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Commodities têm maior baixa em 52 anos
Preços de matérias-primas ainda estão nos níveis mais altos da história, mas recuo recente pode afetar diretamente o Brasil
Mercados têm dúvidas se o recuo histórico nos preços de commodities se deve a um ajuste pontual ou o fim de um ciclo de valorização
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
Os preços das commodities
tiveram sua maior desvalorização em uma única semana desde pelo menos 1956, com a possibilidade de redução no consumo global vinda com uma desaceleração no crescimento do
mundo. Um dos indicadores de
preço de matérias-primas mais
relevantes, o índice CRB da
Reuters/Jefferies caiu 8,3% da
sexta-feira da semana passada
até ontem. O indicador mede o
desempenho de uma cesta de
19 produtos, como petróleo, cobre, soja e milho, entre outros.
De todos os desdobramentos
da recente crise nos mercados,
o recuo no preço das commodities é o que mais prejudica o
Brasil, um dos maiores produtores de metais e de alimentos
do mundo. Tanto que a Bolsa
brasileira caiu 4,85% só nesta
semana, sendo que as ações ON
da Petrobras e da Vale, ambas
ligadas ao setor, caíram 11,43%
e de 10,47%, respectivamente.
Em trajetória de alta de preços desde 2001 devido à emergência do consumo na China, o
recuo dos produtos primários
nesta semana foi visto ontem
como resultado de uma necessidade pontual de caixa de
grandes fundos e bancos para
desmontarem operações de investimento com alavancadas
-com dinheiro emprestado.
Os mais pessimistas, porém,
viram sinais do que poderia ser
o início do "estouro da bolha"
das commodities, que comandou o crescimento do mundo
emergente desde o início da década, incluindo o Brasil.
"Se for só uma correção, passada essa necessidade [de caixa], o mercado pode melhorar e
rápido. Mas é difícil saber se é
só isso. A idéia de que a Ásia vai
continuar crescendo indefinidamente sofreu um baque nesta semana. Ela vai sentir os
efeitos da crise nos EUA. Ninguém sabe se é uma correção
ou se um problema mais grave", disse Vladimir Caramaschi, economista-chefe da corretora do banco Fator.
Para Marcelo Ribeiro, da
Pentágono Asset, o eventual
fim do ciclo de alta das commodities dependerá de uma piora
na economia chinesa, a mesma
que motivou a valorização dos
preços das matérias-primas. "A
inflação pode levar a um aumento nos juros na China. E isso pode esfriar o consumo e reduzir o preço de commodities."
No Brasil
No país, a grande pergunta é
até quanto o mercado continuará fazendo ajustes nos preços das commodities. O momento assusta, mas traz um novo aprendizado sobre os mecanismos de preços do mercado,
afirmam os especialistas. A soja, por exemplo, subiu US$ 14
por saca em seis meses, uma alta bem acima das previsões
mais otimistas. Mas apenas
neste mês já recuou US$ 7. A
forte alta ocorreu devido ao
atrativo que as commodities
trouxeram aos fundos de investimentos, que agora liquidam
posições no mercado futuro e
derrubam os preços.
A fuga dos fundos das commodities para cobrir buracos
em outros investimentos não
elimina o perigoso desequilíbrio entre oferta e demanda de
produtos que deve vigorar ao
longo deste ano.
Se de um lado a queda nos
preços das commodities exportáveis derruba o valor das receitas brasileiras com exportações, essa turbulência também
provoca uma valorização do
dólar no mercado interno. A valorização do dólar, base dos pagamentos das commodities,
pode compensar, em parte, a
queda atual dos preços.
As Bolsas de commodities estarão fechadas hoje, mas, se a
tendência de queda continuar,
o mercado viverá tensão ainda
maior. Os limites de baixa ou de
alta da soja na Bolsa de Chicago
-o quanto o produto pode subir ou cair em um dia- aumentará de 50 pontos para 70 pontos no final do mês. Ou seja, os
ganhos ou as perdas podem ser
ainda maiores nas operações.
As quedas foram mais acentuadas nos preços dos produtos
agrícolas, que perderam até
21% nesta semana em Nova
York, como foi o caso do cacau.
Café e açúcar tiveram perdas
superiores a 12%, enquanto o
algodão recuou 10%. O suco de
laranja teve perdas de 4%.
Já em Chicago, a liderança
nas quedas ficou com o trigo,
que caiu 15% na semana. Apesar da queda, os preços atuais
ainda superam em 113% os de
igual período de 2007. A soja
recuou 10%, pouco acima dos
9% do óleo de soja e dos 8% do
farelo de soja. O milho, um dos
propulsores desses aumentos
das commodities agrícolas nos
últimos meses, teve recuo de
7%, e os preços atuais só superam em 25% os de há um ano.
As commodities minerais
também tiveram quedas acentuadas na semana. Chumbo
(10,3%), zinco (9,3%), níquel
(8,3%) e alumínio (7,02%) estiveram entre as principais baixas. O ouro terminou a semana
com baixa de 7,9%. Já o petróleo recuou 7,6% em Nova York.
Com a Bloomberg e a Reuters
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