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TECNOLOGIA
Empresas vêem telefone como novo meio de distribuição; operadoras dos EUA ainda não oferecem conteúdo
Vídeos pornográficos chegam ao celular
MATT RICHTEL
MICHEL MARRIOTT
DO "NEW YORK TIMES"
O telefone celular, que já toca
músicas, envia e-mails e tira fotos,
agora está oferecendo um recurso
mais quente: pornografia.
Com o advento de redes avançadas de telefonia móvel e da mais
recente geração de celulares equipados com telas maiores e cores
mais brilhantes, a indústria da
pornografia está de olho no celular como lucrativo veículo de distribuição, como aconteceu no
passado com o videocassete.
Nos últimos meses, essa perspectiva convenceu diversos empresários dos Estados Unidos a
tentar seguir o exemplo de seus
colegas na Europa, onde os consumidores já gastam dezenas de
milhões de dólares ao ano com
pornografia para o celular.
As grandes operadoras de telefonia móvel dos Estados Unidos
até agora vêm recusando firmemente a venda de pornografia a
partir dos mesmos menus de conteúdo usados para vender tons de
chamada e games. Mas há sinais
de que a posição delas talvez venha a se abrandar.
A principal associação setorial
da indústria da telefonia móvel
está preparando uma classificação de conteúdo -semelhante à
usada para videogames e filmes-, o que sinaliza que os celulares também poderão ser usados
como o assinante preferir.
Por enquanto, o vídeo na web
para acesso via celular tem qualidade precária. O download das
imagens demora e elas são granuladas, com definição baixa.
Mas Roger Entner, analista do
setor de telefonia sem fio no grupo de pesquisa Ovum, disse que, à
medida que o uso de conexão via
celular com a internet se tornar
mais fácil, e com o surgimento da
classificação de conteúdo, é inevitável que a pornografia conquiste
espaço no mercado de celulares.
"A telefonia móvel oferece todos os componentes que já se
provaram benéficos ao consumo
de entretenimento adulto -privacidade, acesso fácil e, adicionalmente, mobilidade", disse Entner.
Para as operadoras, é uma proposição complicada. Oferecer
conteúdo pornográfico causaria
uma tempestade por parte dos
defensores da decência e poderia
atrair pressão das agências reguladoras ou do Congresso. Mas entregar esse campo a outros protagonistas pode significar deixar de
lado um potencial de lucros milionários.
No momento, as vendas de pornografia via celular nos Estados
Unidos são praticamente zero.
Mas o Yankee Group, uma empresa de pesquisa, estima que até
2009 as vendas de pornografia para celulares cheguem aos US$ 196
milhões, total ainda modesto ante
o US$ 1,2 bilhão estimado para os
tons de chamada.
Mas a probabilidade de que a
pornografia seja cada vez mais
acessível via celular vem causando mobilização dos grupos de defesa da criança. Este mês, a Coalizão Nacional para a Proteção das
Crianças e da Família, organização sem fins lucrativos cujo objetivo é promover a "moralidade
pública", se reuniu com líderes do
setor de telefonia móvel para expressar preocupação quanto à
possibilidade de que os celulares
ofereçam a menores de idade
acesso fácil a material restrito.
"A internet nos pegou de surpresa", disse Jack Samad, vice-presidente sênior do grupo. "Estamos tentando nos manter à
frente da curva" no que tange aos
celulares, pressionando as operadoras a fornecer aos pais recursos
que possibilitem bloquear o acesso de seus filhos a esse tipo de
conteúdo.
A FCC (agência reguladora das
comunicações dos EUA) também
tem preocupações sobre o tema,
disse o porta-voz David Fiske. "A
comissão leva a sério a questão de
material pouco apropriado que
possa chegar a celulares usados
por crianças".
Fiske não quis comentar sobre
as possíveis medidas da FCC a
respeito. Até certo ponto, porém,
as mãos da agência estão atadas,
porque as operadoras de telefonia
móvel não são responsáveis pelos
sites que os usuários visitam na
internet. Mas as operadoras podem ser responsabilizadas, de
acordo com analistas, se tomarem
parte na venda de pornografia a
menores.
