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BC vê déficit externo de US$ 3,5 bi em 2008
Aumento das importações com real forte e maior crescimento explica mudança nas contas do país com o exterior
BC diz que déficit não preocupa, mas economista vê fragilidade externa que pode impedir melhora de avaliação do Brasil
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Pela primeira vez no governo
Lula, as contas externas devem
apresentar déficit em 2008, segundo previsão do Banco Central. O resultado deste ano ainda deve ser positivo, mas os números apurados nos últimos
meses, influenciados pela forte
valorização do real, ficaram
abaixo do esperado e ajudam a
explicar a estimativa do BC.
Em novembro, a conta de
transações correntes -que
contabiliza todas as negociação
de bens e serviços com outros
países- apresentou déficit de
US$ 1,344 bilhão, o pior resultado desde maio de 2002. No
ano, o saldo acumulado ainda é
positivo em US$ 4,254 bilhões,
mas está bem abaixo dos US$
13,183 bilhões registrados no
mesmo período de 2006.
Segundo o BC, esse saldo deve ficar negativo em US$ 3,5 bilhões no ano que vem, revisando projeção anterior de superávit de US$ 3,2 bilhões em 2008.
O efeito do câmbio é sentido
em vários itens das contas externas. Na balança comercial, o
real valorizado e o crescimento
da economia ajudam a explicar
o forte crescimento das importações. O mesmo acontece com
as remessas de lucros e dividendos, cuja alta é influenciada
pela maior lucratividade das
empresas e pelo câmbio forte,
que faz com que os lucros em
reais apurados pelas multinacionais instaladas no Brasil fiquem maiores quando convertidas para dólar antes do envio
ao exterior.
O chefe do Departamento
Econômico do BC, Altamir Lopes, minimiza a expectativa de
saldo negativo em transações
correntes no ano que vem. "O
importante é que o balanço de
pagamentos está perfeitamente financiado. Só de investimentos estrangeiros diretos
são esperados US$ 28 bilhões
em 2008", afirma, se referindo
à projeção do BC para o ingresso de capital externo para o ano
que vem.
Para o economista Antônio
Corrêa de Lacerda, professor
da PUC-SP, o resultado negativo a ser observado no ano que
vem é algo a lamentar. "É um
desperdício. É um erro de política econômica deixar um déficit aparecer depois de cinco
anos de esforços para reduzir a
vulnerabilidade externa do
Brasil", afirma.
Para Lacerda, o déficit poderia ser evitado se o governo
agisse para evitar uma queda
maior do dólar, que desestimula as exportações e favorece
gastos com importações, remessas de lucros e viagens ao
exterior, entre outros itens.
Já para o economista-chefe
da Austin Ratings, Alex Agostini, o déficit esperado para o ano
que vem não é tão preocupante
porque, nos últimos cinco anos,
o governo aproveitou os saldos
positivos para reforçar suas reservas em moeda estrangeira e
quitar boa parte de sua dívida
externa.
Ainda assim, ele afirma que o
resultado negativo deve adiar a
melhora na nota atribuída ao
Brasil por agências de classificação de risco, o que levaria o
país ao chamado "investment
grade" -ou "grau de investimento", nota dada aos países
considerados destinos seguros
para os investidores internacionais. "É um fator que pesa
na nota. Ficou mais difícil obter
essa melhora em 2008."
Por outro lado, a existência
de um déficit em transações
correntes pode ser visto como
um sinal de que as empresas
instaladas no Brasil estão importando mais e pegando mais
empréstimos no exterior para
financiar seus investimentos, o
que ajuda a impulsionar o crescimento do país.
O economista Fernando Sarti, da Unicamp, diz concordar
que o câmbio valorizado pode
estar prejudicando alguns setores da economia, mas afirma
também que muitas companhias estão se adaptando a esse
cenário de câmbio valorizado e
aproveitando as condições para
expandir suas linhas de produção.
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