São Paulo, quinta-feira, 20 de novembro de 2008

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EUA têm maior queda de preços em 61 anos

Consumidores estão comprando menos, à espera de que os preços caiam; em outubro, deflação foi de 1%, a maior desde 1947

Bolsa de Valores de Nova York registrou forte queda, puxada por baixas nas ações da GM e da Ford e por previsão pessimista do Fed

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

O fantasma da deflação ronda os EUA. A baixa generalizada nos preços da economia, esperada por alguns analistas, foi confirmada pela divulgação, ontem, do indicador CPI, o índice de preços ao consumidor dos EUA, que apontou queda de 1% em outubro. É a maior queda mensal desde fevereiro de 1947, quando o índice começou a ser aferido pelo Departamento de Trabalho do país.
Em setembro, havia ficado estável, e esperava-se queda de 0,8% para outubro. Isso mostra que as pressões inflacionárias foram eliminadas rapidamente, e os preços estão caindo nas principais áreas da economia.
Quer dizer, as pessoas estão comprando menos na expectativa de que os preços baixem no futuro, e essa demanda menor leva a uma baixa generalizada dos preços, numa profecia auto-realizável.
Isso é particularmente grave numa economia como a norte-americana, em que os gastos do consumidor representam cerca de 70% do PIB, e pode dar início a um ciclo vicioso como o que levou à estagnação do Japão nos anos 90.
A baixa de outubro foi puxada pela queda nos preços de energia e de transporte. Ontem também foi divulgada queda em outro índice, o de construção de novas moradias.

Maiores no futuro
Para o Centro de Pesquisa Econômica e de Política (CEPR, na sigla em inglês), de Washington, as quedas vão se acentuar nos próximos meses, levadas pela diminuição nos preços dos importados causada pelo fortalecimento do dólar. Mas o CEPR acha que, se o preço das mercadorias subir e o dólar cair quando o principal da crise financeira atual passar, então a situação pode ser reverter rapidamente.
"A queda dos preços vai ajudar a economia a pagar menos por vários materiais brutos", disse à Folha Dean Baker, co-diretor do CEPR. "Se isso fizer parte de uma espiral descendente, no entanto, então poderemos ver conseqüências seriamente negativas." Empresas deixarão de investir, acredita Baker, e o desemprego aumentará. "Meu palpite, no entanto, é que isso não acontecerá."
A divulgação do índice acontece num dia pródigo de notícias ruins para a economia local. A crise por que passam as três principais montadoras norte-americanas puxou as Bolsas para baixo, fazendo com que o índice industrial Dow Jones fechasse abaixo de 8.000 pontos pela primeira vez desde março de 2003. Durante o pregão, os papéis da GM atingiram baixa recorde de 66 anos, e os da Ford, de 26 anos.
Horas antes, o Fed havia divulgado as atas da última reunião de seu comitê de mercado aberto, em que calcula que a atividade econômica nos Estados Unidos continuará em recessão por até um ano.

"É deflação"
O "núcleo" do índice divulgado ontem, que exclui preços mais voláteis (alimentos e energia) e é considerado um indicador mais preciso da movimentação da economia, também teve variação negativa, de 0,1%, em sua primeira deflação desde 1982. A alta do "núcleo" acumulada no ano é de 2,2%.
No índice geral, os setores que contribuíram mais para a queda foram energia, com 8,6%, puxada pela baixa no preço do petróleo, transportes, com 5,4%, e vestuário, com 1%.
"Isso é mais do que uma desaceleração, é uma contração plena", disse James O'Sullivan, economista do UBS. "Se você extrapolar, é deflação."


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