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São Paulo, terça-feira, 21 de janeiro de 2003

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ANÁLISE

Um Palocci mais liberal

ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

Marcos Lisboa, novo secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, continua trabalhando com total discrição. Mas ecos das suas idéias liberais se refletem com intensidade crescente no discurso do ministro Antônio Palocci Filho.
A última mudança de tom nas idéias de política econômica defendidas por Palocci pôde ser percebida na entrevista dada pelo ministro da Fazenda ao jornalista Bóris Casoy, da Rede Record, no último domingo.
Ao falar de comércio exterior, Palocci abandonou o discurso tradicionalmente mercantilista do PT sobre a importância de se aumentar apenas as exportações do país para reduzir a fragilidade externa da economia.
No seu lugar, o ministro encampou argumentos da teoria econômica liberal que enfatizam a necessidade de se incrementar a participação do país no fluxo de comércio exterior.
Ou seja, não basta aumentar o volume exportado. Nas palavras do próprio Palocci, "é preciso que o país exporte e importe mais".
"O Brasil precisa ter uma presença mais forte no mercado mundial", disse o ministro da Fazenda.
Não por acaso, essas idéias são há tempos defendidas por Lisboa. O economista-que é professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas) e fez doutorado na Universidade da Pensilvânia- diz que o volume total de comércio exterior do Brasil deveria ser o dobro do que é hoje.
Essa linha de argumentação também está presente na chamada "Agenda Perdida"- documento coordenado por Lisboa e pelo economista José Alexandre Scheinkman, que apresentou propostas para que o país retome a rota do crescimento econômico com maior justiça social.

Liberalismo
Do ponto de vista da teoria econômica liberal, a importância de uma maior integração ao comércio mundial é explicada pelos ganhos de eficiência econômica que podem ser conseguidos.
Um país que, além de exportar, também importa muito consegue melhor acesso a tecnologias e insumos que podem ser utilizados na sua própria produção. Com isso, pode melhorar sua produtividade. O que, por sua vez, facilita o aumento das exportações em segmentos nos quais é mais competitivo. É a chamada teoria da vantagem comparativa, formulada pelo economista inglês David Ricardo.
No campo da teoria política liberal, há também o argumento de que quanto maior a integração de um país ao fluxo de comércio externo, maior sua importância na economia mundial.
Assim, parceiros estratégicos que exportam bastante para um determinado país teriam maior disposição de ajudá-lo a superar crises a fim de preservar seu mercado importador.
No caso do Brasil, tudo isso contribuiria para a redução da volatilidade dos fluxos de capitais, segundo essa argumentação. Trocando em miúdos, além de maior eficiência, o país conquistaria maior estabilidade cambial.


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