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EUA têm maior queda de preços em 61 anos
Consumidores estão comprando menos, à espera de que os preços caiam; em outubro, deflação foi de 1%, a maior desde 1947
Bolsa de Valores de Nova York registrou forte queda, puxada por baixas nas
ações da GM e da Ford e por previsão pessimista do Fed
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
O fantasma da deflação ronda os EUA. A baixa generalizada nos preços da economia, esperada por alguns analistas, foi
confirmada pela divulgação,
ontem, do indicador CPI, o índice de preços ao consumidor
dos EUA, que apontou queda
de 1% em outubro. É a maior
queda mensal desde fevereiro
de 1947, quando o índice começou a ser aferido pelo Departamento de Trabalho do país.
Em setembro, havia ficado
estável, e esperava-se queda de
0,8% para outubro. Isso mostra
que as pressões inflacionárias
foram eliminadas rapidamente, e os preços estão caindo nas
principais áreas da economia.
Quer dizer, as pessoas estão
comprando menos na expectativa de que os preços baixem no
futuro, e essa demanda menor
leva a uma baixa generalizada
dos preços, numa profecia auto-realizável.
Isso é particularmente grave
numa economia como a norte-americana, em que os gastos do
consumidor representam cerca
de 70% do PIB, e pode dar início a um ciclo vicioso como o
que levou à estagnação do Japão nos anos 90.
A baixa de outubro foi puxada pela queda nos preços de
energia e de transporte. Ontem
também foi divulgada queda
em outro índice, o de construção de novas moradias.
Maiores no futuro
Para o Centro de Pesquisa
Econômica e de Política
(CEPR, na sigla em inglês), de
Washington, as quedas vão se
acentuar nos próximos meses,
levadas pela diminuição nos
preços dos importados causada
pelo fortalecimento do dólar.
Mas o CEPR acha que, se o preço das mercadorias subir e o
dólar cair quando o principal da
crise financeira atual passar,
então a situação pode ser reverter rapidamente.
"A queda dos preços vai ajudar a economia a pagar menos
por vários materiais brutos",
disse à Folha Dean Baker, co-diretor do CEPR. "Se isso fizer
parte de uma espiral descendente, no entanto, então poderemos ver conseqüências seriamente negativas." Empresas
deixarão de investir, acredita
Baker, e o desemprego aumentará. "Meu palpite, no entanto,
é que isso não acontecerá."
A divulgação do índice acontece num dia pródigo de notícias ruins para a economia local. A crise por que passam as
três principais montadoras
norte-americanas puxou as
Bolsas para baixo, fazendo com
que o índice industrial Dow Jones fechasse abaixo de 8.000
pontos pela primeira vez desde
março de 2003. Durante o pregão, os papéis da GM atingiram
baixa recorde de 66 anos, e os
da Ford, de 26 anos.
Horas antes, o Fed havia divulgado as atas da última reunião de seu comitê de mercado
aberto, em que calcula que a
atividade econômica nos Estados Unidos continuará em recessão por até um ano.
"É deflação"
O "núcleo" do índice divulgado ontem, que exclui preços
mais voláteis (alimentos e
energia) e é considerado um indicador mais preciso da movimentação da economia, também teve variação negativa, de
0,1%, em sua primeira deflação
desde 1982. A alta do "núcleo"
acumulada no ano é de 2,2%.
No índice geral, os setores
que contribuíram mais para a
queda foram energia, com
8,6%, puxada pela baixa no preço do petróleo, transportes,
com 5,4%, e vestuário, com 1%.
"Isso é mais do que uma desaceleração, é uma contração
plena", disse James O'Sullivan,
economista do UBS. "Se você
extrapolar, é deflação."
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