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LUÍS NASSIF
O desafio do MTB
Nos próximos dias, principalmente nós, da mídia,
necessitaremos de enorme dose
de sangue-frio e capacidade de
discernimento. A prisão dos doleiros terá um efeito de rede. Cada doleiro está sendo convidado
a apontar cinco de seus maiores
investidores.
Nesses anos turvos, pela rede
dos doleiros passou de tudo, de
caixinha de políticos e caixa
dois de empresas até aplicações
aparentemente lícitas e outras
claramente criminosas. Em
muitos casos, o investidor acreditava piamente que estava
aplicando em um fundo regularmente registrado no mercado
brasileiro. Bancos mais agressivos pegavam esse dinheiro e remetiam por meio de doleiros para contas no MTB. Será possível
encontrar de tudo, de pais que
mandaram dólares para sustentar filhos no exterior a narcotraficantes.
Em 1997, a CPI dos Precatórios se perdeu por falta de discernimento e excesso de egos
-tanto de parlamentares
quanto de jornalistas. Criou-se
enorme barafunda, espalharam-se provas por todos os lados, uma mixórdia de reportagens irrelevantes das quais se
aproveitavam os mais espertos
para esconder fatos e evidências.
Aparentemente as investigações, agora, estão sendo conduzidas de forma profissional. Mas
já existem cópias de CDs circulando. E as CPIs, hoje em dia, se
transformaram em território
perigoso, propício a achaques,
excessos que, se não forem coibidos a tempo, colocarão em risco
a própria democracia brasileira.
Pela possível extensão das
contas e a quantidade de correntistas, muito provavelmente
o governo irá propor uma lei de
anistia, tentando internalizar os
recursos de origem não-criminosa. Nesse sentido, a anistia
poderá ser uma arma para a repatriação de recursos -que poderão ser carreados para investimento.
Mas não é tarefa fácil. Passa,
primeiro, pela separação entre
dinheiro com origem comprovada, dinheiro de caixa dois e dinheiro do crime. O primeiro se
regulariza, o segundo se perdoa,
o terceiro se pune. Passa, também, por transmitir a confiança
de que aqueles que aceitarem a
anistia e que não estiverem ligados a atos criminosos não serão
molestados no futuro.
Uma das fórmulas pensadas é
a criação de um tipo especial de
investimento externo no Brasil,
a partir do qual poderia ser feita
a internalização dos recursos.
Seja qual for o caminho, há
que se resguardar contra o denuncismo. Essa será a arma a
ser utilizada para confundir a
opinião pública e misturar culpados e inocentes. Ainda mais
estando em período eleitoral,
propício a catarses e à amplificação de cada sussurro e sabendo que caixinhas políticas de vários partidos transitavam pelas
contas do MTB.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
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