São Paulo, quinta-feira, 20 de novembro de 2008

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"Detalhes" seguram venda da Nossa Caixa

Afirmação é de Mantega, após reunião entre Lula e Serra no Planalto; forma de pagamento é maior entrave do negócio

Ações de banco estatal paulista subiram 99% desde início das negociações, em maio; no mesmo período, a Bovespa caiu 54%

SHEILA D'AMORIM
SIMONE IGLESIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro Guido Mantega (Fazenda) disse que ainda faltam "detalhes técnicos" para o governo paulista fechar a venda da Nossa Caixa para o Banco do Brasil, cujo anúncio era aguardado ontem. A declaração foi feita após reunião do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), e Mantega no Palácio do Planalto.
"A decisão de fazer a aquisição já foi tomada no passado. Faltam detalhes técnicos, como definir valor geral, em que condições vai ser feito [o pagamento], quais são os ativos que permanecem", disse Mantega.
Serra disse que essa é "uma questão que está sendo levada pelo BB e pela Nossa Caixa, não está sendo levada no plano político." "É um assunto sempre delicado que envolve mercado de ações, CVM [Comissão de Valores Mobiliários], e nós não tomamos nenhuma decisão a esse respeito porque não cabe à instância política tomar essa decisão", afirmou o tucano.
Desde o início das negociações entre os bancos, em maio, as ações da Nossa Caixa subiram 99,22%. No período, a Bovespa caiu 53,79% (Ibovespa).
Segundo a Folha apurou, até o encontro de ontem não havia acordo sobre a forma de pagamento. O BB não quer desembolsar a quantia acertada em dinheiro porque teme reduzir muito a sua liquidez num momento de crise em que a instituição está atuando fortemente para tentar garantir que bancos menores tenham recursos para suas operações.
Com isso, o BB queria quitar a operação, ou pelo menos parte dela, com ações do banco. A proposta não é atraente para Serra, que prefere dinheiro vivo para poder fazer investimentos nos dois últimos anos de sua gestão e se cacifar como candidato à sucessão de Lula.
Conforme antecipou a Folha, o valor do negócio foi fechado há cerca de duas semanas em R$ 6,4 bilhões. A quantia pode sofrer alguns ajustes dependendo de acertos de créditos e débitos do banco paulista e também uma oferta a acionistas minoritários. Com isso, poderia chegar a R$ 7 bilhões.
Esse valor representa mais da metade dos recursos que foram liberados para o BB comprar carteiras de crédito e bancos inteiros, após o Banco Central mudar as regras de recolhimento compulsório (parcela dos depósitos captados pelo banco que fica obrigatoriamente parada nos cofres do BC).
Desse montante, o BB tinha reservado R$ 6 bilhões para compra de carteiras de crédito consignado, de veículos e para realização de empréstimos diretos, garantidos por outros financiamentos feitos pelas instituições que precisam de dinheiro neste momento.
Para os outros R$ 5 bilhões não havia uma definição específica. A idéia era usá-los justamente para aquisições de bancos, já que o BB e a Caixa Econômica obtiveram autorização legal para ir às compras com a edição pelo governo da MP 443. Até então, eles não podiam adquirir instituições privadas.

Engenharia financeira
Com isso, a idéia do BB é pagar parte do valor acertado com Serra em ações. No entanto, isso exigirá uma engenharia financeira paralela, já que o governador precisa de um prazo - que pode ser de até dois anos - para vender essas ações no mercado.
Nesse caso, o BB precisaria garantir a Serra a manutenção de um preço fixado para as ações no momento da conclusão da negociação.
O pagamento em ações também é interessante para o BB porque ajuda o banco a se encaixar nas regras do Novo Mercado da Bovespa, classificação dada a empresas com padrões de governança corporativa elevados, que protegem os acionistas minoritários.


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