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"Detalhes" seguram venda da Nossa Caixa
Afirmação é de Mantega, após reunião entre Lula e Serra no Planalto; forma de pagamento é maior entrave do negócio
Ações de banco estatal paulista subiram 99% desde início das negociações, em maio; no mesmo período, a Bovespa caiu 54%
SHEILA D'AMORIM
SIMONE IGLESIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro Guido Mantega
(Fazenda) disse que ainda faltam "detalhes técnicos" para o
governo paulista fechar a venda
da Nossa Caixa para o Banco do
Brasil, cujo anúncio era aguardado ontem. A declaração foi
feita após reunião do presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
com o governador de São Paulo,
José Serra (PSDB), e Mantega
no Palácio do Planalto.
"A decisão de fazer a aquisição já foi tomada no passado.
Faltam detalhes técnicos, como definir valor geral, em que
condições vai ser feito [o pagamento], quais são os ativos que
permanecem", disse Mantega.
Serra disse que essa é "uma
questão que está sendo levada
pelo BB e pela Nossa Caixa, não
está sendo levada no plano político." "É um assunto sempre
delicado que envolve mercado
de ações, CVM [Comissão de
Valores Mobiliários], e nós não
tomamos nenhuma decisão a
esse respeito porque não cabe à
instância política tomar essa
decisão", afirmou o tucano.
Desde o início das negociações entre os bancos, em maio,
as ações da Nossa Caixa subiram 99,22%. No período, a Bovespa caiu 53,79% (Ibovespa).
Segundo a Folha apurou, até
o encontro de ontem não havia
acordo sobre a forma de pagamento. O BB não quer desembolsar a quantia acertada em
dinheiro porque teme reduzir
muito a sua liquidez num momento de crise em que a instituição está atuando fortemente para tentar garantir que bancos menores tenham recursos
para suas operações.
Com isso, o BB queria quitar
a operação, ou pelo menos parte dela, com ações do banco. A
proposta não é atraente para
Serra, que prefere dinheiro vivo para poder fazer investimentos nos dois últimos anos
de sua gestão e se cacifar como
candidato à sucessão de Lula.
Conforme antecipou a Folha, o valor do negócio foi fechado há cerca de duas semanas em R$ 6,4 bilhões. A quantia pode sofrer alguns ajustes
dependendo de acertos de créditos e débitos do banco paulista e também uma oferta a acionistas minoritários. Com isso,
poderia chegar a R$ 7 bilhões.
Esse valor representa mais
da metade dos recursos que foram liberados para o BB comprar carteiras de crédito e bancos inteiros, após o Banco Central mudar as regras de recolhimento compulsório (parcela
dos depósitos captados pelo
banco que fica obrigatoriamente parada nos cofres do BC).
Desse montante, o BB tinha
reservado R$ 6 bilhões para
compra de carteiras de crédito
consignado, de veículos e para
realização de empréstimos diretos, garantidos por outros financiamentos feitos pelas instituições que precisam de dinheiro neste momento.
Para os outros R$ 5 bilhões
não havia uma definição específica. A idéia era usá-los justamente para aquisições de bancos, já que o BB e a Caixa Econômica obtiveram autorização
legal para ir às compras com a
edição pelo governo da MP 443.
Até então, eles não podiam adquirir instituições privadas.
Engenharia financeira
Com isso, a idéia do BB é pagar parte do valor acertado com
Serra em ações. No entanto, isso exigirá uma engenharia financeira paralela, já que o governador precisa de um prazo
- que pode ser de até dois anos
- para vender essas ações no
mercado.
Nesse caso, o BB precisaria
garantir a Serra a manutenção
de um preço fixado para as
ações no momento da conclusão da negociação.
O pagamento em ações também é interessante para o BB
porque ajuda o banco a se encaixar nas regras do Novo Mercado da Bovespa, classificação
dada a empresas com padrões
de governança corporativa elevados, que protegem os acionistas minoritários.
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