São Paulo, sábado, 21 de fevereiro de 2009

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Após emprestar US$ 8,4 bi em 12 anos, BNDES cobrará explicações da empresa

JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO

FÁBIO AMATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) vai cobrar explicações da Embraer sobre a demissão de 20% do quadro de funcionários da fabricante de aeronaves. Está prevista para os próximos dias uma reunião com a diretoria da empresa.
O banco é acionista da Embraer, com uma participação de 5,2%. Em 12 anos, o apoio do governo a Embraer soma US$ 8,39 bilhões (ou R$ 19,7 bilhões) por meio do financiamento à exportação de aeronaves pelo BNDES. O montante equivale à metade do orçamento do Estado do Rio em 2008.
No ano passado, o BNDES desembolsou US$ 542,3 milhões (ou R$ 1,27 bilhão) em crédito à exportação da Embraer. As operações com a empresa correspondem a 10,15% de todos os financiamentos a exportações da indústria concedidos pelo banco em 2008.
Os contratos de financiamento do banco não têm cláusulas que obriguem a manutenção de emprego. De modo geral, a única restrição nos contratos do BNDES é que o investimento apoiado não pode gerar desemprego. Questionado se o banco foi informado sobre as demissões antes do anúncio, o BNDES informou que não participa da gestão e que as decisões da empresa não são comunicadas com antecedência.
O governo tem uma "golden share" da Embraer -ação especial que dá direito a veto em relação a aspectos estratégicos, como transferência de controle acionário, criação de programas militares e mudança de nome da companhia.
Segundo Brian Moretti, analista de aviação da Planner, o apoio do BNDES é essencial em um setor em que fabricantes como Airbus, Boeing e Bombardier, contam sempre com financiamento dos governos para a exportação.

Cortes
O corte em massa na Embraer atingiu, apenas no Brasil, 4.240 trabalhadores. A informação foi repassada por representantes da empresa à Prefeitura de São José dos Campos.
A Embraer não divulgou o número exato. Em nota, disse apenas que seria cerca de 20% de um total de 21.362 empregados, o que corresponde a 4.272. Segundo a empresa, o número também inclui desligamentos em suas unidades dos EUA, da França e de Cingapura. As fábricas da China e de Portugal não foram atingidas.
O corte foi maior em São José, que, antes do anúncio, empregava cerca de 14 mil. Foram demitidos 3.720. Ontem sindicalistas fizeram protestos na cidade. Um grupo viajou a Brasília para tentar audiência com o presidente Lula, mas não foi recebido. O Ministério Público do Trabalho convocou representantes da Embraer para uma reunião no dia 2 de março.


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