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INVESTIMENTOS
Crise política, manutenção dos juros e volatilidade levam ao maior resgate deste tipo de aplicação desde 99
Fundos de ações perdem R$ 649 mi no mês
ÉRICA FRAGA
JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
A combinação entre crise política, manutenção dos juros em
16,5% ao ano e volatilidade do
mercado está levando a uma fuga
maciça de recursos dos fundos de
ações. Apenas neste mês, até o último dia 18, a captação líquida (diferença entre ingressos e saques)
dessas aplicações já estava negativa em R$ 649,4 milhões.
Essa sangria representa o segundo maior volume de resgate
líquido mensal desde 1996, segundo dados do site Fortuna. Perde,
até agora, apenas para os R$ 681,8
milhões de captação negativa registrados em outubro de 1999.
Mas, naquele mês, os resgates
aconteceram, em boa parte, porque alguns fundos de ações foram
reclassificados, mudando de categoria ou se tornando exclusivos.
"As saídas estão bastante disseminadas. Começaram pelos fundos de varejo e, nos últimos dias,
começaram a ocorrer com maior
intensidade nos fundos de atacado", diz Marcelo D'Agosto, sócio
do Fortuna. Dos 394 fundos de
ações acompanhados pelo site
Fortuna, 255 estão com captação
líquida negativa neste mês.
Nos últimos anos, os movimentos de entradas e saídas de recursos dos fundos de ações -considerados aplicações arriscadas-
têm sido marcados por oscilações. As elevações da taxa Selic foram, de forma geral, acompanhadas por fuga desses fundos.
Foi o que ocorreu no início de
2003, período de política monetária restritiva. Os fundos de ações
registraram perdas líquidas consecutivas entre abril e agosto. No
entanto, somada, a captação negativa desses cinco meses atingiu
R$ 580 milhões, valor inferior ao
contabilizado em apenas 13 dias
úteis deste mês. É a intensidade
do atual movimento que tem assustado gestores e analistas.
Para Ricardo Magalhães, gestor
da Mellon Global Investments, a
fuga de recursos é explicada, principalmente, por causa da crise política, deflagrada pelas denúncias
de corrupção envolvendo o ex-assessor do ministro José Dirceu
(Casa Civil), Waldomiro Diniz.
"Embora o governo tenha esboçado uma reação, há um forte receio sobre onde esta crise política
vai acabar", diz Magalhães.
Além da crise política, a suspensão do movimento de redução
dos juros nos últimos dois meses
também contribuiu para os saques, segundo alguns analistas.
Para Adriano Fortes, gestor da
ARX Capital Management, a volatilidade do mercado nas últimas
semanas assustou os investidores
que tinham decidido investir em
ações, motivados pela valorização
de 97,3% da Bovespa (Bolsa de
Valores de São Paulo) em 2003.
"A volatilidade do mercado hoje está em níveis pré-eleitoral, de
2002", argumenta Fortes.
Segurança
Com tudo isso, investidores têm
buscado aplicações menos arriscadas. É o caso dos fundos de renda fixa e dos fundos DI, que estão
com captação líquida positiva de
R$ 2,5 bilhões e R$ 1,2 bilhão, respectivamente, em fevereiro.
"A Bolsa já tinha subido muito
no ano passado. Agora, os investidores, por motivos diversos, estão
aproveitando para realizar lucros
[vender papéis e embolsar os ganhos obtidos]", diz Glauco Cavalcanti, diretor do CSFB Garantia.
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