São Paulo, quinta-feira, 20 de novembro de 2008

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Dólar vai a R$ 2,39 com aposta na BM&F e fuga de estrangeiro

Ação do BC não consegue conter alta da moeda americana, que tem valorização de 53% desde agosto e 10% neste mês

Saída de dólar nas 2 primeiras semanas do mês vai a US$ 1,9 bi na conta das movimentações financeiras; no ano chega a US$ 34 bi

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Com o aprofundamento da crise econômica global, o dólar superou a barreira dos R$ 2,40 durante as operações de ontem e encerrou vendido em sua mais elevada cotação desde maio de 2006, a R$ 2,39 (alta de 2,71%). No mês, apesar das intervenções do Banco Central, a moeda americana já subiu 10,65%; no ano, 34,5%.
A disparada do dólar pressiona a inflação e desestabiliza a cadeia produtiva do país, que, após anos de real forte, usa muitos insumos importados.
O dólar começou o mês de agosto em torno de R$ 1,56. Desde então, subiu 53% diante do real. Essa apreciação rápida e elevada do dólar tem ocorrido em um cenário de aumento da saída de recursos do país.
Segundo o BC, a remessa de dólar ao exterior superou o ingresso em US$ 877 milhões nas primeiras duas semanas deste mês. No mesmo período de 2007, houve entrada líquida de US$ 3,182 bilhões. As saídas de dólares têm se concentrado nas chamadas operações financeiras, que contabilizam o fluxo de empréstimos e investimentos externos no país e excluem a balança comercial (positiva).
Nas duas primeiras semanas do mês, esse saldo ficou negativo em US$ 1,962 bilhão -US$ 442 milhões na primeira e US$ 1,520 na segunda. No ano, está negativo em US$ 34,2 bilhões.
Se forem considerados apenas os últimos dois meses, quando a crise externa se agravou, a fuga de capital pela conta financeira do fluxo cambial supera os US$ 13 bilhões -excluindo-se o comércio exterior.
As expectativas não são favoráveis ao real até o fim do ano. A última pesquisa do BC com cem instituições financeiras prevê o dólar a R$ 2,10 no fim de 2008. Mas já há quem afirme que estará em níveis ainda mais elevados em dezembro.
"O dólar está se fortalecendo globalmente. Não adiantaria o BC começar a intervir artificialmente visando derrubar as cotações a qualquer custo. Isso apenas estimularia especulações contra o real", afirma Roberto Padovani, estrategista-chefe do banco WestLB. "Acho que é mais forte a tendência de o dólar estar mais perto dos R$ 2,20 no fim do ano."
O BC tem se mantido firme nas atuações, mas sem sucesso em deter a queda do real. O máximo que consegue é evitar que o dólar suba mais, apesar dos mais de US$ 50 bilhões já usados pelo BC no câmbio. Desde 2002, quando disparou 53%, que a moeda americana não encerra um ano em alta.
Além da fuga de recursos externos, os estrangeiros montaram elevadas posições no mercado futuro nas quais lucram se o dólar se mantiver em alta. Isso significa que, aos estrangeiros, interessa neste momento que o dólar não recue.
"A pressão do mercado sobre o câmbio é forte. As elevadas posições "compradas" em dólar acabam por forçar as cotações para cima. O movimento atual é exatamente o inverso do que vivíamos até o começo de agosto", diz Vanderlei Arruda, gerente de câmbio da corretora Souza Barros.
Ao se elevarem, as "posições compradas" indicam que há mais investidores apostando na alta da moeda estrangeira.
Os últimos dados da BM&F mostram que os estrangeiros estão com "posições compradas" líquidas de US$ 13,5 bilhões. Há dois meses, essa cifra girava em torno de US$ 5 bilhões. Ou seja, essas apostas mais do que dobraram nesse período de agudização da crise.
Ontem o BC realizou intervenções em várias frentes. Primeiro vendeu "swap" cambial (papéis que rendem a variação do câmbio), num total de US$ 224 milhões. Depois vendeu US$ 1,07 bilhão com compromisso de recompra. Ao atuar, o BC tem tentado estimular a oferta de crédito à exportação.
Ontem o BC também divulgou que a contratação de ACC (Adiantamentos de Contrato de Câmbio) na semana passada, uma das modalidades mais usadas no financiamento à exportação, somou US$ 977 milhões, uma alta de 150% em relação à semana anterior.


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