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EFEITO COPOM
Recuperação das vendas no varejo mostra vigor menor, segundo o IBGE; alta da Selic hoje pode inibir mais
Crédito caro freia retomada do consumo
DA SUCURSAL DO RIO
DA REPORTAGEM LOCAL
A recuperação das vendas no
varejo dá sinais de enfraquecimento, segundo dados divulgados ontem. Os culpados são a
não-recuperação da renda e os juros altos, que encarecem o crédito
e desestimulam o endividamento
das famílias.
A retomada do consumo pode
levar outro golpe hoje, quando o
Copom (Comitê de Política Monetária) decide se eleva a taxa de
juros -Selic-, atualmente em
16,25%. É quase um consenso entre economistas de que ela subirá
entre 0,25 e 0,50 ponto percentual.
Segundo a última ata do Copom, um dos principais motivos
para elevar os juros seria uma
possível inflação de demanda, argumento enfraquecido pelos dados divulgados ontem.
Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística),
o volume de vendas do varejo em
agosto cresceu 7,53% -sobre o
mesmo mês de 2003-, ritmo menor do que o de julho (12,04%).
Desde março deste ano, o comércio crescia a taxas de dois dígitos, graças às vendas a crédito.
Para o instituto, a base de comparação mais elevada a partir de
agosto de 2003 explica, em parte,
a desaceleração do comércio.
Segundo Nilo Lopes de Macedo,
economista do IBGE, como a renda ainda está em queda e o emprego reage lentamente, as famílias não podem assumir novas dívidas antes de pagarem as antigas.
De acordo com ele, o fato de a
renda ainda não ter se recuperado
também prejudica o desempenho
do ramo de híper, supermercados
e demais lojas de alimentos. É que
esses itens são consumidos de
acordo com a disponibilidade de
dinheiro das pessoas. O volume
de vendas desse ramo subiu
4,06% em agosto -havia tido
uma alta de 10,40% em julho.
Dados da Abras (Associação
Brasileira dos Supermercados)
também mostraram arrefecimento. Há dois meses seguidos o setor
registra queda na receita. O faturamento real caiu em setembro
-1,87% sobre agosto-, após recuar 2% em agosto sobre julho.
No ano, o resultado ainda é positivo: o acumulado dos nove primeiros meses de 2004 apresenta
alta de 1,77% em relação ao mesmo período do ano passado.
A entidade também credita o resultado claudicante à recuperação
ainda lenta da renda.
Em outra pesquisa divulgada
ontem o IBGE confirma que a recuperação do rendimento segue
tímida. Enquanto o emprego na
indústria cresceu, pelo quarto
mês consecutivo, a renda do trabalhador no setor estacionou.
"O crescimento [das vendas no
varejo] só é mais consistente
quando é acompanhado da expansão do emprego e da renda.
Quando é impulsionado só pelo
crédito, o ritmo diminui naturalmente com o passar do tempo,
pois há um limite de endividamento", disse Macedo, do IBGE.
O economista Carlos Thadeu de
Freitas, da CNC (Confederação
Nacional do Comércio), concorda. Lembra que o país viveu uma
recuperação "induzida" pelo crédito desde o final de 2003, mas
que era esperada logo em seguida
uma melhora da renda, o que não
houve. "As famílias tomam crédito até um certo limite. Muitas delas estão tendo de reduzir seu consumo agora para pagar dívidas."
A Folha mostrou ontem que,
apesar da recente elevação da taxa
Selic, o volume global de crédito
concedido por instituições financeiras aos consumidores apresentou leve alta no mês passado, em
relação a agosto. Mas especialistas
indicam que a tendência é de inibição desse movimento, se os juros continuarem em alta.
Para o economista Alex Agostini, da Global Invest, o fator fundamental para a "freada" do comércio é a alta dos juros de mercado,
que balizam as taxas do crediário.
Para Freitas, da CNC, esse "esgotamento natural" do impulso
do crédito fará com que o desempenho da economia no último trimestre seja menos vigoroso.
Apesar disso, levantamentos da
CNI (Confederação Nacional da
Indústria) e da Fecomercio apontaram que tanto os empresários
quanto os consumidores seguem
confiantes na recuperação da economia brasileira.
Já a consultoria Global Station
vê, em relatório, um lado positivo
do ritmo do consumo menor: inibe pressão sobre os preços e a necessidade de subir os juros.
(PEDRO SOARES E ADRIANA MATTOS)
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