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TRABALHO
Para se adequarem às regras da reforma sindical, entidades dão até desconto em universidade para atrair mais associados
Sindicatos "caçam" sócios para sobreviver
CLAUDIA ROLLI
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
Para passar no "vestibular" criado pelo FNT (Fórum Nacional do
Trabalho) e garantir a sobrevivência diante das novas regras estabelecidas na reforma sindical,
os sindicatos de trabalhadores estão à caça de sócios.
A obrigatoriedade de ter um número de sócios que represente, no
mínimo, 20% da categoria levou
sindicatos a fazer sorteios de motos e até a oferecer descontos em
mensalidades de universidades.
O Sindicato dos Trabalhadores
nas Indústrias da Construção Civil de São Paulo, que representa
hoje cerca de 8% da sua base, estimada em 220 mil trabalhadores,
decidiu sortear uma moto no último domingo de cada mês aos novos sócios e aos associados que
pagam em dia. O primeiro sorteio
ocorreu em janeiro.
"Nossa meta é reunir 80 mil sócios pagando em dia num prazo
de quatro anos", afirma Antonio
de Sousa Ramalho, presidente do
sindicato. Hoje, diz ele, 18 mil sócios, de um total de 190 mil, não
estão inadimplentes. Até julho do
ano passado, esse número era ainda mais baixo: 5.000 sócios.
O sindicato conseguiu elevar de
5.000 para 18 mil o número de sócios que pagam em dia porque
montou um departamento de comunicação para cobrar e fornecer
informações sobre os serviços
prestados pelo sindicato, como
médico e odontológico. "Vinte e
duas moças estão fazendo esse
trabalho, que já deu resultado." A
mensalidade cobrada pelo sindicato é de R$ 10.
Para reduzir a inadimplência, o
sindicato também decidiu esquecer a dívida em atraso dos sócios.
"Quem voltar a pagar não precisa
pagar as mensalidades em atraso", diz. Promete ainda sorteio de
televisores e cursos num clube de
campo que pertence ao sindicato.
O sindicato arrecada, segundo
Ramalho, ceca de R$ 1 milhão por
mês com imposto sindical, contribuição assistencial, mensalidade
dos sócios, palestras e vendas de
cartazes sobre segurança do trabalho. "Se o número de sócios subir, vamos também elevar o valor
dos prêmios", afirma.
"Amarelinhos"
O Sindicato dos Comerciários
de São Paulo, em busca de aumentar o cadastro de sócios, contratou 70 pessoas, com salário
médio de R$ 700, para visitar lojas
e supermercados. "Foram treinados para explicar as vantagens de
estar amparado por uma organização que negocia acordos coletivos, faz ações jurídicas e oferece
colônia de férias, atendimento
médico e orientação", diz Ricardo
Patah, presidente do sindicato.
Cada "amarelinho" -são assim
chamados por visitar os estabelecimentos de camiseta amarela-
visita em média 30 lojas por dia.
A entidade representa 430 mil
trabalhadores do comércio na capital, mas tem 38 mil sócios. Ou
seja, pela atual regra representa
8,8% de sua base. Para garantir
sua existência como representante dos trabalhadores, terá de ter
em seu cadastro 86 mil sócios.
"Em cinco anos, certamente cumpriremos essa meta", diz Patah.
Hoje, os sócios pagam mensalidade de R$ 14.
Dos R$ 23 milhões de orçamento, o sindicato recebe cerca de um
terço do imposto sindical. O restante vem das mensalidades e da
taxa assistencial -cobrada de sócios e não-sócios beneficiados por
acordos coletivos. "Com a mudança em questão [fim do imposto em troca de taxa negocial de 1%
da remuneração anual do trabalhador], haverá aumento na nossa
arrecadação de cerca de R$ 5 milhões", afirma Patah.
O Sindicato dos Trabalhadores
em Processamento de Dados no
Estado de São Paulo, filiado à
CGTB (Central Geral dos Trabalhadores do Brasil), decidiu oferecer aos sócios descontos nas mensalidades pagas em algumas universidades -aquelas que têm
convênio com o sindicato.
Desde que começou a campanha, no final do ano passado, o
número de sócios subiu de 14 mil
para 16,8 mil, informa Antonio
Neto, presidente da CGTB. A
mensalidade cobrada dos sócios é
de R$ 5 por mês.
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