São Paulo, domingo, 20 de setembro de 2009

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Coordenação financeira escapa do G20

Incertezas sobre acordo a respeito da regulamentação do sistema bancário marcam encontro desta semana nos EUA

Para especialistas, grupo de países dá poucos sinais de que montará "estratégias de saída" conjuntas para reduzir pacotes de socorro

Stefan Wermuth - 26.ago.09/Reuters
Manifestantes estendem faixa de protesto durante reunião deministros do G20, em Londres

FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK

A poucos dias de um novo encontro dos chefes de Estado das maiores economias do mundo, permanece incerto se o chamado G20 (grupo de países do qual o Brasil participa) conseguirá chegar a um acordo efetivo sobre uma nova regulamentação para o sistema bancário.
Há dúvidas também se os países conseguirão fechar uma "estratégia de saída" comum para diminuir os programas para socorrer o mercado adotados desde o fim de 2008.
Os líderes do G20 vão se reunir na quinta e na sexta-feira em Pittsburgh, Pensilvânia.
Os EUA, anfitrião do encontro, já antecipam o desejo de mudar tanto a regulamentação de seu setor financeiro como os programas de socorro, que colocaram mais de US$ 12 trilhões à disposição do mercado.
Isso não ocorrerá, necessariamente, de forma coordenada com os integrantes do G20.
Na sexta-feira, o Fed (o BC dos EUA) anunciou que interrompeu um programa trilionário para injeção de liquidez e garantias no mercado de fundos de investimento.
Dois dias antes, o FMI (Fundo Monetário Internacional) havia dito que seus países-membros deveriam "coordenar" esse tipo de "desmantelamento" de programas.
O próprio Fed também vazou na sexta-feira uma série de informações sobre como pretende regular o pagamento de bônus a executivos de bancos.
Em resumo, vai cobrar dos bancos uma política clara de bônus e salários e, a partir daí, avaliar se ela não encorajaria demais os executivos a assumir riscos excessivos.
As regras não serão, necessariamente, similares às que França e Alemanha, por exemplo, pretendem adotar.

O próprio quintal
"No auge da crise, os países tiveram motivos para trabalhar em medidas conjuntas. Quando as coisas vão ficando mais calmas, a tendência é olhar mais para seus próprios problemas", afirma Edwin Truman, ex-secretário-assistente do Departamento do Tesouro dos EUA e economista do Institute for International Economics.
Charles Dallara, diretor do International Finance Institute, que reúne 375 bancos em 70 países, diz que, do ponto de vista da indústria financeira, o G20 "começa a perder a coordenação global". "Agora, todos estão olhando mais para os seus próprios quintais", afirma.
Os EUA são um dos países que mais têm pressa em desmantelar alguns de seus programas de socorro e, principalmente, em se livrar de participações acionárias em uma série de empresas e bancos.
Os resgates financeiros efetivados e o programa de estímulo de US$ 787 bilhões aprovado no início do ano representam os maiores gastos estatais no país desde a Segunda Guerra.
Quase 9 entre cada 10 empréstimos imobiliários novos hoje nos EUA são financiados pelo Estado, que detém o controle das duas maiores empresas do ramo, a Fannie Mae e a Freddy Mac.
O governo também detém o controle de 60% da maior montadora do país, a GM, cerca de um terço de um dos maiores bancos, o Citigroup, e está por trás das garantias de trilhões de dívidas de cartões de crédito e depósitos bancários como resultado desses programas.
Além disso, 80% da maior seguradora do mundo, a AIG, pertencem hoje ao governo norte-americano -que injetou US$ 180 bilhões para salvar a companhia em 2008.
A participação até certo ponto involuntária do Estado em todos essas operações já vem sendo usada politicamente contra o presidente Barack Obama, frequentemente acusado de "socialista" por ter ampliado o peso do governo sobre o setor privado.
Há uma semana, em Washington, Obama foi alvo do maior protesto popular desde que assumiu em janeiro. "Dezenas de milhares", segundo a polícia, foram protestar justamente contra o aumento da participação do Estado na maior economia do mundo.


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