São Paulo, sábado, 20 de setembro de 2008

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Bolsa sobe 9,57%, no melhor dia desde 99

Expectativa de pacote nos EUA impulsiona todas as ações do índice Bovespa, que encerra semana tensa em alta de 1,27%

Risco-país recua 16%; analistas alertam investidor de que crise ainda não foi resolvida e recomendam cautela nos negócios

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A Bovespa foi um dos principais destaques no dia de forte recuperação dos mercados acionários no mundo. A valorização de 9,57% registrada pela Bolsa de Valores de São Paulo ontem representou o melhor pregão em quase uma década.
A alta considerável ajudou a Bovespa a encerrar a semana no azul. Mas os ganhos acumulados no período foram relativamente tímidos, de 1,27%. No mês, o índice Ibovespa (a principal referência local) ainda está com perdas, de 4,7%.
O dólar caiu 5,13%, para R$ 1,831 (leia à pág. B8).
Em Wall Street, o índice Dow Jones subiu 3,35%. Na Europa, a Bolsa de Valores de Londres teve alta de 8,84%.
A mudança de humor nos mercados, movida pela expectativa de que o pacote de socorro que o governo Bush prepara terá impacto suficiente para aliviar a crise do setor financeiro, provocou uma correria por pechinchas, que resultou em alta para todas as 66 ações que formam o Ibovespa. Com isso, o giro financeiro somou R$ 7,67 bilhões ontem, volume 30% superior à média diária registrada no ano.
Antes do pregão de ontem, a maior alta verificada pela Bovespa havia sido no dia 15 de janeiro de 1999, quando avançou 33,4%, em reação à liberação do câmbio feita pelo governo.
"Nesses momentos de euforia, aparece comprador para tudo quanto é ação, na tentativa de não perder oportunidades. É importante que o investidor entenda que a crise não foi resolvida e que a Bolsa não vai agora começar a subir indefinidamente", afirma Luiz Antonio Vaz das Neves, analista da KNA Consultores.
A semana começou tensa, com o colapso do banco americano Lehman Brothers e a necessidade de socorro oficial à seguradora AIG. A Bovespa perdeu 7,59% na segunda.
Ontem o Ibovespa encerrou aos 53.055 pontos, ainda 27,8% abaixo de sua máxima histórica -os 73.516 pontos computados em 20 de maio. No acumulado do ano, o mercado acionário ainda opera no vermelho. A Bovespa amarga desvalorização de 16,95% em 2008.
Mesmo com a escalada da Bolsa, houve 32 ações do Ibovespa que encerraram a semana com baixa acumulada. No pregão de ontem, os papéis que mais subiram superaram os 15% de alta. Entre os ganhos mais fortes, ficaram Cesp PNB (21,75%), Usiminas PNA (18%), Rossi Residencial (17,24%) e Telemar PN (17,23%).
As ações mais tradicionais tiveram altas um pouco menos robustas: Petrobras PN se valorizou em 8,63%, e Vale PNA subiu 6,47%. Para os bancos, as altas foram de 9,42% para Banco do Brasil ON, 8,47% para Itaú PN e 7,42% em Bradesco PN.
A escalada das ações brasileiras ontem refletiu compras expressivas feitas tanto por investidores locais como por estrangeiros, segundo operadores do mercado.

Risco menor
Os estrangeiros também voltaram a comprar títulos da dívida brasileira no exterior, o que fez com que o risco-país tivesse expressivo recuo de 16% ontem, para os 285 pontos. Durante a semana, o indicador de risco chegou a superar os 370 pontos.
Com a piora da crise internacional e a elevação da aversão ao risco, os investidores passaram a se desfazer dos títulos da dívida -o que impulsionou o risco-país-, sem que isso significasse que as dúvidas em relação à solvência do Brasil estivessem crescendo.
Na Bovespa, a saída dos estrangeiros tem tido forte peso na queda que o mercado acionário tem sofrido nos últimos meses. O saldo das operações feitas com capital externo deve ter melhorado ontem, mas até quarta-feira foi registrada saída líquida mensal de R$ 1,48 bilhão. No ano, cerca de R$ 17,5 bilhões em capital externo já deixaram a Bovespa.
Para que o fluxo de recursos externos volte a melhorar, dando novo fôlego à Bolsa de Valores de São Paulo, é fundamental que a crise internacional realmente se alivie. Mas os analistas lembram que, mesmo com a recuperação de ontem, o cenário ainda é muito incerto.
"Apesar da recuperação de quinta e, especialmente, de hoje [ontem], o mercado deve seguir sem tendência no curto prazo, com o noticiário do final de semana e da próxima semana devendo nortear os investidores", afirma Júlio Martins, diretor da Prosper Gestão de Recursos.


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