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PIRATARIA
Rede é suspeita de repassar mercadoria contrabandeada de empresário chinês, que também adulteraria validade
PF investiga elo entre Law e farmácias
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
A Polícia Federal investiga o envolvimento de redes de farmácia e
drogarias com a organização
montada pelo empresário Law
Kin Chong, apontado como o
principal contrabandista do Brasil, preso desde junho de 2004.
Revendedores de produtos farmacêuticos comercializaram produtos contrabandeados -importados sem autorização da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária)- e receberiam,
de uma empresa ligada à organização criminosa, produtos com
data de validade adulterada, segundo afirma o delegado Victor
Hugo Rodrigues Alves Ferreira,
da Divisão de Operações de Inteligência Especializada da PF.
"A farmácia comprava o produto e revendia ao consumidor.
Quando a validade estava vencida, devolvia a mercadoria a uma
empresa ligada ao grupo de Law.
Essa empresa, por sua vez, encarregava-se de adulterar a validade e
revender o produto a redes de farmácia e drogarias", disse o delegado. "Não temos conhecimento
ainda se as farmácias sabiam que
a validade dos produtos era adulterada", afirmou.
A Abrafarma (associação que
reúne 26 redes de farmácias e drogarias do país) e a ABCFarma (entidade que representa 55 mil revendedores do comércio farmacêutico) informaram não ter conhecimento do caso nem terem
sido procuradas pela PF. Por suas
assessorias, disseram que a responsabilidade, se houver, cabe
aos envolvidos no caso.
A empresa responsável pela
adulteração dos prazos de validade dos produtos vendidos às farmácias era a Elemis Actif do Brasil, que estava em nome de "laranjas" de Chong e de sua mulher Miriam Law, segundo a PF.
A Elemis atuou no mercado de
distribuição de perfumes, cosméticos e produtos de higiene pessoal durante oito anos, segundo
informações de sites. Foi fechada
em 2004, quando a PF descobriu
que a empresa funcionava no depósito de 30 mil m2 da rua do Bucolismo, no Brás, que era usado
para armazenar produtos falsificadas e contrabandeados.
Durante essa ação da PF, denominada Operação Capela, foram
apreendidas 141 mil caixas de produtos de beleza, com prazos adulterados. No local, 175 policiais e 30
servidores envolvidos no caso encontraram ainda 90 toneladas de
relógios, 18,5 milhões de CDs e
DVDs virgens, 11.384 pares de tênis, 4.676 bolsas femininas, 11 mil
peças de vestuário e 9.900 vasos
ornamentais. O valor estimado
dos produtos é de R$ 112 milhões.
Rolo compressor
Ontem, no depósito do Brás, foi
iniciada a destruição de parte do
material recolhido nas quatro
operações da PF para desmontar
a quadrilha de Chong -Shogun
(quando o empresário foi preso
acusado de tentar corromper Luiz
Medeiros, então presidente da
CPI da Pirataria), Capela e Netuno -as três feitas em 2004- e a
Crepúsculo (quando Miriam foi
presa), em dezembro de 2005.
A PF vai fechar uma parceria
com a Prefeitura de São Paulo para transportar esse material para
aterros da cidade e para que organizações que atuam com reciclagem possam reaproveitá-lo.
"A PF aumentou em 30 vezes o
número de ações para combater a
pirataria e o contrabando no país.
Enquanto houver demanda, terá
oferta. É preciso conscientizar a
população de que comprar um
produto pirata é financiar o crime
organizado", disse o ministro da
Justiça, Marcio Thomaz Bastos,
que participou, junto com o diretor-geral da PF, Paulo Lacerda.
Ao ser questionado pela Folha
sobre o fato de o Shopping 25 de
Março continuar vendendo produtos falsificados enquanto policiais destruíam o material apreendido, o ministro afirmou que as
ações da PF vão se intensificar:
"Haverá outras operações. Esse é
um trabalho que vai continuar.
Vamos reprimir duramente esse
comércio ilegal".
Na estimativa dos policiais, a repressão nesse shopping, que
ocorreu em dezembro passado,
diminuiu em pelo menos um terço a comercialização de produtos
irregulares na região. Informaram ainda que "a maior parte dos
boxes" está fechada. Durante o
Carnaval, entretanto, a Folha esteve no local e constatou que vários boxes foram reformados, outros ampliados e continuam vendendo os produtos.
O secretário-executivo do Ministério da Justiça e presidente do
Conselho Nacional de Combate à
Pirataria e Delitos contra a Propriedade Intelectual, Luiz Paulo
Barreto, disse que o governo vai
discutir com os empresários a
criação de produtos populares
para coibir a falsificação.
"A partir de abril, vamos fazer
reuniões para desenvolver esse
projeto. Pode haver incentivo fiscal para estimular produtos populares, com preços mais acessíveis." Na estimativa do conselho,
o país perde por ano US$ 36 bilhões com a pirataria.
A Folha não localizou ontem os
advogados de Chong e de Miriam.
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