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Governo ameaça reduzir remuneração a bancos
Paulo Bernardo diz que medida forçaria instituições financeiras a emprestar mais
Em vez de circular pelo sistema financeiro, por meio de empréstimos, dinheiro do compulsório liberado é usado para comprar títulos do BC
SHEILA D"AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Para tentar fazer com que os
R$ 111 bilhões liberados na economia recentemente circule
entre os bancos, o governo poderá reduzir a remuneração paga nas operações diárias das
instituições financeiras com o
Banco Central.
A medida, segundo informou
à Folha o ministro Paulo Bernardo (Planejamento), seria
uma alternativa para destravar
o mercado, já que os bancos estão preferindo devolver ao BC
parte dos recursos que o governo injetou na economia.
Ela funcionaria como uma
punição às instituições que
usam as sobras de caixa no final do dia para comprar títulos
públicos do BC, em vez de emprestar a outros bancos que
precisam do dinheiro. Esse
comportamento irritou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que ameaçou tomar de volta
os recursos liberados.
O ministro do Planejamento
ressalta, no entanto, que ainda
não há nenhuma decisão tomada sobre o assunto. A proposta
faz parte de um elenco de medidas que são discutidas pela
equipe econômica diante das
turbulências financeiras vividas nos mercados globais.
Mas avisa: "Se precisar, o governo vai fazer". Por enquanto,
Bernardo diz acreditar que a
reação inicial dos bancos (de
reduzir as negociações com outras instituições) é normal
diante do choque que o sistema
financeiro mundial vive.
Para ele, "a partir de determinado momento, isso terá
que virar", mas não fixa um
prazo. O ministro afirma que,
na atual crise, o diagnóstico da
economia brasileira é atualizado diariamente pelo governo, e
novas medidas podem ser adotadas a qualquer momento.
"O mercado ainda não reagiu
a toda a liberação [de compulsório, parcela dos depósitos
captados pelos bancos que é recolhida ao BC] feita pelo governo. Mas também não é possível
que os bancos fiquem sem emprestar por muito tempo. Nossa avaliação é que isso não ficará como está. Afinal, banco
existe para emprestar dinheiro", disse Bernardo.
A decisão de fazer leilões de
dólares, vinculando a liberação
dos recursos à concessão de financiamentos à exportação ou
para a importação, foi um forma encontrada para garantir
que o problema do comércio
exterior seja realmente minimizado com a medida.
Com isso, os bancos que tomarem o dinheiro emprestado
do BC não poderão ficar com os
recursos em caixa. O problema
com os compulsórios é que os
reais liberados com as mudanças nas regras não estão chegando aos bancos menores que
precisam dos recursos.
Normalmente, os bancos que
têm sobra de recursos repassam a outros no chamado mercado interbancário, cobrando
uma taxa próxima da Selic (referência para o BC) mais um
prêmio de risco que varia de
acordo com o tomador.
Se ainda assim houver dinheiro a mais no caixa, a instituição repassa ao BC, que dá
em troca títulos públicos remunerados com base na Selic.
O problema é que, com a crise
de confiança que tomou conta
do mercado, os bancos pararam de negociar entre si.
O BC agiu e liberou compulsório para garantir que os bancos menores tenham liquidez.
Mas o mercado interbancário
continuou travado, e as sobras
acabam voltando para BC.
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