São Paulo, terça, 20 de outubro de 1998

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Hyundai vence leilão e fica com Kia e Asia

MARCIO AITH
de Tóquio

Num resultado "caseiro" e polêmico, a Hyundai Motor, maior fabricante de automóveis da Coréia do Sul, ganhou ontem o terceiro leilão realizado para a aquisição das montadoras falidas Kia e Asia, também sul-coreanas.
A Hyundai Motor é uma unidade do grupo Hyundai, maior conglomerado de empresas do país.
A Kia Motors era a segunda montadora do país quando quebrou. Juntamente com a Asia Motors, sua afiliada, ela entrou em colapso em meados do ano passado, marcando o início de um processo de falências generalizadas que caracterizou a entrada da Coréia do Sul na crise financeira asiática.
Kia e Asia haviam ganho fortes incentivos para começar a produzir no Brasil e, com as dificuldades, paralisaram o projeto.
Embora quebradas, as duas empresas só não entraram em liquidação porque o governo da Coréia do Sul praticamente as nacionalizou, socorrendo-as com dinheiro do Korean Development Bank -uma espécie de BNDES sul-coreano, hoje o maior acionista das duas empresas.
A norte-americana Ford, única companhia estrangeira no leilão, era tida como favorita até domingo passado, mas teve sua proposta rejeitada. A Ford teria exigido que os credores abrissem mão de uma parte muito alta dos cerca de US$ 9 bilhões que as duas companhias devem. "Estamos desapontados porque oferecemos a melhor proposta", disse o diretor de relações públicas da Ford para o continente asiático, Ken Brown.
A Ford e sua afiliada japonesa Mazda já são acionistas da Kia (possuem 17% das ações) e uma vitória no leilão permitiria a elas um aumento substancial em seus negócios na Coréia do Sul, país estrategicamente colocado, tendo em vista a proximidade com a China, mercado consumidor de carros que mais cresce no mundo.
O presidente da Hyundai Motor, Chung Mong-kyu, afirmou que convidará outros investidores (incluindo montadoras estrangeiras como a Ford) a tomarem parte da compra da Kia e da Asia. Apesar de ter participado e ganho o leilão, a Hyundai Motor também passa por enormes dificuldades financeiras.
O leilão foi promovido pelos credores das duas empresas, ambas afiliadas do grupo Kia.
Até o anúncio do resultado de ontem, imaginava-se que o governo da Coréia do Sul estaria "torcendo" para a Ford. Isso porque o presidente Kim Dae Jung tenta a todo o custo abrir o país ao capital estrangeiro e reduzir o poder dos conglomerados.
Nos negócios, a Coréia do Sul é tida como um dos países mais xenófobos do mundo (avesso a pessoas e a coisas estrangeiras).
O presidente da Kia Motors, Lee Jong-dae, disse que a Ford foi desqualificada por critérios técnicos.
Os dois leilões anteriores foram considerados nulos pelos credores, que não ficaram satisfeitos com as propostas das candidatas.
Os credores também podem anular o leilão de ontem, mas o governo sinalizou que está disposto a forçá-los a aceitar a Hyundai como vencedora.



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