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ANÁLISE
Saída coordenada não é necessária
JIM O'NEILL
ESPECIAL PARA O "FINANCIAL TIMES"
Os chefes de Estado que se
preparam para a conferência
de cúpula do G20 (Grupo dos
20 maiores países), nesta semana, têm enfatizado a necessidade de uma estratégia "de
saída" coordenada para suas
políticas monetárias e fiscais
expansivas. Mas não está claro
se isso será tão fácil ou tão importante quanto a admirável
cooperação que exibiram após
a quebra do Lehman Brothers.
Quando todos estão sofrendo
do que parece ser o mesmo
choque, o desejo de implementar uma resposta coordenada é
forte e, por causa disso, a capacidade de ação nesse sentido se
amplia. Quando todos estão se
recuperando, o desejo de agir
de forma coordenada se reduz,
e como resultado a colaboração
se torna mais difícil. Isso é provavelmente uma vantagem, já
que alguns países podem precisar de uma estratégia de saída
antes que os outros.
Até o colapso do Lehman
Brothers, embora alguns países
registrassem certo enfraquecimento em seus desempenhos
econômicos, recessões pareciam longe de inevitáveis. As
economias endividadas, que
iam dos Estados Unidos à Rússia, passando pelo Reino Unido,
pareciam se encaminhar para
uma recessão cuja severidade,
no entanto, era discutível.
Outras economias menos sujeitas a bolhas só entraram em
recessão depois da quebra do
Lehman Brothers e da paralisação do sistema mundial de comércio. Alguns dos países em
questão ainda não cumprem os
critérios tradicionais de uma
recessão: dois trimestres consecutivos de queda no PIB
(Produto Interno Bruto). A
Austrália é um deles; a Polônia,
outro. À medida que a crise se
atenua, será que países como
esses realmente precisam de
medidas de apoio fiscal e monetário semelhantes às adotadas em outras nações?
Mais austeridade
Há dois outros aspectos importantes. Ao que parece, os líderes do G20 encorajarão suas
autoridades a adotarem requerimentos de capital mais severos para os bancos, especialmente nos bons momentos, para que eles estejam mais preparados para maus momentos.
Mas nem todos os sistemas
bancários dos países do G20 se
comportaram da mesma maneira antes da crise. A adoção
de normas de capitalização
ajustadas ao ciclo econômico
não será um desafio para todos.
Austrália, China, Brasil, Índia e
talvez Espanha, a despeito do
colapso de seu setor imobiliário, são apenas cinco exemplos.
Seria não só compreensível
como justificável que alguns
bancos centrais considerassem
os novos requerimentos de capitalização um desafio econômico desnecessário. A política
monetária não deveria ser restringida por esse desafio no caso dos países que já têm uma
estrutura regulatória melhor.
Além disso, já que muitos
desses países se beneficiaram
de políticas de estímulo adotadas pelas economias maiores,
seria razoável perguntar se não
deveriam adotar estratégias de
saída mais cedo que os outros.
A Austrália parece ter apresentado seu veredicto, e a expectativa é que o país aperte a política monetária ainda em 2009.
Bolhas financeiras
A cada dia as autoridades
econômicas nos dizem que, de
alguma maneira, prevenirão
bolhas financeiras. Os políticos
que afirmam isso muitas vezes
culpam o setor privado pela crise que estamos vivendo. Mas é
difícil manter o "vigor animal"
de Keynes sob controle.
Caso as autoridades desejem
prevenir bolhas, o uso de metas
de inflação e produção para a fixação de taxas de juros precisará ser suplementado por algo
mais, talvez índices de condições financeiras, em abordagem semelhante à adotada pelo
Banco Central Europeu.
Para alguns países, nos quais
o sistema financeiro continua
intacto, isso sugere que a estratégia de saída deveria ser implementada mais cedo. Por outro lado, nos países cujos sistemas financeiros colapsaram,
especialmente em que resgates
foram bancados por dinheiro
público, a recuperação parece
imprevisível. Nesses casos, estratégias de saída antecipadas
fazem pouco sentido.
A política fiscal oferece um
terceiro argumento para que
saídas coordenadas sejam desnecessárias. O acúmulo de desequilíbrios mundiais, embora
não seja a causa da crise, talvez
a tenha tornado inevitável. A
crise forçou uma resposta política, que inclui medidas de estímulo ao crescimento nos países com índices elevados de
poupança, de uma maneira que
dificilmente teria ocorrido sob
diferentes circunstâncias. A
China é o exemplo mais claro,
mas a Alemanha também agiu.
O recém-eleito governo japonês parece igualmente ciente
desse novo ambiente. Nenhum
desses países, com poupanças
internas altas e muitos anos de
superavit em conta-corrente,
deveria pensar em estratégias
de saída semelhantes àquela
necessária em outros casos.
Os líderes do G20 demonstraram grande sabedoria nos
últimos 12 meses. A criação do
G20 já representa um fantástico desdobramento. Mas seria
melhor não exigirmos que todos os membros façam a mesma coisa ao mesmo tempo.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
JIM O'NEILL é economista-chefe do Goldman
Sachs e criador do termo "Bric"
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