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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
Autocrítica de técnicos do FMI não inclui juros
GILSON SCHWARTZ
da Equipe de Articulistas
O "day after" da desvalorização
do real está confirmando uma das
teses defendidas por economistas
que condenavam a âncora cambial: com recessão e sem indexação, o impacto inflacionário é relativamente baixo e dificilmente escapará ao controle.
Há outros sinais positivos: o
Banco Central passou a interferir
no mercado financeiro, pautando
a queda do dólar; há sinais de recuperação do crédito externo; os brasileiros podem repatriar suas poupanças pagando menos impostos.
Falta a prova dos noves: começar a
reduzir as taxas de juros.
Se depender da equipe técnica do
FMI (Fundo Monetário Internacional), é melhor esperar sentado.
Uma alentada avaliação preliminar da experiência do Fundo na Indonésia, na Coréia do Sul e na Tailândia volta a defender o uso de juros altos para superar as crises.
Uma cópia preliminar do estudo
("IMF-supported programs in Indonesia, Korea and Thailand: a
preliminary assessment") está disponível no site do FMI (http://
www.imf.org).
²
Autocrítica
O relatório tem boa dose de autocrítica, em especial do viés macroeconômico do FMI.
Os autores reconhecem que, diferentemente de crises tradicionais, no Sudeste Asiático o problema não era de desequilíbrio nas
contas públicas ou mesmo de crise
nas contas externas.
A raiz da crise foi um desarranjo
no sistema financeiro, provocado
em parte pela liberalização mal feita, em parte pela falta de informação entre os próprios investidores
até então entusiasmados com o
"milagre asiático".
Ou seja, acostumado a ver tudo
pela ótica macroeconômica, o FMI
teve de enfrentar problemas em nível microeconômico.
Os ciclos de pessimismo e fuga
de capitais foram provocados e
agravados pela falta de regulação e
supervisão adequada por parte dos
bancos centrais da região.
O FMI também tem culpa no cartório, segundo seus técnicos: pois
demorou a perceber a natureza do
problema e a prática burocrática
de liberar fundos de emergência
em ritmo de conta-gotas só piorou
as coisas.
Além da autocrítica, a equipe do
Fundo reclama da inexistência de
mecanismos para forçar os bancos
privados a assumir parte dos custos do ajuste. A busca de instrumentos que atendam a essa exigência é vista como tarefa urgente,
antes da próxima crise.
A questão dos juros, entretanto,
fica fora da autocrítica, mesmo reconhecendo que em situações de
fragilidade bancária é perigoso colocar os juros em níveis altos demais (a inadimplência apenas torna mais ampla a quebradeira de
empresas e bancos).
²
Sem indicadores
Entre os argumentos em favor de
juros altos está o reconhecimento
pragmático de que, em situações
de crise financeira, simplesmente
não há indicadores monetários
confiáveis.
Para o Brasil, as conclusões desses técnicos têm ainda outra consequência desagradável.
Afinal, eles concedem que apenas em condições de alta fragilidade bancária e empresarial é aceitável questionar a política de juros
altos.
É possível que, observando a
economia brasileira, eles vejam
uma situação mais próxima do enfoque tradicional do FMI (desequilíbrios macroeconômicos, com
risco quase nulo de colapso do sistema financeiro).
Nesse contexto, o mais provável
é que eles se oponham a uma redução mais rápida dos juros, mesmo
que a inflação caia, as reservas subam e o crédito externo comece a
voltar.
Já para quem não comunga no
credo econômico do FMI, isso tem
outro nome: puro sadismo.
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