No passado, a pornografia ajudou novas tecnologias, como os
gravadores de vídeo, a TV a cabo e
a web, a ganhar popularidade e é
uma fonte de receita para muitas
das grandes empresas de mídia,
entre as quais gigantes como a Time Warner e a Comcast, que têm
canais de TV por assinatura dedicados ao conteúdo pornográfico.
Muitas das pessoas que trabalham no ramo da pornografia não
se deixam desestimular pelas
atuais dificuldades de transmissão de vídeo a celulares. Harvey
Kaplan, diretor de operações de
telefonia móvel da xobile.com,
uma empresa que vende clipes de
dois minutos de sexo explícito para download via celular, disse
acreditar que a sede por conteúdo
relacionado a sexo possa estimular a popularidade dos aparelhos
com acesso à internet.
"As pessoas não vão comprar
num celular capaz de receber vídeo da web para assistir a um trailer de um filme da Disney", disse.
"Mas o comprarão se tiverem cinco minutos de sossego" para assistir a um vídeo de sexo explícito.
A xobile.com foi inaugurada em
abril e Kaplan disse que a cada
mês a empresa vem conquistando
seis mil novos assinantes, que pagam cerca de US$ 0,44 (R$ 1) para
assistir a um clipe. Para usar o serviço, o consumidor se inscreve, de
um computador ou de seu celular,
e fornece seu cartão de crédito no
site da empresa.
O consumidor pode assistir aos
vídeos imediatamente ou baixá-los para assistir mais tarde.
Outra empresa iniciante, a ohmobile.com, inaugurada em
maio, oferece imagens pornográficas e planeja acrescentar vídeos
ao seu serviço no mês que vem. A
empresa é comandada por Jason
Edwards, que por seis anos operou sites pornográficos.
"O mercado de conteúdo adulto
para celulares está hoje no ponto
em que o mercado de conteúdo
adulto para a internet estava dez
anos atrás", disse Edwards, recusando-se a informar quantas pessoas assinam seu serviço móvel,
que geralmente cobra US$ 1,95
(R$ 4,50) por foto e planeja cobrar
US$ 4 (R$ 9,20) por vídeo.
Kaplan, da xobile.com, disse
que o crescimento da pornografia
para celulares na internet permite
que as operadoras de telefonia
sem fio se beneficiem cobrando
pelos minutos de conexão de seus
consumidores quando baixam o
material -sem que precisem se
envolver na transação.
"Quando o acesso telefônico à
internet se torna disponível para
os usuários de celulares, as operadoras de telefonia móvel passam a
desfrutar de um dos meus termos
jurídicos prediletos: negação
plausível de envolvimento", disse.
Os maiores fornecedores de
conteúdo pornográfico planejam
operações na área. "Queremos
nos tornar um dos líderes nesse
setor", disse Steven Hirsch, fundador e presidente da Vivid Entertainment, maior produtora de
filmes sexualmente explícitos dos
Estados Unidos, apontando que o
conteúdo sem fio pode crescer até
30% ante o movimento nacional
atual de US$ 100 milhões ao ano.
"Estamos perfeitamente posicionados, dado o volume de conteúdo de que dispomos."
Embora alguns dos filmes mais
pesados da Vivid possam ser baixados "fora da rede", ou seja, não
por intermédio das grandes operadoras, ele disse que a empresa
está batalhando para conseguir
presença "oficial" diretamente
nos menus dos celulares. Ele disse
que não vai demorar para que as
operadoras resolvam o que ele define como obstáculo fundamental: a verificação de idade. "Creio
que a questão seja acima de tudo a
verificação de idade. Não creio
que seja o conteúdo."
As grandes operadoras disseram que por enquanto não planejam incluir conteúdo sexual em
seus menus. A Cingular Wireless,
por exemplo, afirmou que não
oferece "conteúdo adulto aos seus
consumidores". Mas a Cingular,
maior operadora de telefonia móvel dos EUA, também disse que
não quer nem pode impedir que
as pessoas usem seus aparelhos
para baixar esse tipo de conteúdo.
Tradução de Paulo Migliacci
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