São Paulo, sábado, 20 de dezembro de 2008

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Saudita vê crise no petróleo, mas Brasil discorda

Oli Scarff/France Presse
Encontro dos grandes produtores e consumidores de petróleo em Londres; preço do barril já recuou 76,7% desde julho em NY

PEDRO DIAS LEITE
DE LONDRES

No dia em que a cotação do barril de petróleo chegou a um novo fundo do poço, o maior produtor mundial disse que o atual patamar está "provocando destruição" na indústria e defendeu que o preço "justo e razoável" é o dobro do atual.
Principal produtor mundial, a Arábia Saudita falou abertamente o que autoridades brasileiras relutam em admitir e expôs a dimensão da crise: "Os preços atuais estão provocando destruição nos países produtores e ameaçando investimentos atuais e futuros", disse o ministro saudita do Petróleo, Ali Ibrahim Al-Naimi, na abertura de conferência em Londres.
Enquanto isso, o Brasil continua a dizer que a exploração das reservas do pré-sal, maior descoberta em décadas, não será afetada. "O plano fica tal qual estava há algum tempo. Ainda é viável. E bom não esquecer que o pré-sal vai ser explorado só daqui a quatro, cinco anos", disse o ministro brasileiro de Minas e Energia, Edison Lobão.
Tanto o saudita quanto Lobão participaram de reunião em Londres entre cerca de 40 países produtores e os consumidores para tentar acabar com a volatilidade do valor do produto, que tem afetado seriamente a economia mundial.
Ao lado do primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, o saudita disse que o preço do barril a US$ 75 -mais que o dobro do patamar atual- é "justo e razoável" para produtores e consumidores. Menos que isso, disse, "vai levar a uma situação em que a produção no futuro será insuficiente e os preços sofrerão variações extremas".
Apesar do discurso saudita, os preços da commodity continuaram a sua derrocada ontem.
A queda em Nova York foi de 6,49%, e o barril terminou o pregão cotado a US$ 33,87, o menor valor desde fevereiro de 2004. O barril começou o ano valendo US$ 99,62 e atingiu o pico em julho de US$ 145,29, se desvalorizando em 76,7% desde então, apesar de a Opep (cartel responsável por 40% do petróleo mundial) ter cortado a sua produção em quase 15%.
O Brasil até agora tem minimizado os efeitos da queda nos preços e espera que a crise seja passageira o suficiente para não afetar os investimentos de longo prazo. "Nunca a Bíblia foi tão aberta e rezada quanto nos dias atuais. Esperamos que [a crise] termine no primeiro semestre de 2009", disse Lobão -a maioria dos grandes produtores de petróleo é de países muçulmanos. Ele concorda, porém, que o preço de US$ 75 o barril "não está exagerado, nem para cima nem para baixo".

Os limites do consenso
Assim como os produtores, os consumidores querem estabilidade. "O principal desafio do futuro é acabar com a volatilidade do petróleo, que não interessa a ninguém", afirmou Brown na conferência.
Mas o consenso acaba aí. Em entrevista mais tarde, o ministro de Energia do Reino Unido, Ed Miliband, disse que o preço atual é adequado, apesar de ser necessário um patamar que permita a continuidade dos investimentos. "Preços menores são necessários para a economia global neste momento."
A reunião entre produtores e consumidores acontece num contexto muito diferente da primeira cúpula, realizada às pressas em Jidda (Arábia Saudita) há cinco meses, quando analistas já previam o barril a US$ 200. Desde então, a crise financeira global e a ameaça de recessão mundial levaram a uma drástica queda no preço.


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