São Paulo, domingo, 21 de março de 2004

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TRABALHO

Para se adequarem às regras da reforma sindical, entidades dão até desconto em universidade para atrair mais associados

Sindicatos "caçam" sócios para sobreviver

CLAUDIA ROLLI
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Para passar no "vestibular" criado pelo FNT (Fórum Nacional do Trabalho) e garantir a sobrevivência diante das novas regras estabelecidas na reforma sindical, os sindicatos de trabalhadores estão à caça de sócios.
A obrigatoriedade de ter um número de sócios que represente, no mínimo, 20% da categoria levou sindicatos a fazer sorteios de motos e até a oferecer descontos em mensalidades de universidades.
O Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil de São Paulo, que representa hoje cerca de 8% da sua base, estimada em 220 mil trabalhadores, decidiu sortear uma moto no último domingo de cada mês aos novos sócios e aos associados que pagam em dia. O primeiro sorteio ocorreu em janeiro.
"Nossa meta é reunir 80 mil sócios pagando em dia num prazo de quatro anos", afirma Antonio de Sousa Ramalho, presidente do sindicato. Hoje, diz ele, 18 mil sócios, de um total de 190 mil, não estão inadimplentes. Até julho do ano passado, esse número era ainda mais baixo: 5.000 sócios.
O sindicato conseguiu elevar de 5.000 para 18 mil o número de sócios que pagam em dia porque montou um departamento de comunicação para cobrar e fornecer informações sobre os serviços prestados pelo sindicato, como médico e odontológico. "Vinte e duas moças estão fazendo esse trabalho, que já deu resultado." A mensalidade cobrada pelo sindicato é de R$ 10.
Para reduzir a inadimplência, o sindicato também decidiu esquecer a dívida em atraso dos sócios. "Quem voltar a pagar não precisa pagar as mensalidades em atraso", diz. Promete ainda sorteio de televisores e cursos num clube de campo que pertence ao sindicato.
O sindicato arrecada, segundo Ramalho, ceca de R$ 1 milhão por mês com imposto sindical, contribuição assistencial, mensalidade dos sócios, palestras e vendas de cartazes sobre segurança do trabalho. "Se o número de sócios subir, vamos também elevar o valor dos prêmios", afirma.

"Amarelinhos"
O Sindicato dos Comerciários de São Paulo, em busca de aumentar o cadastro de sócios, contratou 70 pessoas, com salário médio de R$ 700, para visitar lojas e supermercados. "Foram treinados para explicar as vantagens de estar amparado por uma organização que negocia acordos coletivos, faz ações jurídicas e oferece colônia de férias, atendimento médico e orientação", diz Ricardo Patah, presidente do sindicato. Cada "amarelinho" -são assim chamados por visitar os estabelecimentos de camiseta amarela- visita em média 30 lojas por dia.
A entidade representa 430 mil trabalhadores do comércio na capital, mas tem 38 mil sócios. Ou seja, pela atual regra representa 8,8% de sua base. Para garantir sua existência como representante dos trabalhadores, terá de ter em seu cadastro 86 mil sócios. "Em cinco anos, certamente cumpriremos essa meta", diz Patah. Hoje, os sócios pagam mensalidade de R$ 14.
Dos R$ 23 milhões de orçamento, o sindicato recebe cerca de um terço do imposto sindical. O restante vem das mensalidades e da taxa assistencial -cobrada de sócios e não-sócios beneficiados por acordos coletivos. "Com a mudança em questão [fim do imposto em troca de taxa negocial de 1% da remuneração anual do trabalhador], haverá aumento na nossa arrecadação de cerca de R$ 5 milhões", afirma Patah.
O Sindicato dos Trabalhadores em Processamento de Dados no Estado de São Paulo, filiado à CGTB (Central Geral dos Trabalhadores do Brasil), decidiu oferecer aos sócios descontos nas mensalidades pagas em algumas universidades -aquelas que têm convênio com o sindicato.
Desde que começou a campanha, no final do ano passado, o número de sócios subiu de 14 mil para 16,8 mil, informa Antonio Neto, presidente da CGTB. A mensalidade cobrada dos sócios é de R$ 5 por mês.


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