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Meirelles diz a Lula que juro cai, mas problema é "spread'
BC cobra redução na taxa cobrada pelos bancos
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, reuniu-se anteontem com o presidente Lula para lhe dizer que os
juros cairiam hoje, mas ressaltou que o principal problema
seria o "spread" cobrado pelos
bancos privados.
O encontro aconteceu na
véspera da primeira reunião do
Copom (Comitê de Política
Monetária) de 2009. A reunião
do Copom, que fixa a taxa básica de juros (Selic), começou ontem e terminará hoje.
Em conversa reservada, Meirelles negou ter tratado da Selic
com Lula. Mas a Folha apurou
que ele conversou com o presidente sobre esse assunto. Lula
fez uma cobrança pela queda
dos juros. O encontro aconteceu no dia em que o governo divulgou dados de que o país perdeu mais do que 650 mil empregos formais em dezembro.
Na avaliação do Planalto, a
Selic, hoje em 13,75%, deveria
cair ao menos 0,75 ponto percentual, como forma de sinalizar aos agentes econômicos
que haveria uma redução mais
veloz da taxa. Um corte de 0,25
ou de 0,5 ponto percentual seria considerado uma má notícia por Lula.
Sob pressão, Meirelles disse
a Lula que não adiantaria apenas baixar a Selic. Afirmou que
seria necessária uma ação do
governo sobre o "spread". Nas
palavras de Meirelles, "o
"spread" se descolou da Selic". O
"spread" é a diferença entre o
custo de captação de recursos
para os bancos e o que essas
instituições cobram do tomador final nas suas diversas operações de empréstimo.
Meirelles apresentou ao presidente tabelas para apontar o
descolamento entre Selic e
"spread". Esse discurso é uma
forma de se defender das críticas aos juros altos -críticas públicas e também as de outros
colegas de governo.
Segundo Meirelles, o Banco
do Brasil e a Caixa Econômica
Federal, bancos oficiais, deveriam ter uma atuação mais
agressiva na redução do
"spread". Ou seja, criticou duas
instituições que são subordinadas ao seu principal rival nos
debates internos, o ministro da
Fazenda, Guido Mantega.
O discurso de Meirelles sensibilizou Lula, que, em reunião
na segunda-feira com centrais
sindicais, pediu pressão dessas
entidades sobre o "spread" cobrado pelos bancos privados.
Lula pretende se reunir em
breve com banqueiros para tratar do assunto.
Na opinião de Mantega, Meirelles tenta se esquivar das críticas ao apontar o "spread" como um fator mais importante
do que a Selic. O ministro da
Fazenda tem dito reservadamente que a Selic é uma referência para toda a economia e
que sua queda daria ao governo
mais discurso para cobrar redução de "spread" dos bancos
oficiais e privados.
Há uma forte tensão no governo com o agravamento dos
efeitos da crise internacional
sobre o Brasil. Lula deseja
transmitir mensagem de otimismo aos agentes econômicos e acha que os juros básicos
já deveriam ter caído. Daí a
pressão sobre o BC.
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