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OPINIÃO ECONÔMICA
A nova agricultura
MAILSON DA NÓBREGA
A agricultura brasileira foi
quem mais sofreu o impacto da
crise fiscal do Estado. Isso porque sua base de apoio oficial,
um primitivo esquema de subsídios creditícios, começou a se esboroar em meados da década de
70 até falir totalmente na década de 80.
Por suas características, a
agricultura precisa do apoio do
Estado. Nos países desenvolvidos, o arsenal inclui medidas
protecionistas e de defesa de preços, investimentos em pesquisa,
gastos em extensão rural e ensino e, limitadamente, subsídios
ao crédito.
Os países da OCDE (Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico) gastaram,
em 1998, US$ 360 bilhões em
programas rurais. Nos EUA, foram US$ 15 bilhões de ajuda de
emergência nos últimos dois
anos, menos de 0,5% dos gastos
federais, mas um indicador do
prestígio político do setor.
Líderes e analistas brasileiros
requerem o mesmo tratamento,
o que é mais do que justo. O problema é que costumam confundir subsídio à agricultura com
crédito subsidiado.
Por isso, previram que a falência do crédito rural oficial traria
a catástrofe. Ao contrário, a safra de grãos passou de 51 milhões de toneladas em 1980 para
71 milhões em 1989. Hoje, passa
de 80 milhões de toneladas, uma
expansão de mais de 60% no período.
Os agricultores aumentaram a
preocupação com a qualidade e
os custos. Houve elevação expressiva da produtividade da
mão-de-obra. O pessoal ocupado diminuiu 23% entre 1985 e
1996, enquanto o produto agregado cresceu 30%.
A produtividade da terra cresceu sistematicamente de 1987 a
1998, à média anual de 1,85%.
Causas: uso mais intenso da terra no período, maior utilização
da tecnologia desenvolvida pela
Embrapa e intensa profissionalização da agricultura.
O fim da generosidade do crédito subsidiado que em muitos
casos promovia e disfarçava a
ineficiência tem sua parcela de
responsabilidade nessas mudanças.
A abertura da economia também favoreceu a agricultura,
que passou a ter acesso a insumos, máquinas e equipamentos
importados de menor preço e
maior qualidade, alterando os
termos de troca em seu favor.
Estudos do professor Guilherme da Silva Dias indicam que a
abertura contribuiu para aumentar os preços dos produtos
em relação aos insumos e possibilitou a sua mais ampla importação e exportação.
A falência do sistema de crédito oficial aproximou mais a
agricultura dos outros segmentos do agribusiness. A agroindústria, a rede de varejo e os fornecedores de insumos se tornaram fontes importantes de financiamento, ainda que com
imperfeições.
A Cédula do Produto Rural
(CPR), criada em 1994, é outra
boa novidade. A evolução dos
investidores institucionais e do
mercado de capitais poderá
transformar a CPR e outros títulos em instrumentos de financiamento amplo e relativamente
barato ao setor.
A agricultura brasileira tende
a se beneficiar da atual onda de
inovações nos países industrializados, derivada da tecnologia
da informação, da biotecnologia
e da Internet.
O uso combinado de satélites,
mapas digitais e computadores
já permite associar, com precisão, análise de solos e cálculo de
nutrientes. Custos são reduzidos, racionaliza-se o uso da terra e se protege melhor o meio
ambiente.
Na biotecnologia, as sementes
geneticamente modificadas
(GM) podem constituir a base
para uma nova revolução verde.
Ainda há muitas dúvidas sobre
seus efeitos em seres humanos,
mas dificilmente essa técnica será abandonada.
Apesar das resistências, as GM
continuam ganhando terreno.
Ano passado, foram responsáveis por 33% da produção de milho e 55% da de algodão, nos
EUA, e por 90% da colheita de
soja na Argentina. Safras transgênicas tendem a dominar o futuro da agricultura. Variações,
como arroz com vitamina A, serão comuns.
A Internet na agricultura já é
uma realidade. A rede fornece
notícias, consultoria e instrumentos para gestão de riscos.
Nos países desenvolvidos, leilões
eletrônicos já funcionam para
comprar e vender produtos e insumos.
Há um novo termo na praça,
"agr-e-business". Calcula-se que
nos próximos três anos as transações pela Internet relacionadas com a agricultura alcancem
US$ 400 bilhões.
Estamos, pois, diante de uma
"nova agricultura". Ela já está
chegando ao Brasil pelas mãos
da Embrapa, da Internet e de
um moderno agribusiness. Já se
vê áreas da agricultura utilizando satélites e outras técnicas
avançadas.
Ainda há sérios problemas, como o perverso sistema tributário, os juros altos e um insatisfatório sistema de crédito rural. Os
sinais são, entretanto, encorajadores. Podemos assistir a um
salto de produção e de qualidade nos próximos anos.
Mailson da Nóbrega, 57, ex-ministro da
Fazenda (governo José Sarney), sócio da
Tendências Consultoria Integrada, escreve
às sextas-feiras nesta coluna.
E-mail: mailson@palavra.inf.br
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