São Paulo, quinta-feira, 20 de outubro de 2005

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RECEITA ORTODOXA

Para analistas, decisão de ontem do Copom de reduzir Selic em meio ponto percentual era esperada

Mercado prevê novos cortes "conservadores"

DA REPORTAGEM LOCAL

A decisão do Banco Central de ontem, de reduzir a taxa básica em 0,50 ponto percentual, para 19% anuais, era esperada por boa parte do mercado financeiro. Outra parcela afirmava que o corte poderia ser só de 0,25 ponto.
Mesmo que muitos critiquem o conservadorismo do BC -até mesmo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se pronunciou nesse sentido há poucos dias, afirmando que haveria condições de a taxa básica Selic estar abaixo do atual nível-, poucos afirmam acreditar que isso pudesse já ter de fato acontecido.
"Não dava para esperar algo muito diferente da decisão de hoje [ontem]. O BC trabalha mesmo com movimentos graduais, lentos. Havia até bastante gente falando que o BC poderia reduzir a Selic em apenas 0,25 ponto, devido a seu perfil conservador", afirma Maristella Ansanelli, economista-chefe do banco Fibra.
Mas o corte de 0,50 ponto percentual na Selic não foi encarado de forma negativa. Analistas do mercado financeiro viram a decisão como uma sinalização do Banco Central de que a atividade econômica será estimulada.
"Com esse corte, a curva da taxa de juros futuro vem para baixo, e é ela o parâmetro das taxas cobradas na concessão de crédito", diz Luis Fernando Lopes, sócio do Pátria Banco de Negócios.
Roberto Luis Troster, economista-chefe da Febraban, considerou que o aumento do ritmo da queda do juro foi "uma decisão correta do BC, dada a forma como vem sendo conduzido o regime de metas de inflação".
Na opinião do economista, "o cenário externo está tranqüilo, apesar do aumento da volatilidade, e as expectativas de inflação estão convergindo para as metas de longo prazo".

Futuro
Os contratos futuros de juros, com vencimento em até nove meses, estavam projetando queda entre 0,25 ponto a 0,50 ponto percentual. A partir de hoje, o mercado passará a projetar cortes, da mesma magnitude do feito ontem, para os próximos meses e até meados de 2006, segundo avaliação de Lopes. "Isso vai melhorar a situação do tomador de crédito e as contas fiscais", acrescenta.
Na opinião de Lopes, a decisão do Copom mostrou que o Banco Central está mais confiante com a trajetória da inflação e fez uma aposta mais ousada.
O último boletim semanal elaborado pelo Copom a partir de pesquisa feita com instituições financeiras mostrou que a expectativa média do mercado é que a taxa Selic estará em 18% no fim de 2005 -o que embute mais dois cortes de 0,50 ponto nas reuniões do Copom de novembro e dezembro.
Analistas afirmam que somente se o cenário econômico melhorasse surpreendentemente -com os índices de inflação presente e projeções futuras recuando além do esperado- o BC poderia acelerar o afrouxamento da política monetária.
Como o dólar continua em níveis baixos, mesmo com as intervenções da autoridade monetária -que, estima o mercado, já comprou neste mês cerca de US$ 1 bilhão-, um fator potencial de pressão inflacionária segue sem assustar.


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