São Paulo, quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

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BC vê déficit externo de US$ 3,5 bi em 2008

Aumento das importações com real forte e maior crescimento explica mudança nas contas do país com o exterior

BC diz que déficit não preocupa, mas economista vê fragilidade externa que pode impedir melhora de avaliação do Brasil

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pela primeira vez no governo Lula, as contas externas devem apresentar déficit em 2008, segundo previsão do Banco Central. O resultado deste ano ainda deve ser positivo, mas os números apurados nos últimos meses, influenciados pela forte valorização do real, ficaram abaixo do esperado e ajudam a explicar a estimativa do BC.
Em novembro, a conta de transações correntes -que contabiliza todas as negociação de bens e serviços com outros países- apresentou déficit de US$ 1,344 bilhão, o pior resultado desde maio de 2002. No ano, o saldo acumulado ainda é positivo em US$ 4,254 bilhões, mas está bem abaixo dos US$ 13,183 bilhões registrados no mesmo período de 2006.
Segundo o BC, esse saldo deve ficar negativo em US$ 3,5 bilhões no ano que vem, revisando projeção anterior de superávit de US$ 3,2 bilhões em 2008.
O efeito do câmbio é sentido em vários itens das contas externas. Na balança comercial, o real valorizado e o crescimento da economia ajudam a explicar o forte crescimento das importações. O mesmo acontece com as remessas de lucros e dividendos, cuja alta é influenciada pela maior lucratividade das empresas e pelo câmbio forte, que faz com que os lucros em reais apurados pelas multinacionais instaladas no Brasil fiquem maiores quando convertidas para dólar antes do envio ao exterior.
O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, minimiza a expectativa de saldo negativo em transações correntes no ano que vem. "O importante é que o balanço de pagamentos está perfeitamente financiado. Só de investimentos estrangeiros diretos são esperados US$ 28 bilhões em 2008", afirma, se referindo à projeção do BC para o ingresso de capital externo para o ano que vem.
Para o economista Antônio Corrêa de Lacerda, professor da PUC-SP, o resultado negativo a ser observado no ano que vem é algo a lamentar. "É um desperdício. É um erro de política econômica deixar um déficit aparecer depois de cinco anos de esforços para reduzir a vulnerabilidade externa do Brasil", afirma.
Para Lacerda, o déficit poderia ser evitado se o governo agisse para evitar uma queda maior do dólar, que desestimula as exportações e favorece gastos com importações, remessas de lucros e viagens ao exterior, entre outros itens.
Já para o economista-chefe da Austin Ratings, Alex Agostini, o déficit esperado para o ano que vem não é tão preocupante porque, nos últimos cinco anos, o governo aproveitou os saldos positivos para reforçar suas reservas em moeda estrangeira e quitar boa parte de sua dívida externa.
Ainda assim, ele afirma que o resultado negativo deve adiar a melhora na nota atribuída ao Brasil por agências de classificação de risco, o que levaria o país ao chamado "investment grade" -ou "grau de investimento", nota dada aos países considerados destinos seguros para os investidores internacionais. "É um fator que pesa na nota. Ficou mais difícil obter essa melhora em 2008."
Por outro lado, a existência de um déficit em transações correntes pode ser visto como um sinal de que as empresas instaladas no Brasil estão importando mais e pegando mais empréstimos no exterior para financiar seus investimentos, o que ajuda a impulsionar o crescimento do país.
O economista Fernando Sarti, da Unicamp, diz concordar que o câmbio valorizado pode estar prejudicando alguns setores da economia, mas afirma também que muitas companhias estão se adaptando a esse cenário de câmbio valorizado e aproveitando as condições para expandir suas linhas de produção.


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