São Paulo, terça-feira, 20 de setembro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TECNOLOGIA

Empresas vêem telefone como novo meio de distribuição; operadoras dos EUA ainda não oferecem conteúdo

Vídeos pornográficos chegam ao celular

MATT RICHTEL
MICHEL MARRIOTT
DO "NEW YORK TIMES"

O telefone celular, que já toca músicas, envia e-mails e tira fotos, agora está oferecendo um recurso mais quente: pornografia.
Com o advento de redes avançadas de telefonia móvel e da mais recente geração de celulares equipados com telas maiores e cores mais brilhantes, a indústria da pornografia está de olho no celular como lucrativo veículo de distribuição, como aconteceu no passado com o videocassete.
Nos últimos meses, essa perspectiva convenceu diversos empresários dos Estados Unidos a tentar seguir o exemplo de seus colegas na Europa, onde os consumidores já gastam dezenas de milhões de dólares ao ano com pornografia para o celular.
As grandes operadoras de telefonia móvel dos Estados Unidos até agora vêm recusando firmemente a venda de pornografia a partir dos mesmos menus de conteúdo usados para vender tons de chamada e games. Mas há sinais de que a posição delas talvez venha a se abrandar.
A principal associação setorial da indústria da telefonia móvel está preparando uma classificação de conteúdo -semelhante à usada para videogames e filmes-, o que sinaliza que os celulares também poderão ser usados como o assinante preferir.
Por enquanto, o vídeo na web para acesso via celular tem qualidade precária. O download das imagens demora e elas são granuladas, com definição baixa.
Mas Roger Entner, analista do setor de telefonia sem fio no grupo de pesquisa Ovum, disse que, à medida que o uso de conexão via celular com a internet se tornar mais fácil, e com o surgimento da classificação de conteúdo, é inevitável que a pornografia conquiste espaço no mercado de celulares.
"A telefonia móvel oferece todos os componentes que já se provaram benéficos ao consumo de entretenimento adulto -privacidade, acesso fácil e, adicionalmente, mobilidade", disse Entner.
Para as operadoras, é uma proposição complicada. Oferecer conteúdo pornográfico causaria uma tempestade por parte dos defensores da decência e poderia atrair pressão das agências reguladoras ou do Congresso. Mas entregar esse campo a outros protagonistas pode significar deixar de lado um potencial de lucros milionários.
No momento, as vendas de pornografia via celular nos Estados Unidos são praticamente zero. Mas o Yankee Group, uma empresa de pesquisa, estima que até 2009 as vendas de pornografia para celulares cheguem aos US$ 196 milhões, total ainda modesto ante o US$ 1,2 bilhão estimado para os tons de chamada.
Mas a probabilidade de que a pornografia seja cada vez mais acessível via celular vem causando mobilização dos grupos de defesa da criança. Este mês, a Coalizão Nacional para a Proteção das Crianças e da Família, organização sem fins lucrativos cujo objetivo é promover a "moralidade pública", se reuniu com líderes do setor de telefonia móvel para expressar preocupação quanto à possibilidade de que os celulares ofereçam a menores de idade acesso fácil a material restrito.
"A internet nos pegou de surpresa", disse Jack Samad, vice-presidente sênior do grupo. "Estamos tentando nos manter à frente da curva" no que tange aos celulares, pressionando as operadoras a fornecer aos pais recursos que possibilitem bloquear o acesso de seus filhos a esse tipo de conteúdo.
A FCC (agência reguladora das comunicações dos EUA) também tem preocupações sobre o tema, disse o porta-voz David Fiske. "A comissão leva a sério a questão de material pouco apropriado que possa chegar a celulares usados por crianças".
Fiske não quis comentar sobre as possíveis medidas da FCC a respeito. Até certo ponto, porém, as mãos da agência estão atadas, porque as operadoras de telefonia móvel não são responsáveis pelos sites que os usuários visitam na internet. Mas as operadoras podem ser responsabilizadas, de acordo com analistas, se tomarem parte na venda de pornografia a menores.
