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Reforma que dá mais poder ao Cade ganha prioridade
Projeto que muda modelo de concorrência estava parado no Congresso e entrou no PAC
Fazenda e Justiça querem apressar aprovação de mudanças, que dão mais autonomia ao conselho e limitam multas a empresas
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Ministério da Fazenda
classificou como prioridade absoluta a reforma do Sistema
Brasileiro de Defesa da Concorrência, cuja proposta foi enviada pelo governo ao Congresso em 2005, mas estava parada.
O governo quer retomar a discussão ainda neste semestre.
O objetivo da reformulação é
equiparar a legislação brasileira ao que já existe em outros
países. Em especial no modo
como a americana FTC (Comissão de Comércio Federal,
na sigla em inglês) analisa as investigações antitruste. Isso significa dar mais autonomia ao
novo Cade, o tribunal de defesa
da concorrência no Brasil.
Para o secretário de Acompanhamento Econômico, Marcelo Barbosa Saintive, o debate
será quente. "Vale salientar que
a discussão é idêntica à das
agências reguladoras. Como se
trata de uma agência de concorrência, o princípio consiste
numa separação entre as decisões políticas e as análises sobre os problemas do poder de
mercado", afirmou.
A reforma foi incluída no
PAC (Programa de Aceleração
do Crescimento) como um dos
pilares para a melhoria do ambiente de negócios no país. Nos
bastidores, Fazenda e Justiça
pressionam pela votação do
texto o mais rápido possível.
Segundo o projeto, o Cade
(Conselho Administrativo de
Defesa Econômica) será reformulado, passando a contar com
uma Superintendência Geral,
que absorverá as funções hoje
nas mãos da SDE (Secretaria de
Direito Econômico). Assim, ficarão sob o mesmo guarda-chuva institucional tanto a investigação quanto o julgamento das infrações.
Além de apurar condutas lesivas ao mercado, a nova Superintendência Geral também terá o poder de fazer avaliações
sumárias de fusões e aquisições
aprovando-as sem a avaliação
do Cade. Hoje, todo processo
tramita pelas mãos de um dos
integrantes do conselho.
Em média, 70% dos atos de
concentração de empresas não
possuem complexidade e são
avaliados hoje pelo Cade em
menos de 30 dias. Uma porcentagem bem semelhante à verificada na FTC dos EUA.
Essa análise prévia que será
feita pela Superintendência
Geral também embute uma alteração relevante no país. Hoje,
se uma empresa compra outra
tem 15 dias para informar o sistema, mas já dá início à integração prática, como a fusão de departamentos. Com a nova lei, as
duas empresas só poderão se
unir de fato após o aval do Cade.
Se não aguardarem esta aprovação poderão receber multa
de R$ 60 mil a R$ 6 milhões.
Devido aos poderes concentrados na nova superintendência, o ocupante do cargo terá
mandato de dois anos, com
uma recondução. Hoje o secretário de Direito Econômico é
um cargo de confiança do ministro da Justiça.
No novo formato, a presidência do conselho poderá ser reconduzida ao cargo uma vez,
exceto o mandato subseqüente.
Os conselheiros passarão a integrar um tribunal administrativo, responsável pelos julgamentos feitos hoje. Também
será criado um Departamento
de Estudos Econômicos, para
auxiliar técnica e juridicamente as decisões do Cade.
O projeto avança em estipular uma nova fonte de recursos
para o Cade, que receberá os
valores das custas processuais.
Mas os recursos devem ser mínimos se vingar a proposta de
reduzir o número de processos,
na avaliação da secretária de
Direito Econômico, Mariana
Tavares.
O projeto também pode limitar o valor das punições. Atualmente uma empresa pode receber multa de até 20% do faturamento do ano anterior ao início
de um cartel. Algo que ultrapassa R$ 600 milhões no caso do
cartel de gases hospitalares, para o qual a SDE pediu ao Cade
aplicação de "multa exemplar".
O texto da lei elaborado pelo
governo limita a punição a R$
200 milhões, podendo dobrar
na reincidência. Segundo a Folha apurou, o Ministério da Fazenda até aceita que o texto seja
modificado no Congresso, mas
não tomará a iniciativa.
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