São Paulo, domingo, 20 de outubro de 2002

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ARTIGO

Banco Central erra no aumento dos juros e nas metas de inflação

WALTER MOLANO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A decisão do Copom de elevar a taxa de juros foi um erro. Cheira a desespero e é um sinal de fraqueza. Ainda que a recente desvalorização do real tenha deflagrado um aumento em certos preços ao consumidor, a alta pode ser transitória. Ao mesmo tempo, a elevação nas taxas de juros só servirá para exacerbar o déficit fiscal, reduzir o nível de atividade econômica, tornar a possibilidade de moratória mais séria e empurrar o eleitorado brasileiro para os braços de Lula.
É hora de o Banco Central compreender que metas para a inflação são uma má idéia. E sempre foram. De fato, pode-se alegar que o Brasil caiu na confusão em que agora se encontra devido à política de metas inflacionárias. A dívida doméstica brasileira disparou durante o segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso dada a tentativa de manter uma meta para a inflação que era interessante do ponto de vista político, mas ilógica economicamente. Como um país que sofre de falta de disciplina fiscal pode se comprometer com uma taxa de inflação na casa baixa do dígito único logo depois de uma maxidesvalorização? Era suicídio. A única maneira de realizá-lo era um aumento imenso na dívida.
Consequentemente, a carga da dívida aumentou incessantemente durante quatro anos. Não admira que os bancos amassem o regime de metas inflacionárias. São eles que ganham honorários com colocação e transações de títulos. Além disso, o Brasil jamais obteve o resultado pretendido de seu regime de metas inflacionárias. O Banco Central fracassou repetidas vezes em cumprir suas metas de inflação. O nível de atividade econômica do Brasil estagnou, e parece que o PSDB perderá as eleições. Assim, qual era a utilidade?
Talvez as metas inflacionárias fizessem sentido em alguma obscura conferência de econometria, mas, na verdade, representaram um desastre para os 175 milhões de brasileiros. Infelizmente, os diretores do BC brasileiro continuam obcecados com suas metas para a inflação, ainda que a maior parte deles deverá perder o cargo em menos de cem dias e que o novo presidente do país deverá, provavelmente, tentar sair da crise reinflacionando a economia.
Chegou a hora de o Brasil enfrentar seus temores inflacionários. Não existe um fantasma da inflação. A experiência recente demonstra que o medo da inflação vinha sendo exagerado. Indonésia, Tailândia, Rússia, Argentina e Colômbia passaram por imensas desvalorizações sem ver aumento correspondente em suas taxas de inflação. A maxidesvalorização brasileira de 1999 também resultou em resposta inflacionária discreta. Portanto o que seria diferente desta vez?
Sempre surgem choques de oferta depois de maxidesvalorizações, mas eles são transitórios, especialmente em economias moribundas. A produção industrial brasileira está estagnada, e as importações estão despencando. Tudo isso indica um baixo nível de atividade econômica. A economia brasileira está sufocada pelo regime monetário e político de extremo arrocho. A confiança dos investidores e dos consumidores está em queda. Os produtores brasileiros estão perdendo seu poder de preço, graças à desaceleração da economia. Portanto de onde virá a pressão inflacionária?
O Copom não deveria ter elevado as taxas de juros. Os bancos centrais deveriam se concentrar nas pressões inflacionárias na ponta da demanda, e não nos choques de ofertas.
Aumentar as taxas de juros em três pontos percentuais só servirá para exacerbar a crise econômica. Os parafusos monetários serão apertados, as contas fiscais estarão sob ameaça e o nível de atividade econômica terminará reduzido. Isso também suscitará novas questões sobre a solvência, o que aumentará os ágios.
Normalmente, o BC brasileiro age de maneira fria. Mas elevar os juros de 18% para 21% é um ato de desespero. Isso pode ser uma boa notícia, já que o desespero é a quarta resposta emocional a uma perda importante. O estágio seguinte é a aceitação.


Walter Molano, economista, é diretor para América Latina da corretora norte-americana BCP Securities.

Tradução de Paulo Migliacci



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