São Paulo, quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

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Meirelles diz a Lula que juro cai, mas problema é "spread'

BC cobra redução na taxa cobrada pelos bancos

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, reuniu-se anteontem com o presidente Lula para lhe dizer que os juros cairiam hoje, mas ressaltou que o principal problema seria o "spread" cobrado pelos bancos privados.
O encontro aconteceu na véspera da primeira reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) de 2009. A reunião do Copom, que fixa a taxa básica de juros (Selic), começou ontem e terminará hoje.
Em conversa reservada, Meirelles negou ter tratado da Selic com Lula. Mas a Folha apurou que ele conversou com o presidente sobre esse assunto. Lula fez uma cobrança pela queda dos juros. O encontro aconteceu no dia em que o governo divulgou dados de que o país perdeu mais do que 650 mil empregos formais em dezembro.
Na avaliação do Planalto, a Selic, hoje em 13,75%, deveria cair ao menos 0,75 ponto percentual, como forma de sinalizar aos agentes econômicos que haveria uma redução mais veloz da taxa. Um corte de 0,25 ou de 0,5 ponto percentual seria considerado uma má notícia por Lula.
Sob pressão, Meirelles disse a Lula que não adiantaria apenas baixar a Selic. Afirmou que seria necessária uma ação do governo sobre o "spread". Nas palavras de Meirelles, "o "spread" se descolou da Selic". O "spread" é a diferença entre o custo de captação de recursos para os bancos e o que essas instituições cobram do tomador final nas suas diversas operações de empréstimo.
Meirelles apresentou ao presidente tabelas para apontar o descolamento entre Selic e "spread". Esse discurso é uma forma de se defender das críticas aos juros altos -críticas públicas e também as de outros colegas de governo.
Segundo Meirelles, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, bancos oficiais, deveriam ter uma atuação mais agressiva na redução do "spread". Ou seja, criticou duas instituições que são subordinadas ao seu principal rival nos debates internos, o ministro da Fazenda, Guido Mantega.
O discurso de Meirelles sensibilizou Lula, que, em reunião na segunda-feira com centrais sindicais, pediu pressão dessas entidades sobre o "spread" cobrado pelos bancos privados. Lula pretende se reunir em breve com banqueiros para tratar do assunto.
Na opinião de Mantega, Meirelles tenta se esquivar das críticas ao apontar o "spread" como um fator mais importante do que a Selic. O ministro da Fazenda tem dito reservadamente que a Selic é uma referência para toda a economia e que sua queda daria ao governo mais discurso para cobrar redução de "spread" dos bancos oficiais e privados.
Há uma forte tensão no governo com o agravamento dos efeitos da crise internacional sobre o Brasil. Lula deseja transmitir mensagem de otimismo aos agentes econômicos e acha que os juros básicos já deveriam ter caído. Daí a pressão sobre o BC.


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