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Emergentes serão menos afetados, diz OCDE
Crescimento econômico e commodities não salvarão da crise países como o Brasil, mas impacto deve ser reduzido, afirma organização
OCDE espera crescimento "em torno de zero" nos EUA nos dois primeiros
trimestres do ano, mas evita falar em recessão
CÍNTIA CARDOSO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS
Um período "nefasto" é o
prognóstico da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico)
para a economia americana nos
próximos meses. Mas, pelo menos a princípio, a Europa e os
países emergentes devem sofrer um abalo menor.
Historicamente os primeiros
a serem atingidos por abalos na
economia americana, desta vez
os países emergentes parecem
estar menos vulneráveis, apesar de não estarem imunes.
"O desenvolvimento das economias dos emergentes, especialmente Brasil, China, África
do Sul e Índia, permitirá que
eles tenham um caminho mais
independente", disse à Folha
Colm Foy, do Centro de Desenvolvimento da OCDE.
O economista destaca dois
pontos fortes: "O crescimento
econômico e a alta dos preços
das commodities servem como
um colchão. Isso não deve salvar essas economias, mas ajuda
a protegê-las dos impactos negativos de problemas das economias dos países da OCDE,
especialmente os EUA".
Apesar do revés da disparada
do preço do barril de petróleo,
para muitos países em desenvolvimento, é justamente a
renda das exportações do produto que têm assegurado uma
certa blindagem dessas economias. Segundo Foy, quando investidores miram o cenário de
longo prazo, as economias
emergentes parecem bastante
atraentes. Por isso, é possível
esperar que investimentos
continuem apesar dos altos
preços dos petróleo.
"Hoje, há fonte variada de investimentos. A América Latina
já foi extremamente dependente dos EUA. Nos anos 90,
passou a ser mais dependente
da Europa. Hoje, há novos "players", como Índia e China, que
investem nesses países. Ao
mesmo tempo, vemos latino-americanos diversificarem
seus mercados de exportação."
No rol de fatores que contribuem para uma certa proteção
dos emergentes, está a atuação
dos fundos soberanos -os
SWFs (Sovereign Wealth
Funds), administrados por organismos estatais.
Os SFWs eram utilizados,
principalmente, por países exportadores de petróleo com reservas internacionais excedentes. Nos últimos anos, porém,
houve uma expansão do mercado de SFWs, que, estima-se,
movimentem US$ 2,5 trilhões.
Além do aumento da atuação
desses fundos, também cresceu o apetite pelo risco. Na carteira de investimentos dos fundos soberanos, cresce a importância de títulos de dívidas de
empresas, ações e de imóveis.
"Eles [fundos soberanos]
ainda preferem investir nas
economias desenvolvidas, mas
também investem nos emergentes e devem aumentar a exposição ao risco, porque o retorno é mais alto e porque é
mais fácil aplicar nos países
emergentes que nos da OCDE",
pondera Foy.
Países ricos em crise
Segundo o relatório preliminar sobre a saúde econômica
dos países ricos divulgado ontem em Paris, o PIB (Produto
Interno Bruto) dos EUA deve
crescer 1,4% neste ano, contra
2% projetados anteriormente.
Para o primeiro e o segundo
trimestres deste ano, a taxa deve ficar "em torno de zero, mas
não sabemos ainda se será positiva ou negativa", disse Jürgen
Elmeskov, economista-chefe
interino da OCDE.
A organização tem evitado
usar a palavra recessão para caracterizar a crise dos EUA. Em
passagem pela sede da OCDE
nesta semana, o diretor-gerente do FMI (Fundo Monetário
Internacional), Dominique
Strauss-Kahn, disse que o "ambiente econômico está se deteriorando", mas enfatizou que
não é hora de falar em recessão.
Os indicadores, porém, são
bastante ruins. O recuo do mercado imobiliário corrói um
ponto percentual do PIB americano e o estrago pode ser ainda maior, alerta a OCDE. O nível do consumo doméstico, a
locomotiva da economia dos
EUA, também esta em queda.
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