No passado, a pornografia ajudou novas tecnologias, como os gravadores de vídeo, a TV a cabo e a web, a ganhar popularidade e é uma fonte de receita para muitas das grandes empresas de mídia, entre as quais gigantes como a Time Warner e a Comcast, que têm canais de TV por assinatura dedicados ao conteúdo pornográfico.
Muitas das pessoas que trabalham no ramo da pornografia não se deixam desestimular pelas atuais dificuldades de transmissão de vídeo a celulares. Harvey Kaplan, diretor de operações de telefonia móvel da xobile.com, uma empresa que vende clipes de dois minutos de sexo explícito para download via celular, disse acreditar que a sede por conteúdo relacionado a sexo possa estimular a popularidade dos aparelhos com acesso à internet.
"As pessoas não vão comprar num celular capaz de receber vídeo da web para assistir a um trailer de um filme da Disney", disse. "Mas o comprarão se tiverem cinco minutos de sossego" para assistir a um vídeo de sexo explícito.
A xobile.com foi inaugurada em abril e Kaplan disse que a cada mês a empresa vem conquistando seis mil novos assinantes, que pagam cerca de US$ 0,44 (R$ 1) para assistir a um clipe. Para usar o serviço, o consumidor se inscreve, de um computador ou de seu celular, e fornece seu cartão de crédito no site da empresa.
O consumidor pode assistir aos vídeos imediatamente ou baixá-los para assistir mais tarde.
Outra empresa iniciante, a ohmobile.com, inaugurada em maio, oferece imagens pornográficas e planeja acrescentar vídeos ao seu serviço no mês que vem. A empresa é comandada por Jason Edwards, que por seis anos operou sites pornográficos.
"O mercado de conteúdo adulto para celulares está hoje no ponto em que o mercado de conteúdo adulto para a internet estava dez anos atrás", disse Edwards, recusando-se a informar quantas pessoas assinam seu serviço móvel, que geralmente cobra US$ 1,95 (R$ 4,50) por foto e planeja cobrar US$ 4 (R$ 9,20) por vídeo.
Kaplan, da xobile.com, disse que o crescimento da pornografia para celulares na internet permite que as operadoras de telefonia sem fio se beneficiem cobrando pelos minutos de conexão de seus consumidores quando baixam o material -sem que precisem se envolver na transação.
"Quando o acesso telefônico à internet se torna disponível para os usuários de celulares, as operadoras de telefonia móvel passam a desfrutar de um dos meus termos jurídicos prediletos: negação plausível de envolvimento", disse.
Os maiores fornecedores de conteúdo pornográfico planejam operações na área. "Queremos nos tornar um dos líderes nesse setor", disse Steven Hirsch, fundador e presidente da Vivid Entertainment, maior produtora de filmes sexualmente explícitos dos Estados Unidos, apontando que o conteúdo sem fio pode crescer até 30% ante o movimento nacional atual de US$ 100 milhões ao ano. "Estamos perfeitamente posicionados, dado o volume de conteúdo de que dispomos."
Embora alguns dos filmes mais pesados da Vivid possam ser baixados "fora da rede", ou seja, não por intermédio das grandes operadoras, ele disse que a empresa está batalhando para conseguir presença "oficial" diretamente nos menus dos celulares. Ele disse que não vai demorar para que as operadoras resolvam o que ele define como obstáculo fundamental: a verificação de idade. "Creio que a questão seja acima de tudo a verificação de idade. Não creio que seja o conteúdo."
As grandes operadoras disseram que por enquanto não planejam incluir conteúdo sexual em seus menus. A Cingular Wireless, por exemplo, afirmou que não oferece "conteúdo adulto aos seus consumidores". Mas a Cingular, maior operadora de telefonia móvel dos EUA, também disse que não quer nem pode impedir que as pessoas usem seus aparelhos para baixar esse tipo de conteúdo.


Tradução de Paulo Migliacci


Texto Anterior: Fraudes: Ex-chefe da Tyco é condenado a 25 anos de prisão
Próximo Texto: Mais de 2 bilhões no mundo usam telefones móveis
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.