A DEB (Duke Energy Brasil),
holding que controla 2.307
MW no rio Paranapanema (que
divide os Estados de São Paulo
e Paraná), criou a DEB PCH para investir nesse tipo de negócio. A companhia investe neste
momento R$ 200 milhões nas
usinas de Retiro e Palmeiras,
duas pequenas centrais hidrelétricas com capacidade instalada de 16 MW cada, em fase de
construção no rio Sapucaí-Mirim, entre os municípios de
Guará e São Joaquim da Barra,
na região de Ribeirão Preto
(SP). Mais de 600 trabalhadores correm para aprontar as novas usinas até o segundo semestre de 2010.
Segundo Rui Pires, gerente-geral de engenharia de desenvolvimento da DEB, a empresa
fechou parceria com a Cemig
para reavaliar o potencial hidrelétrico no rio Doce, em Minas Gerais. "Existe mercado
para energia, as obras são menores, o investimento é inferior
e o prazo para iniciar a operação de um projeto desse porte é
muito menor", afirma.
Negócio para grandes companhias? Também, mas não
apenas. No Rio de Janeiro, município de Santa Maria Madalena, Raul Veloso Mariath, ex-avicultor, está perto de viabilizar um sonho: inaugurar a pequena PCH Tudelândia.
"A avicultura no Rio acabou.
Apostei tudo nessa usina", diz
Mariath, que detém 68% da
usina em parceria com a Denge,
empresa de engenharia que
coordenou toda a instalação da
minúscula PCH, que, quando
pronta, terá capacidade para
gerar apenas 2,4 MW.
Segundo os cálculos da APMPE (Associação Brasileira dos
Pequenos e Médios Produtores
de Energia Elétrica), organização que representa investidores de PCHs, as perspectivas
sobre o futuro desse negócio
não são modestas.
De grão em grão
A potência hidrelétrica já
identificada nos inventários
disponíveis hoje soma 10 mil
MW, cerca de 9% de toda a capacidade instalada no país. São
projetos hoje "órfãos", que aos
poucos ganham paternidade.
"Não é só. Em potencial a ser
identificado, a associação estima outros 15 mil MW", explica
Ricardo Pigatto, presidente da
APMPE. Considerado o custo
médio de R$ 5 milhões por MW
instalado, em 15 anos o Brasil
pode ter 25 mil MW em PCHs
em operação, o que representará aporte de R$ 125 bilhões. Seria uma expansão de oito vezes
o potencial instalado até o fim
de 2009. É uma projeção otimista, principalmente se considerado que, de 1998 a 2009, a
capacidade instalada em PCHs
pouco mais que triplicou.
A Aneel tem ampliado o número de autorizações para investidores interessados em desenvolver projetos de pequenas
hidrelétricas. Em 2007, a agência havia concedido nove licenças para empreendedores
construírem suas PCHs. Em
2008, foram 25. E de 1º de janeiro a 15 de junho deste ano,
segundo informa a Aneel, foram concedidas 17 autorizações para novas PCHs.
Segundo Jamil Abid, superintendente de gestão e estudos
hidroenergéticos da Aneel, a
agência tem mais 60 projetos
prontos para autorizar, ou 800
MW novos que poderiam ser
gerados em pequenas usinas.
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