São Paulo, segunda-feira, 20 de outubro de 2008

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Governo ameaça reduzir remuneração a bancos

Paulo Bernardo diz que medida forçaria instituições financeiras a emprestar mais

Em vez de circular pelo sistema financeiro, por meio de empréstimos, dinheiro do compulsório liberado é usado para comprar títulos do BC

SHEILA D"AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Para tentar fazer com que os R$ 111 bilhões liberados na economia recentemente circule entre os bancos, o governo poderá reduzir a remuneração paga nas operações diárias das instituições financeiras com o Banco Central.
A medida, segundo informou à Folha o ministro Paulo Bernardo (Planejamento), seria uma alternativa para destravar o mercado, já que os bancos estão preferindo devolver ao BC parte dos recursos que o governo injetou na economia.
Ela funcionaria como uma punição às instituições que usam as sobras de caixa no final do dia para comprar títulos públicos do BC, em vez de emprestar a outros bancos que precisam do dinheiro. Esse comportamento irritou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que ameaçou tomar de volta os recursos liberados.
O ministro do Planejamento ressalta, no entanto, que ainda não há nenhuma decisão tomada sobre o assunto. A proposta faz parte de um elenco de medidas que são discutidas pela equipe econômica diante das turbulências financeiras vividas nos mercados globais.
Mas avisa: "Se precisar, o governo vai fazer". Por enquanto, Bernardo diz acreditar que a reação inicial dos bancos (de reduzir as negociações com outras instituições) é normal diante do choque que o sistema financeiro mundial vive.
Para ele, "a partir de determinado momento, isso terá que virar", mas não fixa um prazo. O ministro afirma que, na atual crise, o diagnóstico da economia brasileira é atualizado diariamente pelo governo, e novas medidas podem ser adotadas a qualquer momento.
"O mercado ainda não reagiu a toda a liberação [de compulsório, parcela dos depósitos captados pelos bancos que é recolhida ao BC] feita pelo governo. Mas também não é possível que os bancos fiquem sem emprestar por muito tempo. Nossa avaliação é que isso não ficará como está. Afinal, banco existe para emprestar dinheiro", disse Bernardo.
A decisão de fazer leilões de dólares, vinculando a liberação dos recursos à concessão de financiamentos à exportação ou para a importação, foi um forma encontrada para garantir que o problema do comércio exterior seja realmente minimizado com a medida.
Com isso, os bancos que tomarem o dinheiro emprestado do BC não poderão ficar com os recursos em caixa. O problema com os compulsórios é que os reais liberados com as mudanças nas regras não estão chegando aos bancos menores que precisam dos recursos.
Normalmente, os bancos que têm sobra de recursos repassam a outros no chamado mercado interbancário, cobrando uma taxa próxima da Selic (referência para o BC) mais um prêmio de risco que varia de acordo com o tomador.
Se ainda assim houver dinheiro a mais no caixa, a instituição repassa ao BC, que dá em troca títulos públicos remunerados com base na Selic. O problema é que, com a crise de confiança que tomou conta do mercado, os bancos pararam de negociar entre si.
O BC agiu e liberou compulsório para garantir que os bancos menores tenham liquidez. Mas o mercado interbancário continuou travado, e as sobras acabam voltando para BC.


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