São Paulo, sexta-feira, 21 de março de 2008

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Crise assusta instituições financeiras na Europa

BCE põe 15 bi no mercado; Reino Unido convoca bancos

MARCELO NINIO
DE GENEBRA

As principais Bolsas européias voltaram a fechar em baixa ontem, em meio ao pessimismo alimentado por maus indicadores nos Estados Unidos, da queda nos preços das matérias-primas e de uma nova tentativa de bancos centrais de reduzir os efeitos da falta de liquidez na economia. O BC europeu injetou 15 bilhões no mercado, enquanto o presidente do Banco da Inglaterra reuniu as cinco principais instituições financeiras britânicas para discutir a crise.
Em mais um sinal de que as turbulências estão longe de acabar, o segundo maior banco da Suíça teve que rever para baixo sua receita no no ano passado e não prevê lucro no primeiro trimestre de 2008. O Credit Suisse justificou o desempenho bem pior que o esperado afirmando que o mês de março está sendo "muito difícil", e que o mercado opera sob "tremendo estresse". Mas acusou também a "má conduta" de alguns operadores do banco.
As Bolsas européias atravessaram o dia entre sobressaltos, para fechar com perdas moderadas. Quedas em Londres (-0,91%), em Frankfurt (-0,65%) e em Paris (-0,49%) marcaram os pregões.
Num gesto que casou surpresa e foi interpretado entre analistas como um esforço para garantir uma Páscoa sem tanto nervosismo, o Banco Central Europeu anunciou na véspera do feriado a injeção de 15 bilhões no mercado, para a facilitar a vida de bancos carentes de liquidez.

Reunião
Em Londres, o presidente do Banco da Inglaterra se reuniu com os presidentes dos cinco maiores bancos britânicos -Royal Bank of Scotland, Lloyds TSB, HSBC, Barclays e HBOS- para discutir o que pode ser feito vitaminar o mercado de crédito. Na segunda-feira o BC britânico já anunciara a injeção de 5 bilhões de libras (cerca de R$ 17,1 bilhões) no mercado.
Os banqueiros britânicos há muito pedem que os Bancos Centrais aceitem mais tipos de garantias para empréstimos, o que permitiria que fossem usados investimentos de valor questionável. O BC britânico resiste, afirmando que os contribuintes não deveriam ter que pagar pelos riscos que os banqueiros assumem voluntariamente.
Diante desse quadro de incerteza, o Credit Suisse afirmou ontem que deverá concluir um trimestre com perdas pela primeira vez desde 2003, devido às condições do mercado e à "má conduta intencional" de alguns operadores.
Em um comunicado distribuído ontem, o banco suíço baixou de US$ 1,32 bilhão para US$ 540 milhões (R$ 918 milhões) o lucro do último trimestre de 2007. Com isso, a previsão de lucro para o ano passado caiu de US$ 8,5 bilhões, para US$ 7,76 bilhões (R$ 13,1 bilhões). O banco já havia informado que teria de baixar sua previsão de lucro porque o valor de algumas de suas aplicações havia sido inflado.
Uma auditoria interna revelou, de acordo com o banco, que "a má conduta de um pequeno grupo de traders" estava por trás do erro. Brady Dougan, presidente do Credit Suisse, disse que os funcionários envolvidos haviam sido demitidos ou suspensos.
O Credit Suisse não foi a única vítima européia a sangrar ontem com os efeitos da crise norte-americana. O alemão IKB Deutsche Industriebank, informou prejuízos em posições atreladas ao mercado hipotecário dos Estados Unidos, e calculou que perderá cerca de US$ 1,6 bilhão (R$ 2,7 bilhões) neste ano.


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