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ANÁLISE
Mercado de trabalho põe água na "fervura"
FERNANDO SAMPAIO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Vistos isoladamente, os números do mercado de trabalho
formal em dezembro foram,
sem dúvida, decepcionantes.
Embora no mês final do ano os
desligamentos de trabalhadores com vínculo formal de emprego sempre superem as admissões, o saldo negativo apurado pelo governo (415 mil) foi
bem maior do que se esperava e
do que se verificou, em média,
nos demais meses de dezembro
desta década (342 mil).
Em todos os grandes setores
-serviços, indústria, comércio,
construção e agropecuária-, a
piora do resultado, na comparação com o mês precedente,
foi mais intensa do que costuma ser. A única comparação em
que os números do mês passado se mostram positivos é diante do resultado do Caged em
dezembro de 2008 -mas este,
refletindo a enorme incerteza
que então predominava no
mundo todo, foi tão ruim (fechamento de 655 mil postos de
trabalho) que ficou conhecido
pelo trocadilho "traged".
É evidente que avaliar um resultado isolado é pouco prudente. Ainda mais quando um
resultado decepcionante foi
precedido por um muito melhor do que se antecipava -e foi
justamente esse o caso do Caged em novembro.
Quando veio a público que
em novembro a criação líquida
de empregos formais chegou
perto de 250 mil (muito acima
da média do mês nos anos anteriores, da ordem de 30 mil),
uma parcela dos analistas concluiu que tivera início um processo de aquecimento muito
rápido do mercado de trabalho.
Agora é provável que muitos
revejam, ao menos em parte, o
diagnóstico de que a economia
caminha a passos largos para
um ponto de "fervura" -um superaquecimento capaz de suscitar, rapidamente, fortes pressões inflacionárias.
No âmbito específico do
mercado de trabalho, mesmo
antes da divulgação do Caged
de dezembro já havia elementos que sugeriam um processo
menos acelerado de aquecimento.
Em particular, as pesquisas mensais realizadas nas
grandes regiões metropolitanas vêm apurando que o ritmo
de crescimento do número de
pessoas ocupadas -seja com
ou sem vínculo de trabalho formalizado- não vem aumentando de maneira progressiva.
Para além do mercado de trabalho, outros aspectos sugerem
que os riscos inflacionários
continuam bastante limitados
no curto prazo: ainda há uma
margem ampla de capacidade
produtiva ociosa em vários ramos da indústria (sobretudo
em bens de capital e em bens
intermediários, refletindo, entre outros fatores, a timidez da
retomada das exportações, depois de um tombo muito severo); a cotação do dólar não revela tendência de alta significativa; as cotações das commodities também não se encontram
numa escalada preocupante.
Mais à frente, a evolução da
inflação dependerá de muitos
fatores, valendo destacar a velocidade da maturação dos investimentos (e, portanto, da
ampliação da capacidade produtiva nos vários setores da
economia) e o fôlego da reativação econômica global.
FERNANDO SAMPAIO, economista, é sócio-diretor da LCA Consultores
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