São Paulo, domingo, 20 de outubro de 2002

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ANO DO DRAGÃO

Disparada do dólar vai gerar impacto principalmente nas tarifas que são atreladas à moeda dos EUA

Indexação voltará a assombrar em 2003

LEONARDO SOUZA
GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Depois de oito anos de combate à inflação e aos mecanismos de correção monetária, ao longo do governo Fernando Henrique Cardoso, a indexação da economia voltará a assombrar o país em 2003, já no primeiro ano de mandato do próximo presidente.
De um lado, os preços e contratos que permanecem indexados vão herdar o impacto da disparada do dólar neste ano -especialmente os que seguem a própria moeda americana ou índices como o IGP-DI e o IGP-M, ambos muito influenciados pelo câmbio.
De outro, a alta dos preços que começou em 2001, continuou neste ano e ameaça se repetir no próximo já leva os setores mais bem informados a buscar abrigo na correção monetária. Como exemplo disso, os títulos federais corrigidos por índices de preços estão tendo a maior procura dos últimos anos.
No primeiro caso estão produtos e serviços com poder de afetar todo o resto da economia: gasolina, gás de cozinha, aluguéis, tarifas de telefonia e energia elétrica. Estas, aliás, ficaram atreladas aos IGPs da Fundação Getúlio Vargas após a privatização dos serviços (leia quadro ao lado).
No segundo caso, a busca por indexação tem levado os fundos de investimento atrelados a índices de preços a bater sucessivos recordes de captação nas últimas semanas.
A expectativa de alta da inflação -já se fala em taxas acima de 10% em 2003- movimenta o Banco Central, o mercado financeiro e o mundo político. O BC passou de 4% para 5% o IPCA a ser perseguido no próximo ano e, mesmo com um objetivo menos ambicioso, teve de elevar neste mês seus juros de 18% para 21% anuais. Ainda assim, o mercado duvida do cumprimento da meta.
Guido Mantega, assessor econômico do candidato favorito à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), diz ser favorável à flexibilização da política de metas de inflação -aliás, já iniciada pelo BC. A razão é sabida por todos: para manter o IPCA nos níveis desejados poderá ser necessário produzir uma recessão no primeiro ano de mandato.
Mesmo o acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional) abriu espaço para taxas mais altas no próximo ano, que deverão ajudar a segurar a dívida pública nos patamares desejados.

"Know-how" indexador

Se uma tolerância maior com a inflação tem o poder de evitar uma recessão profunda e beneficiar as contas do governo, a insegurança quanto ao poder aquisitivo pode despertar a vocação indexadora do país.
"Isso é muito perigoso. O Brasil tem longa tradição inflacionária e desenvolveu um sofisticado sistema de indexação, que não foi totalmente desmontado. Veja o exemplo das tarifas de energia elétrica e telefonia. Todo esse "know-how" pode ser acionado de novo. Na verdade, já está sendo acionado pelos setores mais bem informados da economia", diz o economista Paulo Nogueira Batista Júnior, professor da FGV-SP.
Ele critica a indexação das tarifas públicas pelos IGPs, no que é acompanhado pelos dois candidatos que disputam o segundo turno: tanto Lula como José Serra (PSDB) defendem uma revisão negociada desses contratos.
As tarifas de telefonia, tanto do serviço fixo quanto móvel, são reajustadas pelo IGP-DI. As de energia elétrica são corrigidas, entre outros fatores, pelo IGP-M.
Os dois índices, que diferem no prazo de apuração dos preços, têm a mesma composição: são formados pelo IPA (Índice de Preços por Atacado), pelo IPC (Índice de Preços ao Consumidor) e pelo INCC (Índice Nacional do Custo da Construção). Os pesos de cada um desses três índices são, respectivamente, de 60%, 30% e 10%.

Alta do dólar

O IPA reflete todo o aumento de custo da indústria provocada pela alta dólar. Como a indústria não tem conseguido repassar para seus preços todo seu aumento de custo, os IGPs têm ficado, nos últimos anos, acima dos índices voltados para os consumidores.
Até setembro, o IGP-M já acumulava no ano 10,54% -os famosos dois dígitos. O "oficial" IPCA, calculado pelo IBGE, mediu inflação de 5,6% no período.
O IGP-M também corrige contratos como os de aluguel. Segundo Sérgio Lembi, do Secovi (sindicato das construtoras e imobiliárias), quase todos os aluguéis comerciais e boa parte dos residenciais estão atrelados ao índice.


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