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LUÍS NASSIF
O caso Brasif
Nas últimas décadas, todas as concessões que envolviam tarifas públicas foram
vendidas de forma onerosa.
Quando os serviços de água de
Manaus, ou as rodovias paulistas, ou os serviços de telefonia,
ou as concessionárias de energia
elétrica foram vendidas, venceu
quem pagou mais. E esse preço
foi embutido nas tarifas. O consumidor pagou pelo dinheiro
que as concessionárias pagaram
ao setor público.
Imagine se o ilustre concessionário recebesse de mão beijada
um poste de iluminação pública
emprestado, para poder explorar comercialmente, ou uma
ponte, ou mesmo uma concessão de rodovia, sem licitação,
sem nada desembolsar, e garantisse sua exploração por 30 anos
ininterruptos. Já seria um caso a
pensar. E se decidisse vender esses direitos?
Existem concessões públicas
que são exploradas pelo setor
privado. Agora se tem o primeiro caso em que a concessão pública é negociada por uma empresa privada como se fosse sua.
Ó o que está acontecendo com
a Brasif -a empresa de Uberaba que conseguiu o monopólio
dos "free shops" em todos os aeroportos brasileiros-, que planeja vender suas operações para
a Duty suíça pela módica quantia de US$ 500 milhões.
Qual o valor da Brasif? Seus
estoques, seguramente não, já
que são muito menos diversificados do que o de qualquer outro "free shop" conhecido. A
marca, muito menos.
O maior movimento da Brasif
é de viajantes que voltam do exterior com direito a comprar exclusivamente em suas lojas até
US$ 500 em mercadorias sem
impostos.
Em qualquer país sério, para
serem transferidas concessões
necessitam da aprovação das
autoridades reguladoras. Se for
concessão onerosa, pela qual o
concessionário pagou, haverá
um ressarcimento pelo prazo
que resta para vencer a concessão. Se é uma concessão entregue de mão beijada, há muito
tempo a Infraero já deveria ter
aberto processo de licitação e regularizado a situação.
Os US$ 500 milhões que a Brasif pretende receber pertencem
ao poder concedente. No caso
dos serviços essenciais, o poder
público cobra do concedente e
permite que ele repasse ao cliente. O habitante de Manaus é
obrigado a pagar um valor adicional na tarifa de saneamento,
porque a concessionária pagou
ao governo estadual pelo direito
de uso da concessão por prazo
determinado.
A Brasif ganhou a concessão
de presente e, agora, diz que pretende sair da área. Em vez de
devolver a concessão pela qual
nada pagou, vende o presente a
uma companhia suíça pela módica quantia de US$ 500 milhões. Não tem lógica.
E é bom que a Duty coloque as
barbas de molho antes de assinar o cheque. Em mãos menos
influentes que as que garantiam
a Brasif, essa concessão não terá
vida longa. A não ser que a Infraero já tenha assegurado a sua
perpetuidade.
Aí, só a CGU (Controladoria
Geral da União), o Tribunal de
Contas e o Ministério Público
para clarear a operação.
E-mail:
Luisnassif@uol.com.br
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