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Brasileiro já gastou US$ 4,2 bi no exterior
Com real forte, gasto de janeiro a setembro é 21% maior que em igual período de 2005; estrangeiro deixou US$ 3,2 bi no país
Apesar do câmbio desfavorável, superávit das contas externas atinge
US$ 2,2 bi em setembro e acumula US$ 10,1 bi no ano
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os brasileiros estão aproveitando o real valorizado para
gastar cada vez mais em suas
viagens para o exterior. Números do Banco Central mostram
que, entre janeiro e setembro
deste ano, essas despesas somaram US$ 4,215 bilhões,
maior resultado desde 1998
-época em que o dólar valia
aproximadamente R$ 1.
O número inclui todos os
gastos feitos pelos viajantes durante suas estadias em outros
países, em dinheiro ou com cartões de crédito.
O valor apurado nos primeiros nove meses deste ano representa um crescimento de
21,5% em relação ao mesmo período do ano passado.
No final dos anos 1990, a procura por viagens internacionais
teve um forte aumento, graças,
em boa parte, à política cambial
do governo -o BC controlava a
cotação do dólar, mantendo-a
próxima de R$ 1. Com o real
forte, as viagens para outros
países ficavam mais baratas.
Entre 1995 e 1998, brasileiros
gastaram US$ 19 bilhões nas
suas visitas a outros países.
A situação mudou em 1999,
quando um ataque especulativo aproveitou a fragilidade das
contas externas e da situação
fiscal do governo para forçar
uma maxidesvalorização do
real. O regime de câmbio controlado foi abandonado em janeiro daquele ano, e a cotação
do dólar logo ultrapassou a cotação de R$ 2.
Só neste ano as despesas com
turismo internacional estão
voltando aos níveis pré-desvalorização. Os gastos de estrangeiros em visitas ao Brasil, porém, não têm se mostrado sensíveis ao câmbio desfavorável e,
mesmo com o dólar forte, têm
se mantido em alta. Entre janeiro e setembro deste ano, os
estrangeiros que passaram pelo
país gastaram US$ 3,207 bilhões, 12,7% a mais do que no
mesmo período de 2005.
Os maiores gastos com turismo não afetaram, porém, o
equilíbrio das contas externas
do Brasil. Em setembro, o superávit em transações correntes
ficou em US$ 2,276 bilhões, o
que levou o resultado acumulado neste ano a US$ 10,136 bilhões -próximo dos US$ 11,016
bilhões apurados nos primeiros
nove meses de 2005.
O desempenho das exportações continua sendo o principal
fator a impulsionar essas contas. "O superávit de setembro
ficou um pouco acima do esperado, fundamentalmente por
causa do resultado da balança
comercial", disse o chefe do Departamento Econômico do
Banco Central, Altamir Lopes,
ao anunciar os números.
A conta de transações correntes inclui, além da balança
comercial, a balança de serviços e rendas (remessas de lucros, pagamento de juros, gastos com viagens internacionais,
entre outros itens) e transferências unilaterais (dinheiro
enviado ao Brasil por residentes no exterior -que também
está crescendo- e vice-versa).
Apesar de os números gerais
permanecerem positivos, o
economista Antônio Corrêa de
Lacerda, professor da PUC-SP,
ressalta que os dados escondem problemas que podem
surgir mais para a frente.
"O desafio do Brasil não é só
gerar superávit comercial para
as contas externas, é aumentar
a exportação de bens de maior
valor agregado", afirma. Segundo Lacerda, os bons números
da balança refletem o aumento
dos preços de alguns produtos
no mercado internacional, o
que acaba compensando o efeito negativo que a queda do dólar tem sobre as vendas para o
exterior.
Para o economista, é preciso
atenção não só com o valor das
exportações em si mas com a
contribuição que o comércio
exterior pode dar para o crescimento da economia. Essa contribuição, diz Lacerda, será pequena enquanto não se estimular a produção e a venda de produtos de maior valor agregado.
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