São Paulo, sexta-feira, 20 de agosto de 2004

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LUÍS NASSIF

O desafio do MTB

Nos próximos dias, principalmente nós, da mídia, necessitaremos de enorme dose de sangue-frio e capacidade de discernimento. A prisão dos doleiros terá um efeito de rede. Cada doleiro está sendo convidado a apontar cinco de seus maiores investidores.
Nesses anos turvos, pela rede dos doleiros passou de tudo, de caixinha de políticos e caixa dois de empresas até aplicações aparentemente lícitas e outras claramente criminosas. Em muitos casos, o investidor acreditava piamente que estava aplicando em um fundo regularmente registrado no mercado brasileiro. Bancos mais agressivos pegavam esse dinheiro e remetiam por meio de doleiros para contas no MTB. Será possível encontrar de tudo, de pais que mandaram dólares para sustentar filhos no exterior a narcotraficantes.
Em 1997, a CPI dos Precatórios se perdeu por falta de discernimento e excesso de egos -tanto de parlamentares quanto de jornalistas. Criou-se enorme barafunda, espalharam-se provas por todos os lados, uma mixórdia de reportagens irrelevantes das quais se aproveitavam os mais espertos para esconder fatos e evidências.
Aparentemente as investigações, agora, estão sendo conduzidas de forma profissional. Mas já existem cópias de CDs circulando. E as CPIs, hoje em dia, se transformaram em território perigoso, propício a achaques, excessos que, se não forem coibidos a tempo, colocarão em risco a própria democracia brasileira.
Pela possível extensão das contas e a quantidade de correntistas, muito provavelmente o governo irá propor uma lei de anistia, tentando internalizar os recursos de origem não-criminosa. Nesse sentido, a anistia poderá ser uma arma para a repatriação de recursos -que poderão ser carreados para investimento.
Mas não é tarefa fácil. Passa, primeiro, pela separação entre dinheiro com origem comprovada, dinheiro de caixa dois e dinheiro do crime. O primeiro se regulariza, o segundo se perdoa, o terceiro se pune. Passa, também, por transmitir a confiança de que aqueles que aceitarem a anistia e que não estiverem ligados a atos criminosos não serão molestados no futuro.
Uma das fórmulas pensadas é a criação de um tipo especial de investimento externo no Brasil, a partir do qual poderia ser feita a internalização dos recursos.
Seja qual for o caminho, há que se resguardar contra o denuncismo. Essa será a arma a ser utilizada para confundir a opinião pública e misturar culpados e inocentes. Ainda mais estando em período eleitoral, propício a catarses e à amplificação de cada sussurro e sabendo que caixinhas políticas de vários partidos transitavam pelas contas do MTB.

E-mail - Luisnassif@uol.com.br


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