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China atrai alta tecnologia americana
Com expansão acelerada da economia asiática, empresas querem seus pesquisadores mais perto das fábricas e dos consumidores
Apropriação de tecnologia é um dos desafios que as empresas norte-americanas que se mudaram para a China têm pela frente
KEITH BRADSHER
DO "NEW YORK TIMES"
Por muitos anos, alguns dos
melhores cérebros da China
deixaram o país em troca dos
Estados Unidos, onde o setor
de alta tecnologia era mais
avançado. Mas Mark Pinto está
fazendo o percurso oposto.
Pinto é o primeiro vice-presidente de tecnologia de uma
grande empresa americana do
setor a se transferir para a China. A empresa, Applied Materials, é uma das mais proeminentes do Vale do Silício. Forneceu equipamentos usados
para aperfeiçoar os primeiros
chips de computadores. Hoje, é
a maior fornecedora mundial
de equipamentos empregados
para produzir semicondutores,
painéis solares e telas planas
para TVs e monitores.
Além de transferir Pinto e
sua família a Pequim, a Applied
Materials, que tem sede na Califórnia, acaba de construir
seus mais novos e maiores laboratórios de pesquisa lá.
E não está sozinha. Empresas -e seus engenheiros- estão sendo atraídas em número
cada vez maior à China, à medida que o país desenvolve uma
economia de alta tecnologia
que concorre diretamente com
a dos Estados Unidos.
Algumas poucas empresas
americanas estão até mesmo
fechando acordos com chinesas para licenciar tecnologia
desenvolvida no país asiático.
Mercado em expansão
O mercado chinês de eletricidade, automóveis e muitos outros segmentos está em alta, e
as empresas têm chegado à
conclusão de que seus pesquisadores precisam estar perto
das fábricas e dos consumidores. A Applied Materials instalou seus mais recentes laboratórios de pesquisa solar na China, estimando que o país deve
responder por dois terços da
produção mundial de painéis
solares até o final deste ano.
"Não é que estejamos desistindo dos EUA, obviamente",
disse Pinto. "A China precisa de
mais eletricidade. É só isso."
A China se tornou o maior
mercado mundial de automóveis, e a GM tem um grande, e
em expansão, centro de pesquisa automobilística em Xangai.
O país também representa o
maior mercado mundial de PCs
e tem o maior número de usuários de internet. A Intel abriu
laboratórios de pesquisa sobre
semicondutores e redes de servidores, em Pequim.
Política de subsídios
Atraídas não só pelos mercados chineses, as empresas ocidentais também se interessam
pelas grandes reservas de engenheiros altamente capacitados
e de baixo custo que o país oferece -e pelos subsídios que
muitas cidades e regiões chinesas propiciam, especialmente
ao setor de energia verde.
Pequenas empresas de energia limpa também estão a caminho da China.
A NatCore Technology, de
Nova Jersey, recentemente
descobriu um modo de tornar
os painéis solares muito mais
finos, reduzindo a energia e os
materiais tóxicos requeridos
para fabricá-los. As companhias norte-americanas não se
interessaram nem mesmo em
observar a tecnologia e, por isso, a NatCore fechou acordo
com um consórcio de empresas
chinesas para concluir o desenvolvimento de sua invenção e
colocá-la em produção no país.
"Esses outros países -China,
Taiwan, Brasil- estavam muito interessados em nosso sistema", disse Chuck Provini, presidente-executivo da NatCore.
O presidente Barack Obama
faz frequentes referências a
criar nos Estados Unidos empregos no setor de energia limpa. Mas a China é que demonstrou a vontade política necessária a fazê-lo, disse Pinto
O governo municipal de
Xi'an cedeu em comodato por
75 anos um terreno à Applied
Materials, com grande desconto ante o valor de mercado, e
reembolsará à empresa cerca
de 25% dos custos operacionais
do complexo por cinco anos.
Os dois laboratórios, os primeiros de sua espécie no mundo, têm cada qual tamanho superior a 200 metros. A Applied
Materials continua a desenvolver os sistemas eletrônicos básicos de suas complexas máquinas em laboratórios nos Estados Unidos e Europa. Mas
montar todas as máquinas em
sistemas integrados e descobrir
como processos que permita
que trabalhem juntas é tarefa
que será realizada em Xi'an.
Roubo de tecnologia
A Applied Materials tem desafios maiores pela frente, entre os quais o combate ao roubo
de tecnologia, problema crônico na China.
A companhia tomou medidas
que incluem selar as portas de
seus computadores, a fim de
prevenir o uso fácil de "flash
drives" para gravar dados.
Os funcionários não podem
tirar computadores do complexo sem autorização especial, e
um sistema elaborado de senhas para as máquinas e portas
limita o acesso a certos segredos tecnológicos.
Mas nada disso altera a sensação de que existe uma mudança tectônica em curso.
Quando Xie Lina, 26, engenheira da Applied Materials em
Xi'an, foi perguntada recentemente se a China teria papel
importante a desempenhar no
futuro da energia verde, a pergunta a surpreendeu. "A maioria dos estudantes de pós-graduação da China está se concentrando nessa área. É claro
que a China liderará em tudo."
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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