São Paulo, terça-feira, 20 de dezembro de 2005

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CRISE NO AR

Assembléia ocorre em meio a debate judicial, e há dúvidas sobre validade da decisão; plano de recuperação é aprovado

Credor da Varig rejeita proposta de Tanure

JANAINA LAGE
DA FOLHA ONLINE, NO RIO

Os credores da Varig rejeitaram em assembléia ontem a proposta do grupo Docas, do empresário Nelson Tanure, de compra das ações da FRB-Par (Fundação Ruben Berta Participações), controladora da companhia aérea.
Descartada a proposta de Tanure, os credores decidiram aprovar o plano de recuperação elaborado pela administração da companhia aérea. Ainda existem dúvidas, no entanto, sobre a validade da assembléia. A administradora judicial da Varig, a consultoria Deloitte, deu início à assembléia seis horas depois do previsto em razão de uma batalha jurídica travada no STJ (Superior Tribunal de Justiça) entre advogados do grupo Varig. A assembléia começou por volta das 15h, apesar de o STJ ter decidido manter uma liminar que suspendia a reunião.
O grupo Docas vai tentar anular o efeito da assembléia.
Segundo o presidente da Varig, Marcelo Bottini, a empresa decidirá como tratar o assunto só depois que o administrador judicial for comunicado. "A princípio, pelas informações que tenho aqui, a assembléia está válida, mas não se sabe o dia de amanhã."
Credores de peso nas contas da Varig vetaram a proposta de transferência do controle da FRB-Par à Docas, como Infraero, Aerus (fundo de pensão) e Boeing. A proposta foi vetada por 100% dos votos de trabalhadores e de credores com e sem garantias. Os índices de abstenção, no entanto, foram altos: entre os trabalhadores, de 42,9%; entre os credores com garantia, de 6,1%, e, entre os credores sem garantias, de 32,4%.
A proposta aprovada pelos credores prevê a conversão de dívidas em cotas de FIPs (fundos de investimento e participações).
O plano econômico-financeiro prevê a criação de quatro FIPs. O FIP-Controle receberá um aporte de todas as ações das devedoras e terá como administrador um banco comercial de primeira linha e um gestor escolhido pelas três classes de credores. Esse fundo terá participações em todos os demais FIPs-Créditos constituídos. Os fundos de créditos serão criados e regulados por credores que decidirem participar.
O atual presidente da Varig exercerá o papel de gestor interino para criar a estrutura dos FIPs e garantir a implementação da recuperação nos moldes do plano.
O plano operacional prevê que a Varig chegue ao final de 2006 com 75 aeronaves na frota. Do total, 69 estariam em operação. Hoje, a frota é de 75 aviões, mas apenas 58 estão voando. "Ocorrerão substituições, algumas empresas de leasing podem não querer trabalhar conosco", afirmou Bottini.
De acordo com o plano, a companhia passará de uma margem operacional negativa de 4,6% em 2005 para um patamar positivo de 8,6% em 2010.
O presidente da Varig destacou que, mesmo sem o apoio de um investidor, a companhia conseguiu recuperar três aviões e até o final do mês mais três voltarão a operar. Ele enfatizou, no entanto, que novos investidores são bem-vindos e citou os nomes da TAP e do fundo norte-americano Mattlin Patterson, que já manifestaram interesse em participar da recuperação da companhia.

Nova York
O presidente da Varig informou que a companhia vai levar a Nova York, em audiência amanhã, parte do pagamento das dívidas com as empresas de leasing. Segundo Bottini, a dívida que vence amanhã é de US$ 44 milhões. Do total, a Varig pretende pagar US$ 20 milhões. Os recursos serão obtidos via troca de recebíveis.
A Justiça americana estabeleceu pré-requisitos para a Varig, como a aprovação do plano de recuperação dos credores, o aumento do número de aeronaves em operação, a melhor elaboração do plano de contingência e o pagamento das empresas de leasing.
"Não é só dinheiro, é uma série de coisas. Os credores querem ver em Nova York que somos capazes de sair da situação que estamos hoje", disse. O resultado da audiência nos EUA é decisivo para o futuro da companhia. A Justiça americana havia estendido o prazo de proteção da Varig até o dia 21, impedindo que as aeronaves da companhia fossem arrestadas a pedido das empresas de leasing.


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