São Paulo, terça-feira, 20 de novembro de 2007

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Giambiagi chefia departamento do BNDES

Economista afastado do Ipea assumirá cargo de comando no banco, mas com pouca voz no debate macroeconômico

Um dos quatro economistas do instituto barrados pelo novo presidente, Marcio Pochmann, ele evita comentar novas funções

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Afastado da coordenação do Grupo de Acompanhamento Conjuntural do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), o economista Fábio Giambiagi assumirá a chefia do Departamento de Gestão de Risco do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), instituição da qual é funcionário de carreira.
Tida como "desenvolvimentista", a nova direção do Ipea afastou na semana passada Giambiagi e mais três pesquisadores não-alinhados com essa linha de pensamento econômico: Otávio Tourinho (também funcionário do BNDES), Gervásio Rezende e Regis Bonelli (ambos aposentados do Ipea).
Os quatro são defensores do corte de gastos públicos, em desacordo com a visão da atual diretoria do Ipea, comandado por Marcio Pochmann.
Giambiagi retorna, porém, ao BNDES com um cargo de destaque: a função de chefe de departamento está na hierarquia do banco atrás apenas das de diretor e superintendente.
O economista terá, porém, menos visibilidade. Dedicada a classificar o risco das empresas que tomam empréstimo no banco, a área é extremamente técnica e não permite muito espaço para a discussão macroeconômica, da qual o economista foi um dos protagonistas nos últimos anos.
Procurado, Giambiagi evitou confirmar sua nomeação: "Está mais ou menos encaminhada, mas ainda é uma possibilidade." A Folha apurou, porém, que a diretoria do banco já definiu seu nome para o posto.
Giambiagi estará subordinado à diretoria de Planejamento do banco de fomento, comandada por João Carlos Ferraz. Levado para o BNDES pelo atual presidente do banco, Luciano Coutinho, Ferraz também é "desenvolvimentista" e se aproxima ideologicamente dos economistas que hoje dirigem o Ipea.
Ao assumir a presidência do Ipea em agosto, Pochmann, ex-secretário de Marta Suplicy em São Paulo, mudou cinco dos seis diretores do instituto e nomeou para a diretoria de Estudos Macroeconômicos o economista João Sicsú, "desenvolvimentista" e defensor do aumento do gasto público para estimular o crescimento.

Na defensiva
Giambiagi evitou polemizar em torno de sua saída. "Não estou me manifestando sobre o assunto. É uma decisão interna do Ipea. O Ipea tem o direito de não renovar o contrato."
Por meio de um convênio firmado com o BNDES, Giambiagi está no Ipea desde janeiro de 2004. Seu salário, porém, continuou sendo pago pelo banco. Tourinho também trabalha sob a mesma condição. Desde os anos 1980, as duas instituições têm um acordo de cooperação que permite ceder funcionários com objetivos específicos, sem a perda de vínculo.
Segundo o BNDES, o convênio "cumpriu seus objetivos". O banco afirma que Giambiagi apresentou três relatórios sobre a sua atuação no Ipea.
Já o Ipea informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que aguarda até 7 de dezembro a apresentação de um relatório dos funcionários do BNDES. Segundo a instituição, convênios com pesquisadores de outros órgãos "serão mantidos e ampliados dentro da perspectiva de pensar o desenvolvimento do Brasil no longo prazo".
O Ipea nega qualquer expurgo de cunho ideológico e diz ainda que "não houve afastamento de pesquisadores", mas sim a decisão "administrativa" de não renovar o convênio e de aposentar, de fato, os dois pesquisadores da casa que continuavam trabalhando.


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