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Coordenação financeira escapa do G20
Incertezas sobre acordo a respeito da regulamentação do sistema bancário marcam encontro desta semana nos EUA
Para especialistas, grupo de países dá poucos sinais de que montará "estratégias
de saída" conjuntas para reduzir pacotes de socorro
Stefan Wermuth - 26.ago.09/Reuters
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Manifestantes estendem faixa de protesto durante reunião deministros do G20, em Londres
FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK
A poucos dias de um novo encontro dos chefes de Estado das
maiores economias do mundo,
permanece incerto se o chamado G20 (grupo de países do qual
o Brasil participa) conseguirá
chegar a um acordo efetivo sobre uma nova regulamentação
para o sistema bancário.
Há dúvidas também se os
países conseguirão fechar uma
"estratégia de saída" comum
para diminuir os programas para socorrer o mercado adotados
desde o fim de 2008.
Os líderes do G20 vão se reunir na quinta e na sexta-feira
em Pittsburgh, Pensilvânia.
Os EUA, anfitrião do encontro, já antecipam o desejo de
mudar tanto a regulamentação
de seu setor financeiro como os
programas de socorro, que colocaram mais de US$ 12 trilhões à disposição do mercado.
Isso não ocorrerá, necessariamente, de forma coordenada
com os integrantes do G20.
Na sexta-feira, o Fed (o BC
dos EUA) anunciou que interrompeu um programa trilionário para injeção de liquidez e
garantias no mercado de fundos de investimento.
Dois dias antes, o FMI (Fundo Monetário Internacional)
havia dito que seus países-membros deveriam "coordenar" esse tipo de "desmantelamento" de programas.
O próprio Fed também vazou
na sexta-feira uma série de informações sobre como pretende regular o pagamento de bônus a executivos de bancos.
Em resumo, vai cobrar dos
bancos uma política clara de
bônus e salários e, a partir daí,
avaliar se ela não encorajaria
demais os executivos a assumir
riscos excessivos.
As regras não serão, necessariamente, similares às que
França e Alemanha, por exemplo, pretendem adotar.
O próprio quintal
"No auge da crise, os países
tiveram motivos para trabalhar
em medidas conjuntas. Quando as coisas vão ficando mais
calmas, a tendência é olhar
mais para seus próprios problemas", afirma Edwin Truman,
ex-secretário-assistente do Departamento do Tesouro dos
EUA e economista do Institute
for International Economics.
Charles Dallara, diretor do
International Finance Institute, que reúne 375 bancos em 70
países, diz que, do ponto de vista da indústria financeira, o
G20 "começa a perder a coordenação global". "Agora, todos
estão olhando mais para os
seus próprios quintais", afirma.
Os EUA são um dos países
que mais têm pressa em desmantelar alguns de seus programas de socorro e, principalmente, em se livrar de participações acionárias em uma série
de empresas e bancos.
Os resgates financeiros efetivados e o programa de estímulo
de US$ 787 bilhões aprovado
no início do ano representam
os maiores gastos estatais no
país desde a Segunda Guerra.
Quase 9 entre cada 10 empréstimos imobiliários novos
hoje nos EUA são financiados
pelo Estado, que detém o controle das duas maiores empresas do ramo, a Fannie Mae e a
Freddy Mac.
O governo também detém o
controle de 60% da maior montadora do país, a GM, cerca de
um terço de um dos maiores
bancos, o Citigroup, e está por
trás das garantias de trilhões de
dívidas de cartões de crédito e
depósitos bancários como resultado desses programas.
Além disso, 80% da maior seguradora do mundo, a AIG, pertencem hoje ao governo norte-americano -que injetou US$
180 bilhões para salvar a companhia em 2008.
A participação até certo ponto involuntária do Estado em
todos essas operações já vem
sendo usada politicamente
contra o presidente Barack
Obama, frequentemente acusado de "socialista" por ter ampliado o peso do governo sobre
o setor privado.
Há uma semana, em Washington, Obama foi alvo do
maior protesto popular desde
que assumiu em janeiro. "Dezenas de milhares", segundo a
polícia, foram protestar justamente contra o aumento da
participação do Estado na
maior economia do mundo.
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