São Paulo, sábado, 21 de fevereiro de 2004

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INVESTIMENTOS

Crise política, manutenção dos juros e volatilidade levam ao maior resgate deste tipo de aplicação desde 99

Fundos de ações perdem R$ 649 mi no mês

ÉRICA FRAGA
JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

A combinação entre crise política, manutenção dos juros em 16,5% ao ano e volatilidade do mercado está levando a uma fuga maciça de recursos dos fundos de ações. Apenas neste mês, até o último dia 18, a captação líquida (diferença entre ingressos e saques) dessas aplicações já estava negativa em R$ 649,4 milhões.
Essa sangria representa o segundo maior volume de resgate líquido mensal desde 1996, segundo dados do site Fortuna. Perde, até agora, apenas para os R$ 681,8 milhões de captação negativa registrados em outubro de 1999. Mas, naquele mês, os resgates aconteceram, em boa parte, porque alguns fundos de ações foram reclassificados, mudando de categoria ou se tornando exclusivos.
"As saídas estão bastante disseminadas. Começaram pelos fundos de varejo e, nos últimos dias, começaram a ocorrer com maior intensidade nos fundos de atacado", diz Marcelo D'Agosto, sócio do Fortuna. Dos 394 fundos de ações acompanhados pelo site Fortuna, 255 estão com captação líquida negativa neste mês.
Nos últimos anos, os movimentos de entradas e saídas de recursos dos fundos de ações -considerados aplicações arriscadas- têm sido marcados por oscilações. As elevações da taxa Selic foram, de forma geral, acompanhadas por fuga desses fundos.
Foi o que ocorreu no início de 2003, período de política monetária restritiva. Os fundos de ações registraram perdas líquidas consecutivas entre abril e agosto. No entanto, somada, a captação negativa desses cinco meses atingiu R$ 580 milhões, valor inferior ao contabilizado em apenas 13 dias úteis deste mês. É a intensidade do atual movimento que tem assustado gestores e analistas.
Para Ricardo Magalhães, gestor da Mellon Global Investments, a fuga de recursos é explicada, principalmente, por causa da crise política, deflagrada pelas denúncias de corrupção envolvendo o ex-assessor do ministro José Dirceu (Casa Civil), Waldomiro Diniz.
"Embora o governo tenha esboçado uma reação, há um forte receio sobre onde esta crise política vai acabar", diz Magalhães.
Além da crise política, a suspensão do movimento de redução dos juros nos últimos dois meses também contribuiu para os saques, segundo alguns analistas.
Para Adriano Fortes, gestor da ARX Capital Management, a volatilidade do mercado nas últimas semanas assustou os investidores que tinham decidido investir em ações, motivados pela valorização de 97,3% da Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) em 2003.
"A volatilidade do mercado hoje está em níveis pré-eleitoral, de 2002", argumenta Fortes.

Segurança
Com tudo isso, investidores têm buscado aplicações menos arriscadas. É o caso dos fundos de renda fixa e dos fundos DI, que estão com captação líquida positiva de R$ 2,5 bilhões e R$ 1,2 bilhão, respectivamente, em fevereiro.
"A Bolsa já tinha subido muito no ano passado. Agora, os investidores, por motivos diversos, estão aproveitando para realizar lucros [vender papéis e embolsar os ganhos obtidos]", diz Glauco Cavalcanti, diretor do CSFB Garantia.


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