São Paulo, quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

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Votorantim espera ganhar R$ 4,5 bi com a aquisição

Negócio se concretiza 6 meses após 1ª oferta pelos papéis da Arapar na Aracruz

Desde então, preço da celulose cai 35%, valor das ações cede e perdas com derivativos marcam trajetórias de empresas

DA REPORTAGEM LOCAL DA SUCURSAL DO RIO

Seis meses após a primeira oferta de R$ 2,7 bilhões pelos papéis da Arapar na Aracruz, o grupo Votorantim irá pagar a mesma quantia pela empresa. No período, o preço da celulose caiu 35%. As ações da Aracruz recuaram mais de 70% desde setembro, quando foi fechada a venda à VCP pela primeira vez.
"A Votorantim não olha a aquisição do ponto de vista de investimento em carteira, mas estratégico, de olho no longo prazo", diz Pércio de Souza, sócio da consultoria Estáter, que assessorou a transação. "A geração futura de fluxo de caixa da empresa não mudou."
A expectativa da Votorantim é gerar ganhos de sinergia de R$ 4,5 bilhões com a formação da nova empresa. Ela também terá os mais baixos custos de produção de celulose do mundo, que ficarão entre US$ 150 a US$ 250 por tonelada.
Segundo Souza, o fato de não incidir correção sobre o valor a ser pago à Arapar fará com que, trazido a valor presente, os R$ 2,7 bilhões equivalham a R$ 2,3 bilhões. Além disso, a desvalorização do real fez com que os mesmos R$ 2,7 bilhões, que valiam US$ 1,8 bilhão em setembro, hoje sejam equivalentes a US$ 900 milhões.
A VCP tem uma série de investimentos engatilhados. Dentro de dois meses, entra em operação uma fábrica de celulose da VCP em Mato Grosso do Sul, que irá produzir 1,3 milhão de toneladas de celulose por ano e abrir 2.800 vagas.
Segundo Raul Calfat, diretor-geral da VDI (Votorantim Industrial), esse investimento será mantido e haverá abertura de vagas, uma vez que existe demanda para a produção.
Há outros projetos em curso, mas ainda sem a batida de martelo. A expectativa da VCP é abrir 24 mil vagas até 2020. "O futuro depende do comportamento da demanda",diz Calfat.

Reação do mercado
Apesar das perspectivas de ganhos com sinergia e produtividade, as ações sofreram ajustes ontem. O papel sem direito a voto "B" da Aracruz registrou a maior queda do Ibovespa, ao recuar 11,32%, para R$ 2,35. Essa foi a quarta ação mais negociada no pregão de ontem, com mais de 14 mil negócios.
A ação ordinária da Aracruz saltou 108,03%, para R$ 11,70 -o papel é pouco negociado e teve cerca de 800 operações.
O papel preferencial da VCP encerrou as operações da Bolsa com baixa de 3,65%.

Polêmica
Lembrando a compra de 49,99% do Banco Votorantim pelo Banco do Brasil, no início do mês, o professor Reinaldo Gonçalves, do Instituto de Economia da UFRJ (Universidade Federal do Rio), disse que o governo Lula "transformou os bancos públicos em UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) de grandes grupos privados brasileiros". Ele sugere que o Congresso investigue as duas megaoperações com o grupo.
O ex-presidente do BNDES Carlos Lessa aprovou a capitalização da Votorantim por parte do banco. "Se fosse apenas uma transação de compra e venda de ações, eu diria que não é tarefa do BNDES fazer isso", disse. "Mas a verdade é que isso é para destravar os projetos do grupo Votorantim e da própria Aracruz lá no Rio Grande do Sul. Então tem sentido. É pouco usual, mas tem sentido."
Para Álvaro Bandeira, diretor da corretora Ágora, "a VCP pagou até um preço elevado pelas ações [da Aracruz]". O analista ainda diz que "os minoritários não vão ser prejudicados com a operação", que prevê "tag along" aos acionistas.
Caso optem por ficar com as ações da Aracruz, os acionistas minoritários receberão 80% dos valores oferecidos pela empresa. Estão sendo pagos R$ 18 por ação da Aracruz. As condições de pagamento, no entanto, são as mesmas do desembolso aos grandes controladores. Isso significa que os minoritários que optarem pela venda levarão 30 meses para receber.
Será feita, entretanto, uma oferta pública para que os minoritários transformem suas ações da Aracruz em ações da VCP. Cada papel da Aracruz valerá 0,1347 ação da VCP, segundo o preço de mercado dos últimos 30 pregões.


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