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Dólar vai a R$ 2,39 com aposta na BM&F e fuga de estrangeiro
Ação do BC não consegue conter alta da moeda americana, que tem valorização de 53% desde agosto e 10% neste mês
Saída de dólar nas 2 primeiras semanas do mês vai a
US$ 1,9 bi na conta das movimentações financeiras; no ano chega a US$ 34 bi
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Com o aprofundamento da
crise econômica global, o dólar
superou a barreira dos R$ 2,40
durante as operações de ontem
e encerrou vendido em sua
mais elevada cotação desde
maio de 2006, a R$ 2,39 (alta de
2,71%). No mês, apesar das intervenções do Banco Central, a
moeda americana já subiu
10,65%; no ano, 34,5%.
A disparada do dólar pressiona a inflação e desestabiliza a
cadeia produtiva do país, que,
após anos de real forte, usa
muitos insumos importados.
O dólar começou o mês de
agosto em torno de R$ 1,56.
Desde então, subiu 53% diante
do real. Essa apreciação rápida
e elevada do dólar tem ocorrido
em um cenário de aumento da
saída de recursos do país.
Segundo o BC, a remessa de
dólar ao exterior superou o ingresso em US$ 877 milhões nas
primeiras duas semanas deste
mês. No mesmo período de
2007, houve entrada líquida de
US$ 3,182 bilhões. As saídas de
dólares têm se concentrado nas
chamadas operações financeiras, que contabilizam o fluxo de
empréstimos e investimentos
externos no país e excluem a
balança comercial (positiva).
Nas duas primeiras semanas
do mês, esse saldo ficou negativo em US$ 1,962 bilhão -US$
442 milhões na primeira e US$
1,520 na segunda. No ano, está
negativo em US$ 34,2 bilhões.
Se forem considerados apenas os últimos dois meses,
quando a crise externa se agravou, a fuga de capital pela conta
financeira do fluxo cambial supera os US$ 13 bilhões -excluindo-se o comércio exterior.
As expectativas não são favoráveis ao real até o fim do ano. A
última pesquisa do BC com
cem instituições financeiras
prevê o dólar a R$ 2,10 no fim
de 2008. Mas já há quem afirme
que estará em níveis ainda mais
elevados em dezembro.
"O dólar está se fortalecendo
globalmente. Não adiantaria o
BC começar a intervir artificialmente visando derrubar as
cotações a qualquer custo. Isso
apenas estimularia especulações contra o real", afirma Roberto Padovani, estrategista-chefe do banco WestLB. "Acho
que é mais forte a tendência de
o dólar estar mais perto dos R$
2,20 no fim do ano."
O BC tem se mantido firme
nas atuações, mas sem sucesso
em deter a queda do real. O máximo que consegue é evitar que
o dólar suba mais, apesar dos
mais de US$ 50 bilhões já usados pelo BC no câmbio. Desde
2002, quando disparou 53%,
que a moeda americana não encerra um ano em alta.
Além da fuga de recursos externos, os estrangeiros montaram elevadas posições no mercado futuro nas quais lucram se
o dólar se mantiver em alta. Isso significa que, aos estrangeiros, interessa neste momento
que o dólar não recue.
"A pressão do mercado sobre
o câmbio é forte. As elevadas
posições "compradas" em dólar
acabam por forçar as cotações
para cima. O movimento atual
é exatamente o inverso do que
vivíamos até o começo de agosto", diz Vanderlei Arruda, gerente de câmbio da corretora
Souza Barros.
Ao se elevarem, as "posições
compradas" indicam que há
mais investidores apostando
na alta da moeda estrangeira.
Os últimos dados da BM&F
mostram que os estrangeiros
estão com "posições compradas" líquidas de US$ 13,5 bilhões. Há dois meses, essa cifra
girava em torno de US$ 5 bilhões. Ou seja, essas apostas
mais do que dobraram nesse
período de agudização da crise.
Ontem o BC realizou intervenções em várias frentes. Primeiro vendeu "swap" cambial
(papéis que rendem a variação
do câmbio), num total de US$
224 milhões. Depois vendeu
US$ 1,07 bilhão com compromisso de recompra. Ao atuar, o
BC tem tentado estimular a
oferta de crédito à exportação.
Ontem o BC também divulgou que a contratação de ACC
(Adiantamentos de Contrato
de Câmbio) na semana passada, uma das modalidades mais
usadas no financiamento à exportação, somou US$ 977 milhões, uma alta de 150% em relação à semana anterior.
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